Uma conjugação de factores avulsos, uma superstição e uma memória ainda viva. A crença é grande, João Loureiro assume-a e sorri, crente num feito grandioso, numa conquista inolvidável que faça Itália inteira reabrir a boca de espanto à passagem do mesmo Boavista que já gargalhou com vitórias sobre o Inter e a Lázio. 

A última vez que o Boavista esteve em Roma foi para eliminar a Lázio, mas os jogadores limitam-se a sorrir, deixando que a timidez se pinte com os tons de confiança que a contribuição divina virá autorizar. «Ainda tenho uma fezinha», graceja o presidente, na véspera da recepção no Vaticano e da curta troca de impressões com João Paulo II. Amanhã, às 10 horas locais, uma comitiva boavisteira percorrerá alguns dos caminhos mais desejados da fé até chegar ao líder dos católicos, a quem entregarão uma camisola de padrão xadrêz que já não espanta como antigamente, uma bola autografada e uma estatueta do símbolo do clube, a pantera, felina e decidida. «Pode ser que o Papa nos dê a sua benção», espera João Loureiro. 

A audiência foi solicitada por Júlio Carrara, dirigente do Boavista para a juventude e pároco da Igreja de Nossa Senhora da Boavista. Um italiano, natural de Bérgamo, rendido à Invicta e ao clube vizinho da sua paróquia que adoptou como seu. E por falar em coincidências ou matérias que escapam à percepção humana, fica mais um registo. O Atalanta, o clube da cidade do padre Carrara, eliminou a Roma da Taça de Itália aos primeiros pontapés da época. Só dá para acreditar...