5 de junho de 2000. Na verdade, já era quase dia 6 quando o Maisfutebol finalmente nasceu. Começava uma grande aventura e no princípio estava Rui Costa. O então jogador da Fiorentina e da seleção nacional, de partida para jogar o Euro 2000, fazia manchete nesse primeiro dia, com uma entrevista já então feita também em vídeo. 20 anos mais tarde, Rui Costa volta a associar-se a este momento especial, ele que foi protagonista e espectador privilegiado destas duas décadas, como jogador e como dirigente. Aqui, tudo o que correu mal no Mundial 2002.
- Tudo aquilo que correu bem no Euro 2000 correu mal na Coreia, em 2002.
Sim. E se calhar porque acreditámos realmente que o que tínhamos feito no Euro 2000 já era natural para nós e o Mundial 2002 devia ser uma continuidade. Interpretámo-lo do pior dos modos e meto no saco de responsabilidades todos os intervenientes. Nós teremos a nossa quota parte, com toda a certeza. Mas aquele estágio em Macau não lembra ao diabo, tinha um calor e humidade insuportáveis ao fim de cinco minutos de treino tínhamos de parar, não conseguíamos sequer correr. Nós praticamente não treinámos antes do Mundial. Os treinos mais sérios foram uma semana antes, na Coreia, onde apanhamos um clima completamente diferente. Isso fez acima de tudo com que chegássemos ao Mundial penosos em termos físicos. E essa foi a maior condicionante que acabámos por ter nesse Mundial. Poder-se-á falar de mil e uma coisas, mas eu lembro-me que no jogo com os Estados Unidos, com uma hora de jogo meia equipa estava com cãibras. E se eu acabei de dizer que em 2000 estávamos todos no top, nos grandes clubes, não consigo dar outra justificação para a meio de um jogo contra os Estados Unidos nós estarmos quase a cair dentro de campo. Também - e meto aqui um bocado a nossa parte, não dos jogadores mas do país inteiro - parece que nós não conseguimos aceitar as facilidades. Provavelmente achámos que depois do que fizemos em 2000, o grupo de 2002 era muito abordável e se calhar diminuímos a tensão e a atenção, o que acabou por ser fatal para nós.
- O facto de não teres entrado nem um minuto no jogo do tudo ou nada com a Coreia é uma das tuas grandes mágoas?
- É uma das minhas frustrações. Mas respeitosamente. Eu não tinha nenhum contrato com a Seleção em que tinha de ser titular em todos os jogos. Custou-me mais o modo. Parece que paguei a derrota contra os Estados Unidos e depois houve uma campanha muito fácil de dizer que o meu ano tinha sido, tinha tido muitas lesões, não estava bem e por aí fora. Até nem gosto muito de falar do Mundial 2002 por essa razão. Porque o facto de eu não ter jogado pode iludir as pessoas a pensar que eu possa dizer alguma coisa de errado porque não joguei. Esse Mundial é mau, muito mau, mas não gosto de falar dele porque como só sou titular no primeiro jogo pode dar a parecer que seja mais eu ressabiado com alguma coisa do que ser realista em relação ao que se passou. Foi um Mundial errado da nossa parte, foi um Mundial completamente falhado e foi pena, porque essa geração merecia muito mais numa representação de Campeonato do Mundo. Por outro lado, também tivemos a infelicidade de ser logo o pior Mundial da história. Aquilo mais parecia uma tournée de final de ano do que um Mundial. Não havia ambiente… Nada a ver com a Inglaterra em 96, com a Holanda, aqui com Portugal em 2004. Tudo o que se passou mesmo depois de Portugal estar fora de campo, faz perceber perfeitamente que foi um campeonato muito atípico.