André Leão agora dorme a sesta. Um hábito que obteve em Espanha para onde se mudou após quatro anos no Paços de Ferreira. O final do contrato com o clube português e a insistência dos espanhóis levaram-no a emigrar de novo. Para mais perto e para um campeonato que parece que nunca mais acaba…

Há três anos na división, Leão revelou ao Maisfutebol como foram estes tempos, em que até ganhou dois amigos portugueses para a vida: Bruno Varela e Pedro Tiba.

«O diretor desportivo e o próprio presidente do Valladolid entraram em contacto comigo, o clube estava na 1ª divisão, ainda na luta pela permanência e acabou por descer, mas a simpatia e o querer do presidente em contar comigo foram muito importantes na minha decisão», contou André Leão.

Naquela altura, porém, André Leão ainda não tinha percebido bem no que se ia meter. E onde foi ele parar, então? À apresentação de equipamentos do Real Valladolid…

«Custou-me bastante desfilar, porque sou uma pessoa muito tranquila e não gosto muito dessas coisas», riu o médio.

André Leão no Paços de Ferreira

A aventura no Cluj, da Roménia, deu-lhe bagagem para enfrentar nova mudança. Desta vez a viagem era bem menor. Em quilómetros e em modo de vida.

«A adaptação foi muito mais fácil, a cultura muito mais parecida com a nossa e o idioma também», recordou. O castelhano foi uma coisa que aprendeu depressa porque…não escutava mais nada.

«O que me custou mais foi mesmo ser o único português, mas isso fez com que compreendesse muito mais rápido a Língua, pois só ouvia Espanhol sempre que estava a treinar e em estágio», exclamou.

André Leão levou a família para Espanha e sublinha que «adoravam» Valladolid, uma «cidade tranquila» que tem «tudo o que é preciso». Esse cenário mudou esta época: «Infelizmente, tiveram de ficar em Portugal, mas sempre que podem vêm cá ou eu vou a Portugal. Estando fora acabamos por estar perto de casa (3:15h), o que ajuda.»

O camisola 8 do Valladolid descreve com mais pormenor e percebe-se que se está numa cidade europeia, com «um centro lindíssimo, assim como bastantes monumentos e parques com espaços verdes» por todo o lado.  E, claro, a gastronomia espanhola.  «Restaurantes variados em que nos podemos deliciar com alguns petiscos como as famosas tapas, o cocido e lechazo (cordeiro). Come-se bastante bem», garantiu.

O estádio José Zorrilla

A mudança do médio contrasta, claro, com algumas das Estórias Made In que o Maisfutebol já contou. Contos de locais mais longínquos e exóticos.

Ainda assim, a proximidade não invalida as diferenças notórias de Portugal e Espanha a nível económico e futebolístico. A começar no Valladolid.

«É um bom clube, com condições para estar na primeira divisão sem dúvida! Um estádio que, apesar de antigo, é muito bonito!». O José Zorrilla foi um dos recintos do Mundial 1982 e recebeu França, Checoslováquia e Kuwait.

«Mesmo na 2ª divisão, tirando os 4 grandes, penso que poucos têm as condições que tem o Real Valladolid», considerou Leão, que destaca também a pressão de jogar por aquele emblema.

Na época passada, o clube esteve perto de cair no terceiro escalão. «Foram tempos bastante complicados , aqui a exigência é muita, só o nome do clube faz com que se tenha de estar a lutar pelos seis primeiros postos e, quando assim não é , cria-se um ambiente muito crítico e complicado de trabalhar», como sucedera em 2015/16: «Conseguimos garantir a permanência na penúltima jornada, mas isso levou a uma mudança brusca no plantel em que ficaram apenas três jogadores da época passada!»

André Leão ainda não marcou pelo clube espanhol e quando lhe atiramos, em jeito de brincadeira/provocação quando é que o faz, o médio riu e disse: «Boa pergunta! A verdade é que estou a jogar numa posição de contenção, mas espero que não passe desta época! Estou com saudades!»

Oportunidades não vão faltar. O segundo escalão espanhol tem 42 jornadas e depois o play-off de subida para quem lá chega, como é objetivo do Valladolid.

«A Liga é muito longa, com viagens muito longas e, por isso, muito desgastante para os jogadores! Mas quem faz por gosto não cansa como se costuma dizer», referiu Leão.

Numa comparação com o lado de cá da fronteira, o médio não hesitou em dizer que «a 2ª liga espanhola é bastante competitiva, mais que a primeira divisão portuguesa».  André Leão explica que «financeiramente é superior» e que «tirando os quatro primeiros de Portugal, os outros clubes não têm a capacidade financeira» que os espanhóis, mesmo do segundo escalão. Semelhante é a forma de trabalhar.

Na 2ª liga de Espanha atuam outros portugueses. O mediatismo do primeiro escalão é enorme e ocupa praticamente todos os holofotes. Questionado sobre quem entre compatriotas se está a destacar, André Leão respondeu: «Há outros portugueses mas não são muitos. Dos que me estou a lembrar, talvez o Ricardo Vaz que joga no Réus. Tem feito alguns golos, mas não tem sido um titular absoluto mesmo assim! Os outros que me lembro também não têm sido titulares ou por opção ou por lesão.»

O mesmo acontece com Igor Lichnovsky, emprestado pelo FC Porto. Um «bom jogador, muito forte fisicamente e muito competitivo» ao olhar de André Leão. «Começou como titular e foi perdendo espaço mas é um jogador que trabalha muito bem», garantiu.

Essa é a única proximidade que tem, agora, com Portugal. Na época passada, Leão teve a companhia de Bruno Varela e Pedro Tiba. «Foi importante, são amigos que vou levar para o resto da minha vida. Eles e as suas famílias! Ter alguém que tenha os mesmos costumes que eu foi ótimo!»

Como ótimo, ao que parece, é um velho hábito espanhol. «Habituei-me à sesta, que era coisa que não fazia em Portugal», concluiu Leão.