Edgar Cardoso era provavelmente o último português a trabalhar no futebol ucraniano, embora não estivesse fisicamente na Ucrânia: o diretor da Academia do Shakhtar Donetsk estava atualmente na Croácia, onde acompanhava as camadas de formação do clube.

Recorde-se que a guerra provocou uma debandada dos quadros nacionais que exerciam funções em clubes da Ucrânia, pelo que com a saída de Edgar Cardoso deixou de haver registo, pelo menos entre os clubes da Liga Ucraniana, de mais portugueses no país.

O diretor da Academia do Shakhtar Donetsk decidiu colocar um ponto final numa ligação de três anos, depois do clube ter decidido fazer regressar todas as equipas à Ucrânia.

«Desde o início que comuniquei ao clube que jamais voltaria à Ucrânia enquanto a guerra estivesse a decorrer. O clube obviamente compreendeu, aceitou a minha decisão e quis continuar a trabalhar comigo nestas condições», começou por contar ao Maisfutebol.

«Fazia parte das minhas funções acompanhar todas as equipas que estavam na Croácia e sempre que os sub-19 ou a equipa principal saíam para jogar competições europeias ou para estágios, de Verão ou de Natal, eu saía da Croácia e acompanhava-os. Entretanto há duas semanas o clube decidiu que todos os jogadores e todas as equipas iriam regressar à Ucrânia, porque os campeonatos vão começar em setembro para todas as idades, de maneira que eu, apesar de ter contrato válido com o Shakhtar até 31 de dezembro, mantive a ideia de não regressar à Ucrânia, porque sinto que não é seguro.»

Edgar Cardoso chegou por isso a acordo para rescindir contrato, no que contou com a compreensão do Shakhtar Donetsk.

«Quero voltar a estar perto da minha família. O meu projeto de vida passa por, onde quer que trabalhasse, ter a minha família comigo, e isso não seria possível na Ucrânia. Não é por minha vontade, não é por vontade do clube, mas infelizmente temos de tomar direções diferentes. Eles voltam para o Ucrânia e eu fico à procura de um novo projeto.»

Ora por falar nisso, Edgar Cardoso confessa que «gostava muito voltar ao treino».

«Ser treinador foi o que fiz durante 18 dos últimos 21 anos. Nos últimos três estive numa posição diferente, como o diretor da academia, responsável pela metodologia de treino e pela forma de jogar, sempre muito presente no campo, mas não tendo uma equipa minha. O que eu quero agora neste momento é voltar ao campo e ser treinador.»

A experiência de três anos à frente de uma das grandes academias de formação do futebol europeu, pelo menos até ao eclodir da guerra, permitiu-lhe tornar-se mais completo, admite.

«Agora estou a fazer o curso UEFA Pro, que é a licença mais alta para treinador de futebol, que me permite assumir qualquer equipa no mundo, e é isso que eu quero para o futuro: voltar ao treino, voltar ao campo e ter uma equipa minha.»