Esta foi a vitória de José Mourinho, como teria sido a derrota de José Mourinho se as coisas tivessem saído ao contrário (já agora, para simplificar, diga-se que esta segunda hipótese nunca esteve perto de concretizar-se, no Barcelona-Real Madrid deste sábado).

Mourinho estava no centro deste jogo.

Porque normalmente ele está sempre no centro. Coloca-se lá, vive bem assim, tem conseguido ganhar assim, em diferentes ligas.

Nos últimos tempos, dois factos reforçaram esta centralidade de Mourinho: os pontos que o Real tinha de avanço e entretanto perdeu (coisa rara, o português perder o controlo das coisas) e o silêncio pesado que o treinador decretou.

Esta noite, Mourinho começou a ganhar quando escolheu o «onze». Primeiro porque lá estava Coentrão, o lateral que foi atacado de forma brutal depois de Munique. A seguir porque se viam apenas dois médios defensivos. Por último porque havia muita gente de ataque. Curiosamente, mais do que no lado catalão.

Não sei se Guardiola esperava outra coisa, a verdade é que as apostas de Mourinho saíram todas certas. E as de Guardiola foram ineficazes. Tello, antes de todos, mas também Thiago e a defesa, que sem Piqué ficou ainda mais frágil nas bolas altas.

A forma como se posicionou foi a chave do sucesso do Real Madrid.

Mas também surgiram exibições individuais brilhantes. Coentrão teve a melhor noite no Real. Pepe foi monstruoso, mas agora de uma forma que merece ser recordada. Apareceram também Khedira, Ozil e sobretudo Benzema, talvez a mais brilhante «obra» de Mourinho nestes dois anos. O francês passou de talento que talvez se perca a ponta-de-lança de equipa, com alma, eficácia e disponibilidade para todo o serviço.

Além de Mourinho, este seria sempre, também, o jogo de Ronaldo. Porque do outro lado estava Messi. Depois de ter decidido uma final da Taça do Rei, o português esclareceu algo muito mais importante. A Liga, sim, mas também o complexo que há largos meses incomodava Madrid, essa ideia perigosa de que em Espanha existia um clube maior do que todos os outros, quem sabe imbatível, mágico. E não habitava a capital. Essa ideia não terá morrido. Mas foi abalada.

Por tudo isto, a vitória deste sábado tem um enorme sabor português e a nova expressão que enche as redes sociais é um justo prémio para José Mourinho: CAMP MOU. Sim, foi.