Lá para os lados de Sandim, os Dragões sobrevivem a custo. Vale-lhes a paixão de um punhado de pessoas, obstinadas na salvação deste emblema. Há quatro anos, o clube lutava lado a lado com o Gondomar pela promoção à actual Liga Vitalis.
Hoje, arrasta-se no último lugar da série C da III divisão, com zero pontos em 16 jogos disputados. Os 68 golos sofridos - é a pior defesa dos campeonatos nacionais - colocam a nu as evidentes fragilidades do plantel sénior. Mas o moribundo ainda respira e ousa sonhar reerguer-se das cinzas.
O Maisfutebol foi à procura de respostas. Tentou perceber, antes de mais, os motivos para queda tão abrupta. As conclusões são claras.
O mais batido dos guarda-redes
Nos contactos mantidos com Carlos Rocha (treinador dos seniores até ao último mês de Dezembro), Pedro Sousa (neto do fundador e jogador do clube) e Mora Batista (presidente da junta de freguesia), as opiniões coincidem: os Dragões abraçaram a quimera do novo-riquismo e queimaram-se nas suas próprias labaredas.
Registe-se, desde já, que o actual presidente Artur Saúde, como não poderia deixar de ser, também foi convidado várias vezes a deixar o seu depoimento. Tal como o seu antecessor e antigo investidor, José Oliveira. Em ambos os casos, o silêncio acabou por prevalecer.
A utopia dos três milhões de euros
Temporada 2003/04. Dragões Sandinenses e Gondomar lutam lado a lado até final pela promoção à Liga de Honra. A formação gaiense faz um investimento fortíssimo, mas na recta final fica para trás. Começam os problemas. As finanças apertam, os «craques» contratados saem, multiplicam-se os salários em atraso.
No seguimento do processo Apito Dourado, em que os gondomarenses se viram envolvidos desde o prólogo, os Dragões exigem uma indemnização de três milhões de euros por danos irreparáveis e concorrência desleal. Até agora, a quantia não deu entrada nos depauperados cofres gaienses. Talvez nunca dê.
«No ano da luta pela subida, foi feito um investimento louco e não houve qualquer retorno. Veio tudo por ali abaixo», recorda Pedro Sousa, atleta, sobrinho do presidente e neto do fundador dos Dragões Sandinenses.
Rejeitados na fartura, heróis na miséria
Sem outra opção, os Dragões foram forçados a apostar nos produtos da terra. A pouco mais de uma semana do começo do campeonato, soou o sinal de alarme. A direcção lembrou-se dos miúdos criados no clube e constituiu um plantel à pressa.
Muitos deles haviam sido rejeitados no período da fartura. Na miséria, voltaram a ser heróis. Sem quaisquer contrapartidas financeiras, asseguraram a continuidade do clube. E nem as múltiplas derrotas os fazem desacreditar.
«Esta nunca foi a política do clube, mas agora não tinham outro remédio. Jogar por amor à camisola era mesmo a única opção», assume Pedro Sousa, que no ano anterior era adjunto nos juniores. Agora, com 22 anos, é das vozes mais experientes no imberbe balneário.
«Sinto que estamos a salvar o clube. Isto deixou de ser um ponto de passagem para jogadores que andavam cá por interesse e voltou a ser um clube da terra», desabafa o jovem.
«O dinheiro não estica» na junta de freguesia
Mora Batista é o presidente da junta de freguesia de Sandim. Sete mil pessoas, 15 kms quadrados, o peso do interior do concelho de Vila Nova de Gaia. Neste meio pequeno, a vida do clube é levada muito a sério, como confirma o político ao Maisfutebol.
«Não podem voltar a haver loucuras. A nossa juventude tem que ter condições para a prática do desporto e os Dragões são essenciais nesse pressuposto», refere. «O clube está a reconstruir-se, a transformar-se e é preciso seriedade neste processo».
Mas, apesar da boa vontade, a contribuição da junta em tudo isto é muito relativa. «Fazemos o que podemos. O dinheiro não estica e cingimo-nos às comparticipações da câmara».