João Pereira: «É minha! Estás na baliza? Vou-te passar, espera, não saias daí!»

Eduardo: «É minha! Não toques nelas, vou agarrar. Não passes para a baliza!»

João Pereira: «Porra. Acontece. Foi um erro mas sempre dei tudo pela seleção»

Eduardo: «Porra. Acontece. Foi um erro mas sempre dei tudo pela seleção»


Entre Linhas, fica o que eles deveriam ter dito e não disseram. Nem durante o jogo, nem imediatamente depois. Resta então o obrigado a Mark Zuckerberg, por criar o Facebook e permitir a João Pereira, já longe do calor de Guimarães, escrever o que lhe vai na alma.

Sem direito a contraditório.

«Apesar de ficar triste pela seleção ter perdido não é um auto golo ao final de quase 29 anos que me vai abalar minimamente»

Não é mau. Bem melhor que o «fomos abaixo animicamente» de Nélson Oliveira porque, quando este entrou (ao minuto 80), a moral já estava em baixo. Ou o «sabemos que temos de melhorar» de Ricardo Costa porque este nem jogou em Guimarães.

O que falta aqui? As reações imediatas de Eduardo, João Pereira, Bruno Alves, Neto (pena ver a estreia de um central promissor abafada pelo desastre), Coentrão, Veloso, Moutinho, Meireles, Nani e Ronaldo. Postiga marcou o seu e passou pela flash interview.

Na conferência de imprensa, Paulo Bento respondeu a tudo. Mesmo perante um remate violento (três perguntas seguidas, pertinentes e difíceis de um jornalista da SIC), não fugiu da trajetória. Respondeu a tudo.

E eu, que estava por lá, fiquei satisfeito com as explicações do selecionador.

Não deu para saber porque é que Ronaldo saiu logo após o 2-2 ou porque Nani pediu para sair mal Caicedo festejou o terceiro. Na zona mista, o meu colega Pedro Jorge da Cunha encontraria as respostas? Nem por isso.

Viu e ouviu Nélson Oliveira, Ricardo Costa e João Vieira Pinto. Ou seja, quem por lá passou para falar. O dirigente reforçou e bem o que dissera Paulo Bento

Os outros seguiram caminho por vias paralelas porque o Equador já lá ia e Israel ainda não vem aí. Foram três dias, o clube chama, a seleção vem e vai. Falar para quê?

O problema central da seleção está aí. Portugal é uma coisa nos momentos decisivos e outra coisa qualquer nos compromissos incómodos a meio da semana. Dispensáveis até e perigosos.

Perigosos porque aparecem chatices como o Equador, realidades distantes, mais o seu redes de boné, o Cucho que engana mas é um monstro e o tal de Caicedo. O mesmo que fez apenas um jogo como titular na Liga Portuguesa, pelo Sporting.

Onde? Em Guimarães. Com quem? Paulo Bento. Nesse dia Caicedo ficou em branco, claro.

O adversário tinha valor e o mal não esteve em Ronaldo, veloz a fugir do estádio mas resistente em ficar, em ouvir o grito por Messi, em celebrar o aniversário na seleção, em jogar não obstante as pressões, em correr e marcar um bom golo, até.

O mal não esteve nos preparativos da Federação, esforçada em vender o produto, em processos criativos para compor estádios, em abrir o balneário antes do apito inicial.

Depois, ninguém convenceu ou quis convencer os jogadores a reagir, a assumir, a dar a cara. Nem um titular para falar com os jornalistas na zona mista.

Restou a música de Felipe Caicedo, ecoando pelo estacionamento do D. Afonso Henriques. E lá foi sorrindo o avançado, a bandeira de uma seleção interessante, acreditemos que parecida com Israel, embora esperando que não.

No fundo, foi a melhor notícia da noite para Paulo Bento. Afinal, o homem que ele levou para o Sporting conseguiu marcar em Guimarães. À segunda.

Entre Linhas é um espaço de opinião com origem em declarações de treinadores e jogadores. Autoria de Vítor Hugo Alvarenga, jornalista do Maisfutebol (valvarenga@mediacapital.pt). Siga-o no Twitter.