A comunicação social inglesa está a passar a ideia de que o castigo imposto pela UEFA a José Mourinho e ao Chelsea acabou por ser uma vitória para estes e uma demonstração de falta de pulso do organismo. Lars-Christer Olsson, director-executivo da UEFA, considera que essa interpretação é abusiva, uma vez que a decisão foi tomada com base em procedimentos aplicados em casos idênticos: «A sentença está ao nível de outras situações semelhantes. Não me parece que a UEFA tenha sido branda. Não é um aviso. Para dois deles é um aviso, mas para os outros é uma punição. A UEFA devia ter sido mais dura? Essa é a visão dos media, o que nem sempre coincide com a dos juízes e de quem decide. Têm de perguntar a Mourinho e ao Chelsea se a consideram justa. Eu penso que foi justa e que a UEFA não perdeu credibilidade.»
O dirigente espera que Mourinho tenha aprendido a lição e que não volte a proferir afirmações que possam suscitar polémica. No entanto, conhecendo a personalidade do treinador, dificilmente o desejo de Olsson vai concretizar-se: «Espero que já tenha aprendido uma lição. Para uma pessoa como Mourinho, que tem muitas qualidades técnicas, é importante continuar a desenvolver as capacidades como treinador. Como pessoa? A personalidade está ligada ao treinador e não pode ser separada do resto. Tem uma personalidade que desafia a UEFA? Há um código de fair-play no futebol e não importa de quem estamos a falar. Todos têm de segui-lo, até porque existe para garantir a integridade das provas. Se queremos estar no futebol, temos de seguir as regras.»
Os jornalistas ingleses tentaram explicar ao director-executivo da UEFA de que as multas pagas por Mourinho e pelo Chelsea acabavam por ser simbólicas, tendo em conta o dinheiro movimentado pelo clube. Logo, como podem eles aprender a lição? «A mensagem mais importante, para além da sentença em si, é a de que se somos considerados culpados de algo isso terá efeitos na nossa reputação. Na reputação do clube e do treinador, que não vai poder orientar a equipa.»
Mourinho foi suspenso pela UEFA, em 2002/03, mas acabou por driblar os responsáveis do organismo entrando em contacto com os jogadores e os adjuntos através do telemóvel. Lars-Christer Olsson diz que não haverá alguém a fiscalizar o treinador, de modo a evitar que a situação se repita: «Não vamos ter alguém sentado atrás dele, a controlar tudo o que ele faz ou diz. A sentença foi proferida e agora temos de ver como ele lida com ela.»
«Não vejo Mourinho como um inimigo do futebol»
Lars-Christer Olsson deixa um pedido, desejando que as pessoas que estão ligadas ao futebol comecem a medir o que dizem: «É importante que os treinadores, jogadores e agentes desportivos, que têm um papel importante no futebol, tenham noção de que são um modelo para as outras pessoas. Logo a forma como falam tem efeitos no jogo em si. A aprendizagem que se pode tirar daqui é de que todos têm de se comportar de forma justa e apropriada. Esta mensagem serve para todas as pessoas. Inimigo do futebol? Não, não o vejo como um inimigo do futebol. Isso é uma interpretação dos media.»
O treinador português vai falar, uma vez por mês, na SIC. Isso não preocupa os responsáveis da UEFA, que passam a imagem de que não têm receio do que Mourinho possa dizer: «Não me preocupa. É bom que fale. Se fizer propaganda ao futebol, ainda melhor.»