Nesta quarta-feira as atenções do mundo do futebol estiveram voltadas para Madrid, a ver quem se juntava ao Barcelona na final do próximo 6 de junho. Mas, enquanto isso, em Berlim, palco da grande decisão - e bem mais longe das atenções mediáticas – duas outras equipas ultimavam preparativos para «a outra» final: FFC Frankfurt e PSG discutem nesta quinta-feira o cetro europeu do futebol feminino.

Nos últimos anos, a final tem sido agendada para a mesma cidade que acolhe a final masculina, com dois dias de antecedência. Mas, desta vez, o troféu será decidido mais cedo do que o habitual, por uma boa causa: a 6 de junho, data da final masculina, arranca o campeonato do Mundo, no Canadá, onde várias destas jogadoras devem marcar presença.

Se por acaso não esteve atento à empolgante final do ano passado, em pleno estádio do Restelo – o Wolfsburgo venceu o Tyreso (4-3) com reviravoltas no marcador e 11 mil espectadores nas bancadas – deixamos-lhe algumas curiosidades e outras tantas razões para estar atento ao jogo desta tarde no estádio Friedrich-Ludwig-Jahn-Sportpark, com capacidade para 20 mil espectadores (17 horas, com transmissão no Eurosport).


O palco da final, em Berlim

Na sequência do sucesso que foi a final do Restelo, contribuindo para reforçar o perfil do futebol feminino em Portugal, este foi ano em que uma equipa portuguesa, o Ouriense, chegou pela primeira vez à fase eliminatória. Caiu nos 16 avos de final, diante das dinamarquesas do Fortuna Hjorring, depois de vencer o grupo preliminar com as belgas do Standard, as israelitas do Asa Tel Aviv e as galesas do Cardiff Met.


Ouriense: nunca uma equipa portuguesa tinha chegado tão longe

Daí em diante, a competição trouxe algumas surpresas. Na verdade, a surpresa estende-se aos próprios nomes das finalistas, já que no início da competição nem Frankfurt nem PSG eram apontadas como favoritas à vitória na competição. Na final desta quinta-feira, o Frankfurt faz figura de favorito, quanto mais não seja pelo histórico – além de um recorde de nove títulos nacionais, foi três vezes campeão da Europa: logo no ano de estreia, em 2002, e depois em 2006 e 2008. Com mais duas finais perdidas, é seu o maior contributo para o enorme domínio das equipas alemãs na modalidade: oito títulos conquistados em treze edições, e apenas um ano de ausência germânica na final, em 2007.

Do outro lado está um estreante PSG que, tal como a equipa masculina, beneficiou da injeção de capital com a chegada do qatari Nasser Al-Khelaifi aos comandos do clube, em 2011. Embora nunca tenha conquistado mais do que uma Taça de França, em 2010, o PSG tem vindo a investir em força: tem atualmente onze profissionais estrangeiras, com seis nacionalidades representadas, num plantel de 23 jogadoras. E só no último defeso garantiu as contratações da média sueca Caroline Seger, e das internacionais alemãs Josephine Henning (defesa), Ann-Katrin Berger (guarda-redes) e Fatmire Alushi (média).

Seger, suspensa por acumulação de amarelos, será uma das grandes ausentes da final, gorando-se assim o reencontro com a estrela espanhola Veronica Boquete (Frankfurt), que na época passada era sua colega de equipa no Tyreso. A outra baixa confirmada é da centrocampista Kheira Hamraoui. Já as alemãs Henning e Alushi - que chegam a Berlim com problemas físicos e vão estar em dúvida até à hora do jogo - em caso de vitória, podem sagrar-se campeãs da Europa pelo terceiro clube diferente, depois de erguerem o troféu com Potsdam e Wolfsburgo, no primeiro caso, e Duisburgo e Potsdam, no segundo. Para Henning, esta poderá ser a quarta conquista do «caneco» continental, um recorde que passaria a partilhar com as suas compatriotas Conny Pohlers e Viola Odebrecht.

O PSG é treinado por Farid Benstiti, que ao serviço do Lyon já perdeu uma final da Champions para uma equipa alemã, o Potsdam, em 2010. A eliminação do favorito Wolfsburgo, campeão em título, na meia-final desta edição, foi um sinal de que os ventos podem estar a mudar. Do outro lado estará um técnico inglês, Colin Bell que, com 53 anos, tem nesta final o ponto mais alto de uma carreira discreta, quer como jogador quer como treinador.

Com uma base menos estrangeira do que o PSG - além de Boquete, só a suíça Crnogorcevic e a japonesa Ando e a galesa Fishlock dão um toque cosmopolita a uma equipa que tem na «matadora» Celia Sasic (13 golos nesta edição da Champions e mais de 100 jogos pela seleção alemã) uma das maiores figuras. A dois dias da final, Sasic anunciou que não pretende renovar o contrato que termina neste verão, dando a entender que já terá outro destino escolhido - vários rumores apontam a existência de um pré-acordo com o PSG, o que não será propriamente a forma mais pacífica de preparar a final.

Já outra estrela da companhia, Veronica Boquete, que estava em dúvida devido a um toque no tornozelo, treinou sem limitações e manifestou-se disposta a «jogar com uma perna só». A avaliar pela sua conta de twitter, a espanhola foi dormir sem angústias, disposta a desforrar-se da deceção da época passada: