Golos, muitos golos e uma dança característica na bandeirola de canto. Um festejo para a eternidade, repetido vezes sem conta pelos estádios europeus, classe pura e uma alegria contagiante: eis Albert Roger Mooh Milla, vulgo Roger Milla, antigo internacional pelos Camarões.

O avançado, que brilhou nos anos 80 em França, ao serviço do Saint-Étienne e do Montpellier, escreveu o seu nome no livro dourado do futebol no Mundial de 1990, em Itália, de tal forma que, ainda hoje, há em Alverca quem lhe tenha herdado o nome.

Com quatro golos em cinco partidas oficiais, Milla foi preponderante para a chegada dos Camarões aos quartos-de-final do Campeonato do Mundo. Histórico? Por todas as razões e mais alguma. Não só os «Leões Indomáveis», como era apelidada a equipa camaronesa, se tornaram na primeira seleção africana a chegar a esta fase da prova mais importante de seleções, como o fizeram sob a liderança de um Roger Milla já veterano, com 38 anos.

Quem não se recorda do lance em que Roger rouba a bola ao lendário Higuita na zona do meio campo e sprinta para colocar os Camarões nos «quartos»?

O «velho leão», alcunha que conquistou durante o Campeonato do Mundo, retirou-se dos relvados aos 44 anos como um dos melhores jogadores africanos de todos os tempos e deixou para trás um legado indelével.

Roger Milla Brito Miranda é a prova viva da lenda que se construiu em torno do avançado camaronês. Nascido em Cabo Verde, em 1991, no ano seguinte ao Mundial que eternizou o verdadeiro Milla, o jogador que alinha atualmente pelo Alverca é o reflexo da forma como a paixão pelo futebol pode ser traduzida de todas as maneiras.

Qual a ligação entre ambos? Nenhuma, além do nome. Nem a posição ocupada em campo. Roger Miranda atua como médio defensivo na formação do Ribatejo.

«De onde surge, então, o nome?», pergunta o leitor. «Foi o meu pai», responde Roger, em conversa com o MaisFutebol. «O meu pai deu-me o nome. Eu nasci em 91 e na altura o Roger Milla andava em grande, a fazer muitos golos. O meu pai adorava-o», conta entre risos.

Roger Milla, o verdadeiro, pousou as botas em definitivo em 1996, altura em que Miranda tinha apenas cinco anos.

Agora com 25 primaveras cumpridas, o jovem cabo-verdiano nunca teve oportunidade de ver o homónimo em ação, mas confessa já ter pesquisado vídeos por curiosidade: «De vez em quando vejo vídeos dele, toda a gente fala do Roger Milla».

Por todos os sítios por onde passa, Roger Miranda não se livra de brincadeiras e questionários sobre a origem do nome. A maioria partem dos colegas, admite, que lhe perguntam se é filho dele. Ainda assim, o médio do Alverca não se importa e sublinha que é um «orgulho enorme partilhar o nome com um jogador histórico».

«Fui eu que escolhi jogar com este nome, apesar de não ser o meu apelido mas sim o meu segundo nome. Pela história e por ser conhecido», acrescenta.

Roger Milla Brito Miranda chegou a Portugal pela porta do Algés, corria a época de 2013/2014. Mas a estadia em Oeiras foi curta e, no final da mesma temporada, as malas estavam feitas para rumar ao Alverca. Em 2016/2017, o médio cabo-verdiano cumpre o terceiro ano pelo histórico emblema do Ribatejo e soma seis golos em todo o percurso.

No entanto, contrariamente ao Milla camaronês, cujo festejo se tornou icónico, Miranda é mais discreto e nunca copiou a celebração. «Nunca festejei como ele. Já vi os vídeos, mas eu não faço nada de especial nos meus festejos», explica. «Sou uma pessoa tímida a festejar», atira entre gargalhadas.

Golos e celebrações do Roger Milla do Alverca:

Do trabalho no fast food aos treinos: a vida complicada nas distritais

A conversa com o nosso jornal decorre num tom simpático e é feita de partilhas. O cabo-verdiano confessa ter vários sonhos: chegar à 1ª liga, representar Cabo Verde, chegar ao nível de Roger Milla, camaronês, e acabar a carreira aos 42. Mas o jovem médio sabe que não vai ser fácil cumprir qualquer um deles, principalmente pela vida complicada que leva nas distritais.

Para ele e para a maioria dos jogadores destes campeonatos, o futebol não é o único «ganha-pão». Roger concilia os horários dos treinos com um trabalho diário de oito horas, num restaurante de fast-food, na zona de Belém. Sai do emprego e vai para casa, na Pontinha, de onde tem boleia de um amigo para os treinos.

«É difícil estar preparado porque não tenho tempo para descansar», confessou. «Saio do trabalho ao fim de oito horas e venho treinar durante 1h45, mais jogos ao fim-de-semana», prosseguiu.

O segredo para continuar alicerça-se na força de vontade e no querer fazer do futebol vida: «Eu tenho força e vou à luta porque o meu sonho é viver do futebol, viver do que gosto de fazer», concluiu.

Fará Roger Milla jus ao nome, alcançando os grandes palcos? Não há como saber. Mas sabemos, de antemão, que o futebol é um terreno fértil para surpresas.