Não são todos, talvez nem a maioria, mas o número de adeptos do Benfica que se despede de Pizzi pela porta pequena da Luz é inquietante.

Não é preciso vasculhar muito nas redes sociais, desde logo as do próprio clube, para ver a forma amarga como muitos fecham um ciclo de oito anos.

É fácil concordar com a ideia de que esse ciclo estava terminado, diga-se. Por um conjunto de razões que vai do rendimento recente à idade de Pizzi, sem esquecer a proximidade do final do contrato e também as ideias do novo treinador. Acima de tudo pelo ambiente que se criou, muito empolado pela ideia de que o médio fazia parte de um núcleo que tinha “feito a cama” a dois treinadores.

No que diz respeito a Bruno Lage, essa ideia é refutada pelo próprio. «Jogadores como Rafa ou Pizzi nunca foram um problema. Como é que seriam? O Pizzi marcava 20 golos por época e o Rafa fez a melhor época comigo, com 18 golos. Faltaram-nos, sim, alternativas para que quando o Benfica começasse a jogar consecutivamente de três em três dias, pudesse ter uma capacidade de rotação de modo a que não se notassem oscilações», disse o agora treinadores dos Wolves ao Maisfutebol, bem recentemente, num âmbito de um trabalho sobre Tiago Pinto.

Relativamente a Jorge Jesus, e ainda que o atual técnico do Fenerbahçe tenha dado algum peso ao incidente com Pizzi após a derrota no Dragão, só os mais desatentos podem julgar que, à luz de tudo o que se estava a passar na altura, isso tenha sido mais do que uma cortina de fumo conveniente a umas quantas pessoas.

O sentimento extraído da Luz, junto dos colegas ou de elementos da estrutura, é o de que Pizzi foi um profissional até ao último dia. Um jogador que até à passada segunda-feira, dia em que rescindiu contrato com o Benfica, respeitou o emblema. E também por isso não foi relegado para a equipa B, ao contrário de outros.

Até ver, não foi encontrada mancha suficientemente grande para estragar o registo de Pizzi de águia ao peito: 94 golos e 92 assistências em 360 jogos.

Isto não dá créditos para uma estátua na Luz, nem tão pouco para um jogo de despedida, mas nunca deveria atirar Pizzi pela porta pequena.

Tudo se torna ainda mais inquietante se a amargura desta despedida vier de adeptos que pedem fidelidade aos jogadores. Aos que já renunciaram à ideia de ter ídolos, o futebol moderno dá legitimidade para que digam adeus aos jogadores com o mesmo distanciamento com que os acolheram. Por mais triste que possa parecer esse conceito de ver futebol sem idolatrar.

A ingratidão está nos adeptos que pedem fidelidade aos jogadores, aqueles que se queixam da falta de referências na equipa, mas que depois não valorizam alguém que ficou oito épocas. Aqueles que pedem amor à camisola, mas depois medem a gratidão pelos milhões de euros que entraram nos cofres do clube. Aqueles que são capazes de assobiar Pizzi num Benfica-Al Wahda, mas que se levantam do lugar para ovacionar Darwin Núñez se o Liverpool vier à Luz.

Pizzi é só mais um nome na história do Benfica, mas bater-lhe continência é o mínimo.

Não é veneração, é reconhecimento.