No verão de 2013, o presidente do FC Porto apostou no jovem Paulo Fonseca. Responsável por guiar o Paços de Ferreira a um histórico terceiro lugar na Liga, o treinador chegou ao Dragão para suceder ao bicampeão Vítor Pereira. Uma tarefa que se viria a revelar ingrata. 

Fonseca saiu no início de março, depois de um empate a duas bolas em Guimarães, e com o FC Porto no terceiro lugar da Liga, já a nove pontos do Benfica. 

O que falhou nos azuis e brancos? Paulo Fonseca volta ao tema com a maturidade que os anos lhe conferiram. Uma explicação muito interessante, já depois de comparar a atual equipa de Sérgio Conceição ao Benfica de Bruno Lage e de falar sobre as hipóteses dos campeões nacionais contra o Liverpool. Tudo em exclusivo ao Maisfutebol.


Maisfutebol – O FC Porto está entre as oito melhores equipas da Europa na Liga dos Campeões. Sente que pode ir mais além?
Paulo Fonseca –
O Liverpool é fortíssimo, mas no futebol desconheço por completo a palavra impossível. Acredito, em função das características do Liverpool, que o FC Porto pode repetir o feito de 2004, quando até eliminou o Manchester United.

MF – Como analisa este FC Porto campeão nacional, treinado pelo Sérgio Conceição?
PF –
É uma equipa muito experiente, sólida defensivamente e que aproveita na perfeição as saídas em transição. Tem claras possibilidades de passar, pois o Liverpool está convencido de que será uma eliminatória fácil, em função dos 5-0 da época passada. As equipas do Sérgio são duras, perseverantes e sinto que o FC Porto pode lutar até ao último minuto pela eliminatória. Não é fácil defrontar o Liverpool, mas para o Liverpool também não será nada fácil lidar com um FC Porto tão competitivo. Espero sinceramente que o Porto consiga seguir em frente.

MF – Há pouco em comum entre este FC Porto e o Benfica.
PF –
São equipas totalmente diferentes. São duas ideias de jogo muito distintas. O FC Porto é mais agressivo defensivamente e mais objetivo no último terço, embora menos forte na circulação. É uma equipa que cruza logo que tem possibilidade e com jogadores fortes na área, fortes fisicamente e nos duelos. O Benfica aposta mais na procura do espaço, na circulação, tem coisas muito interessantes. Aprecio imenso, por exemplo, a forma como circula e atrai o adversário, para depois procurar a profundidade. Gosto de ver a preponderância dos dois médios na primeira fase de construção e na forma como ajudam a equipa a sair dessa fase. São duas equipas muito diferentes, com ideias muito próprias e fáceis de identificar. O pior é quando não existem ideias ou identidade. FC Porto e Benfica têm uma identidade muito forte.

Fonseca com Quaresma, Paulinho e Josué num treino do FC Porto

MF – O que resta ainda do Paulo Fonseca que em 2013 chegou ao FC Porto?
PF –
Mantenho algumas coisas. O modelo, a forma de jogar, a minha conceção de jogo e princípios basilares mantêm-se. Tenho vindo a evoluir tudo isso para outra dimensão, embora a base se mantenha. Os meus grandes registos eu já tinha no FC Porto e mantenho-os.

MF – O que mais mudou em si nestes seis anos?
PF –
A minha forma de liderar. Aprendi muito com esse ano no FC Porto. Cheguei lá com apenas um ano de Liga, no Paços, e com um tipo de futebolistas completamente diferente daquele que encontrei no Dragão. A minha forma de liderar se calhar não foi a mais adequada para convencer os jogadores acerca das minhas ideias. Nunca houve nenhum problema disciplinar, os jogadores sempre me respeitaram, enfim. A questão era outra: como convencê-los em relação às minhas ideias? Hoje acredito que não foi a forma adequada, porque lidar com jogadores de grande estatuto e dimensão requer outra maneira de trabalhar. Melhorei, aprendi e hoje lido bem com estes futebolistas de dimensão, como tenho no Shakhtar. Esse ano no FC Porto foi um dos mais importantes na minha carreira, aprendi bastante e hoje estou a servir-me desse ensinamento: adaptar-me ao grupo que tenho à minha frente e às variáveis de um plantel.

MF – Perante essa aprendizagem e já com vários anos de treinador, o Paulo consegue escolher o melhor profissional que já treinou até hoje?
PF –
Tenho de nomear alguns atletas, para tentar ser justo. Posso começar pelo Darijo Srna, com quem trabalhei dois anos aqui no Shakhtar. Aos 36 anos é um exemplo diário, com uma ânsia tremenda pelo trabalho. Foi este ano para o Cagliari, em Itália. No FC Porto posso recordar o Jackson Martinez, um homem fantástico, e no Paços tenho de lembrar o Luiz Carlos e o Filipe Anunciação. Se for um pouco mais atrás, ao Aves, deixe-me nomear o Tiago Valente e o Leandro. Este último é agora o técnico da equipa B do Aves.  

[artigo publicado originalmente às 23h56 do dia 21 de março]