Leonid Petrov é a maior referência académica nos estudos sobre a Coreia do Norte. Vários parceiros referem o seu nome quando alguém solicita uma visão mais profunda sobre o regime de Pyongyang.

Em entrevista ao Maisfutebol, o professor de Estudos Coreanos da Universidade de Sidney (Austrália) relata várias visitas à Coreia de Norte, reconhece as fortes restrições de movimentos impostas aos turistas e chega a comparar esta realidade com outra bem popular: «A Coreia do Norte parece-me um pesadelo bem pior que a União Soviética».

Formado em História e Língua da Coreia, pela Universidade Estatal de S. Petersburg (1994), o Dr. Leonid Petrov obteve uma pós-graduação em História, com estudos especializados sobre a Coreia do Norte. Deu aulas na Coreia do Sul, nos Estados Unidos da América e em Paris, alimentando um blog sobre a realidade que cativou a sua atenção (www.korea-vision.com).

Como desenvolveu o seu interesse pela Coreia do Norte?

«Eu nasci na União Soviética, antes da Perestroika, quando a Economia mal funcionava e a liberdade política era uma mera utopia. Cresci a acreditar que todos os outros viveriam melhor que nós. Contudo, quando comecei a ouvir as histórias sobre a Coreia do Norte, pareceu-me um pesadelo bem pior que a União Soviética. Fiquei curioso e tentei aprender o máximo sobre esse país eremita. Acabei por entrar para o Departamento de Estudos Coreanos da Universidade Estatal de S. Petersburgo.»

Quantas vezes visitou a Coreia do Norte?

«Visitei a Coreia do Norte em 1999, 2004, 2005, 2007 e já este ano, em 2009»

Nessas viagens, sentiu várias limitações, como ter de deixar o seu telemóvel na fronteira?

«Sim, todos os visitantes estrangeiros têm de deixar o seu telemóvel na fronteira. O telemóvel, o GPS e qualquer outro tipo de aparelho com comunicação por satélite. Se as autoridades assim o exigirem, também temos de deixar todo o material impresso, como jornais, revistas ou livros. Depois, ao deixar o país, o material é devolvido.»

Que retrato pinta sobre a Coreia do Norte, após essas visitas?

«A Coreia do Norte está numa situação semelhante à da União Soviética sob o comando de Estaline, entre 1930 e 1950. O estado distribui alimentos e outros géneros pela população, entregando mais a alguns grupos que demonstrem mais lealdade pelo regime. As liberdades pessoais e políticas são severamente truncadas, transformando todo o país num reino semi-feudal em que tudo e todos pertencem a apenas uma pessoa: o Querido Líder»

Pensa que a unificação das duas Coreias é possível?

«Os coreanos do Norte e do Sul sonham com a unificação. Contudo, eles conhecem muito pouco uns sobre os outros e não imaginam quão difícil seria esse processo, após 60 anos de separação completa. Nesta altura, os líderes dos dois país não consideram que a unificação seja uma opção viável. Para a Coreia do Sul, seria demasiado dispendioso. Para a Coreia do Norte, seria demasiado humilhante.»

A situação nuclear na Coreia do Norte é uma grande preocupação Mundial. Pelo que estudou e estuda, pensa que a ameaça é real?

«Não. Não acredito que a Coreia do Norte tenha realmente armas nucleares com capacidade para atingir um alvo. Anteriormente, eles fizeram dois testes que falharam ou eram falsos. Os testes de mísseis balísticos também não foram muito bem sucedidos. Por tudo isto, concluo que Pyongyang não tem uma bomba nuclear activa que consiga lançar com algum género de lançador de mísseis. Mas, face a políticas regionais que operam sob a convicção de que a Guerra Coreana de 1950 ainda não acabou, as ambições e garantias da Coreia do Norte em relação à posse de armas nucleares servem como factor de desestabilização. Isto pode originar uma corrida nuclear entre a Coreia do Sul, Japão e Taiwan, agravando as relações entre China, Estados Unidos e Rússia...»