O Bordéus está em crise desde o final do mês de janeiro, com apenas duas vitórias nos últimos oito jogos. O adversário europeu do Benfica soma mesmo quatro derrotas consecutivas na Liga francesa. É, pelo menos nesta altura, um opositor menos exigente do que o Bayer Leverkusen, embora se saiba que no futebol não há vencedores antecipados.

A equipa de Francis Gillot ressentiu-se claramente da saída, em janeiro, das duas principais referências ofensivas: sobretudo Gouffran (que tinha 12 golos quando saiu para o Newcastle), mas também Jussiê (5 tentos antes de ser cedido ao Al Wasl).

A formação francesa, que sente-se mais confortável a sair em transição, perdeu quase por completo a capacidade ofensiva. As alternativas não estão à altura: Bellion é mais segundo avançado e pouco goleador, enquanto que Rolán, promissor uruguaio de apenas 19 anos, está ainda a adaptar-se à Europa, onde chegou em janeiro. Há ainda Diabaté, que vai falhar a primeira mão devido a uma gripe. A sua elevada estatutura impõe respeito na área mas não combinam bem com o estilo da equipa, pouco dada a encostar o adversário às cordas.

O Bordéus é o quarto pior ataque da «Ligue 1», o que atesta as dificuldades nesta vertente. Os lances de bola parada têm ajudado a contornar o problema, já que foi dessa forma que alcançou um terço dos golos. Destaque maior para os cantos, que geraram nove golos. O perigo vem sobretudo de Henrique, Sané, Diabaté e Saivet (embora este último, que também falha o primeiro duelo devido a lesão, até nem seja muito alto). [imagem A]

Refira-se, no entanto, que o peso das bolas paradas é ainda superior na vertente defensiva [imagem B]. Foi assim que o Bordéus sofreu 39 por cento dos golos (15 em 38!). O resto da equipa não é muito alta, e três golos de livre direto deixam também a ideia de alguma fragilidade do guarda-redes Carrasso nesse aspeto.

A tentativa de ganhar solidez com três centrais

O Bordéus joga sobretudo em 4x2x3x1 ou 4x1x4x1, mas fora recorre algumas vezes a um esquema de três centrais. Henrique, Planus, Marange e Sané são as opções, sendo que é a polivalência deste último que fomenta esta alternativa. A sua capacidade física parece, no entanto, mais útil como «6».

É uma alternativa cada vez menos utilizada, mas possível para a Luz. Tira partido de laterais ofensivos como Mariano e Tremóulinas. Dois jogadores com boa capacidade técnica (sobretudo o segundo, esquerdino), mas que também deixam muito espaço nas costas. Refira-se que Mariano tem estado lesionado e o seu lugar entregue a Faubert, que regressou ao clube em janeiro, após passagens pouco felizes por West Ham, Real Madrid e Elazigspor.

O Bordéus tem mostrado enorme fragilidade defensiva. As primeiras linhas fazem pouca ou nenhuma pressão e dão muito espaço entre linhas, o que permite ao adversário chegar com relativa facilidade junto do setor mais recuado, que também não se tem mostrado muito coeso. O fora de jogo tem sido mal trabalhado [imagem C] e os centrais são demasiado lentos para o espaço que é deixado, para além de que há uma tendência para manterem a marcação mesmo quando o adversário recua ligeiramente, abrindo espaço para a entrada de jogadores a partir de trás [imagem D].

À frente de Sané (ou Sertic) é habitual ver Plasil e Obraniak, os jogadores mais influentes do meio-campo. Sobretudo o segundo, que mexe-se pouco mas tem um pé esquerdo fabuloso. É perigoso a cruzar e nos livres, mas também nos passes de rutura e nos remates, sobretudo quando faz o movimento da direita para o centro (por vezes joga a partir do flanco).

Nas alas falta alguma acutilância, embora isso seja dificultado pela necessidade de procurar espaços interiores e deixar o corredor para as constantes subidas dos laterais. Saivet é perigoso mas Ben Khalfallah é mais um jogador de equilíbrio, e Maurice-Belay é pouco agressivo (com e sem bola). Tremóulinas sobe algumas vezes para o lado esquerdo do meio-campo, com Marange ou Poundjé nas costas.