Esqueçam Cancún e o esplendor dos resorts na Riviera Maya, a linha turística banhada pelo Atlântico. Pedro Caixinha está bem longe, no meio de um deserto, levando o Santos Laguna ao sucesso. Era uma vez no México.

O treinador português relata a sua experiência no Maisfutebol, admitindo o temor lançado pelos cartéis de droga, a sobrecarga provocada pelas sucessivas viagens em charters, a dificuldade em impor conceitos europeus numa Liga mexicana pouco habituada a tal.

A partir de Torreón, Pedro Caixinha fala sobre os primeiros meses no comando técnico do Santos Laguna.

Apresentado a 20 de novembro de 2012, logrou conduzir a equipa a uma série de vitórias consecutivas. Nesta altura, ocupa o 4º lugar na tabela classificativa da Liga MX.

«Estamos em quarto lugar mas com os mesmos pontos que o América. Até lhes vencemos mas aqui o que conta é o score de golos, que é favorável ao América», explica Caixinha. Apenas uma das particularidades do futebol mexicano.

A viagem de autocarro que passa por Saltillo

O planeamento faz parte do dia a dia, já que disputar a Liga MX significa apanhar aviões com regularidade, face às distâncias envolvidas. «Encontrei um clube muito bem organizado, com um excelente planeamento. Fomos às Chiapas e já estava tudo programado, charters, campos de treinos, tudo»

«A única viagem de autocarro que fazemos é a Monterrey, que é a quatro horas de distância», acrescenta. Curiosamente, Saltillo (localidade ligada a alguns capítulos pouco felizes na história da seleção portuguesa) fica pelo caminho.

À chegada, Pedro Caixinha foi associado a José Mourinho. A imprensa mexicana não mais esqueceu essa relação. O treinador esclarece.

«O que aconteceu foi que tentaram criar um escudo, apresentando análises positivas de pessoas com peso como José Mourinho ou John Park, chefe dos olheiros do Celtic de Glasgow, para que houvesse um aval maior de todos aquando da minha chegada. Depois, houve levasse isso para outros caminhos», frisa.

«Disse que vencemos mas jogámos nada»

A relação com a imprensa local, de resto, nem sempre é fácil. «Em Portugal a imprensa é sobretudo nacional. Aqui, nota-se maior força dos jornais das principais cidades, sobretudo da cidade do México. Depois, há a imprensa regional.»

Certo dia, foi questionado sobre a tática da equipa. Pedro Caixinha estranhou. «O que não posso permitir, seja aqui ou na China, é que alguém me questione sobre táticas ou o que seja sem sequer ter visto o jogo em questão».

O português vai conquistando o respeito dos locais. A série de vitórias catapultou o Santos Laguna mas a exigência é alta. Outro exemplo. Após um triunfo recente, Caixinha fez um discurso honesto na conferência de imprensa.

«Disse que vencemos mas jogámos nada. Mais isso foi numa fase de maior sobrecarga, com várias viagens e muito desgaste. Sinto que podíamos ter mais 6 pontos, à vontade, nesta altura e o acesso garantido à Liguilha para atribuição do título», conclui o técnico.

Para elucidar o leitor, aqui ficam as distâncias entre Torreón, cidade que acolhe o Santos Laguna, e as outras localidades que surgem no mapa da Liga mexicana de futebol:

Distância para Torreón

América (Cidade do México): 1007 kms

Atlante (Cancún): 2600 kms

Atlas (Guadalajara): 736 kms

Jaguares Chiapas (Tuxtla Gutiérrez): 1817 kms

Cruz Azul (Cidade do México): 1007 kms

CD Guadalajara (Guadalajara): 736 kms

Club León (León): 649 kms

CF Monterrey (Monterrey): 340 kms

Monarcas Morelia (Morelia): 842 kms

CF Pachuca (Pachuca): 1014 kms

Puebla FC (Puebla): 1119 kms

Querétaro FC (Querétaro): 800 kms

San Luis (San Luis Potosí): 591 kms

Xolos de Tijuana (Tijuana): 1887 kms

Deportivo Toluca (Toluca): 988 kms

Tigres (San Nicolás de los Garza): 355 kms

Pumas (Cidade do México): 1007 kms