DESTINO: 80's é uma nova rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 80's.

KIKI: F.C. PORTO, DE 1989 A 1992

«Só tenho a agradecer a Artur Jorge. Foi dos homens mais inteligentes que conheci, mas...» Kiki começa assim a falar sobre o homem que o treinou no V. Guimarães (adjunto de Pedroto) e no F.C. Porto. Sim, a admiração é evidente, mas...

«Vou contar-lhe uma coisa, para perceber. Num dos primeiros dias de folga no F.C. Porto fui dar uma volta ao shopping. Estava a ver umas montras quando, de repente, me cruzo com o Artur Jorge». Kiki, ingénuo, foi ter com o técnico.

«Aproximei-me do mister para cumprimentá-lo, claro. Ele virou a cara e seguiu em frente. Fez como se eu não estivesse lá», conta o antigo médio do F.C. Porto, já a explodir numa gargalhada. «Artur Jorge não era um treinador normal».

«No dia seguinte fui contar este episódio a alguns colegas. Disseram-me logo: já nos aconteceu a todos. Fora daqui [dos treinos e jogos] não existimos para ele. Percebi que era uma forma de ele manter uma distância grande para os jogadores e impor uma certa cultura de temor».

Este era o lado mau de Artur Jorge. Não tinha qualquer relação com a equipa nos momentos estranhos ao trabalho.

«A verdade é que ele nos intimidava. Quase todos tremiam ao falar com o Artur Jorge. Isso era nos dias bons. Nos dias maus, num dia de derrota por exemplo, ai de quem abrisse a boca. Vi alguns balneários partidos e fiz várias viagens de autocarro em absoluto silêncio».

Artur Jorge, porém, era mais do que isso, diz Kiki. «A forma como preparava os jogos e comunicava connosco era excecional. Entrávamos em campo decididos a dar a vida por ele. Por respeito, por orgulho, por medo, ninguém queria falhar. Nunca ouvi ninguém dizer mal do Artur Jorge. Ninguém se atrevia».

Em 1991, Artur Jorge saiu e chegou Carlos Alberto Silva. Kiki perdeu espaço e no final da época, em 1992, abandonou o F.C. Porto.

«Já estava com 30 anos e cumpri o contrato de três épocas até ao fim. Joguei menos nessa última temporada, mas não tive problemas com o CAS. Bem pelo contrário, ele era mesmo brasileiro: comunicador, simpático, atencioso, boa gente».

Números de Kiki no campeonato nacional:

1982/83: 2 jogos, 1 golo (V. Guimarães, 4º lugar)

1983/84: 7 jogos, 1 golo (V. Guimarães, 6º lugar)

1984/85: 26 jogos, 1 golos (D. Chaves, 1º lugar II Liga)

1985/86: 22 jogos, 3 golos (D. Chaves, 6º lugar)

1986/87: 12 jogos, 0 golos (D. Chaves, 5º lugar)

1987/88: 34 jogos, 0 golos (Sp. Braga, 11º lugar)

1988/89: 30 jogos, 1 golo (Sp. Braga, 6º lugar)

1989/90: 13 jogos, 0 golos (F.C. Porto, 1º lugar)

1990/91: 22 jogos, 1 golo (F.C. Porto, 2º lugar)

1991/92: 7 jogos, 0 golos (F.C. Porto, 1º lugar)

1992/93: 13 jogos, 0 golos (Sp. Braga, 12º lugar)

1993/94: 17 jogos, 0 golos (P. Ferreira, 16º lugar)

O regresso de Artur Jorge ao F.C. Porto: