Com 28 anos e um palmarés invejável, Cristiano Ronaldo irá ficar, sem dúvida alguma, na história do futebol como um dos melhores e mais completos jogadores de sempre. Mas como em tudo na vida, ninguém nasce ensinado e Cristiano não fugiu à regra.

O talento, esse está e sempre esteve lá, mas a forma como foi aproveitado e desenvolvido foi a chave que permitiu a Ronaldo ser, em todas as equipas por que passou, «o jogador» de referência e não apenas mais um entre outros. Em 2003, com apenas 18 anos, Ronaldo chegou a Manchester, sendo considerado uma das maiores promessas do futebol mundial. Mas só na época 2007/08 é que a promessa passou a confirmação, com Ronaldo a ganhar tudo aquilo que um jogador ambiciona conquistar um dia. Para isso muito serviu o apoio de Rene Meulensteen, na altura adjunto do United, que trabalhou arduamente com Cristiano.

Em entrevista ao diário inglês The Telegraph, Meulensteen conta como trabalhou e moldou Ronaldo com o objetivo de retirar o melhor do português. «Naquela temporada em que ganhámos a Liga dos Campeões (2007/08), no início, o Ronaldo estava suspenso por três jogos, portanto fiquei para trás, a trabalhar com ele», disse Rene, destacando a importância da figura paternal do treinador (Alex Ferguson) no crescimento do jogador.

Inicialmente, o adjunto traçou um diagrama que distinguia quatro pontos: tática, físico, personalidade e técnica. «Perguntei ao Ronaldo: Qual é o teu ponto forte? E ele disse: Técnica», disse Meulensteen. Ronaldo era realmente um jogador bastante imprevisível, que dava bastante trabalho aos defesas.

Então Rene, de início, preocupou-se com a atitude e tomada de decisão do português. «Neste momento, estás a jogar para te evidenciares, como quem diz ¿olhem para mim, vejam como sou bom¿. Quero que marques mais golos», disse Meulensteen, que queria que o português fosse letal e objetivo.

Deram então início ao treino de finalização, treinando golos de várias posições, de vários cenários, de cabeça, de longe, remates de primeira, tornando o português num jogador mais completo, para que pudesse ajudar a equipa com os seus golos, mesmo que nem todos fossem bonitos como Ronaldo queria. Depois de 23 golos na época anterior, no fim de janeiro, Cristiano já levava 27 golos pelo ManUtd e ainda faltava metade da época: «Podes fazer duas coisas: podes tirar o pé do acelerador, e dizer ¿estou contente com isto¿, ou podes bater o teu recorde pessoal». Nessa temporada foram 42 os tentos apontados, que o levaram a vencer a Bota de Ouro.

Agora que o português era um goleador nato, faltava chamá-lo à atenção para um pormenor: linguagem corporal. «Lembraste do golo que marcaste contra o Sporting em casa, o livre? Viraste-te para a câmara e levantaste os braços e encolheste os ombros. Que estavas a querer dizer? Desculpa? Ou estavas a querer dizer ¿olhem para mim, ninguém consegue fazer isto¿?, perguntou o adjunto a Ronaldo. Em seguida, Rene perguntou a um roupeiro do clube que se encontrava por perto qual a sua opinião. Este respondeu: «Sou o melhor». Essa imagem arrogante iria levar os adversários a tentar parar Cristiano de qualquer maneira. O objetivo de Rene era que Cristiano utilizasse todas as suas capacidades para evitar os defesas, evitar o contacto, usar mudanças de direção, levando os defesas ao desespero. Certo é que Ronaldo terminou um ano de sonho, com uma Champions, a Liga Inglesa e a distinção de melhor jogador do mundo.

Muito se tem falado da ida de Gareth Bale para o Bernabéu, e de como a chegada do galês pode afetar Ronaldo. Para Meulensteen, «Bale não está sequer perto do nível de Ronaldo», acrescentando: «Ronaldo é um jogador muito mais completo. Bale continuará a ser importante. Tornará o Real Madrid mais forte, ainda mais poderoso, Mas, se por qualquer razão, Bale entrar e Ronaldo sair, o Real Madrid irá ficar mais fraco.»