«É difícil, mas temos de levantar a cabeça, porque se não ainda é pior»

Não, desta vez ele não o disse. Os adeptos jocozos esperaram com requintes de maldavez. A cada pergunta, a mesma ansiedade, o guarda-redes a fintar com dois pés esquerdos, porque o seu retângulo nunca foi aquele. Mau em frente às câmaras, brilhante na baliza.

Não, desta vez ele não o disse. O Sporting atingiu os limites da impossibilidade, apresentou mais buracos que um queijo suíço com apenas dez fatias e Patrício fartou-se.

Se há leão com moral para levantar a cabeça, será precisamente ele. O único com média positiva ao longo da temporada, para além da coragem em suportar o constante erro de casting que é a sua colocação a quente, perante o microfone, a explicar algo que chegou ao âmbito da psicanálise.

Importa chegar ao fundo da questão, para além de frisar a errática gestão desportiva: cada jogador, individualmente, está abaixo do que pode e sabe fazer. Rui Patrício é a melhor das exceções.

Rinaudo e Capel, quando jogam e pelo que representam, vão escapando à negativa.

O resto é isso mesmo, o resto. Uma soma desconexa de individualidades sem capacidade para travar a espiral vertiginosa.

Parem para pensar. Quanto mais não seja, na carreiras. Ninguém sai valorizado de um momento como este. Não encolham os ombros e andem de cabeça levantada quando nem Rui Patrício, que merece, consegue.

Em conversa de cafés, pede-se a transferência completa da equipa B para a Liga. Pedem os miúdos, preferem um Betinho, um Dier, outros de que não sabem os nomes. Devem ser bons, porque ganham.

Já de Gelson Fernandes, de Elias que assume as coisas mas não o que custou, nem querem ouvir falar.

Para o plantel atual do Sporting, se Franky Vercauteren fosse José Mourinho e houvesse bad boys no lado B do leão, a resposta estaria na banda desenhada: os Irmãos Metralha.

Quando Mourinho pegou num Benfica sem intensidade de treino e aparente desinteresse, foi à formação secundária buscar três miúdos para meter o pé, fazer cara feia, trabalhar com amor à camisola, esse conceito romântico perdido nos gabinetes das SAD.

Geraldo, Nuno Abreu e Diogo Luís, um Diogo Luís tão magrinho que mais parecia um primo afastado, foram os Irmãos Metralha de José Mourinho. Procurem algo do género em Alcochete.

Entretanto, deixem Rui Patrício levantar a cabeça. Mas poupem-no à conversa.

Entre Linhas é um espaço de opinião com origem em declarações de treinadores e jogadores, os desejados protagonistas. Autoria de Vítor Hugo Alvarenga, jornalista do Maisfutebol (valvarenga@mediacapital.pt). Siga-o no Twitter .