A embaraçosa derrota caseira com a República Checa, quando o mínima a fazer era vencer e esperar uma ajuda da Islândia em Istambul, colocou um ponto final numa fase de apuramento para esquecer. Desde 1984 que a Holanda não falhava um Europeu e desde 2004 que estava em todas as fases finais das grandes competições de seleções. 

Agora, depois de um Mundial muito bom no Brasil, coroado com o terceiro lugar final e com a histórica goleada à Espanha para o álbum das memórias, a laranja mecânica vai ver o Europeu de França pela televisão. 

Numa fase de apuramento que foi, desde cedo, apelidada como a mais fácil de sempre, por apurar diretamente os dois primeiros de cada grupo, mais o melhor terceiro e ainda enviar para um playoff os restantes terceiros classificados, os holandeses entraram numa espiral negativa e foram batidos por checos, islandeses e turcos. 

Ficam, como se disse, de fora do Euro 2016. Um fiasco. Como outros no passado.

Aliás, como se pode ver na lista que o Maisfutebol deixa abaixo, com dez exemplos, em quase todos os ciclos de quatro anos há um potencial candidato que dececiona. Desta vez foi a Holanda. E como não se prevê mudanças drásticas no futebol do futuro, arriscamos dizer que acabará por tocar a outros...

1. PORTUGAL: Magriços não chegaram até Itália (Euro 68)

Quando Eusébio enxugou as lágrimas pela eliminação nas meias-finais do Mundial de Inglaterra, em 1966, frente ao país da casa, a nação futebolística em Portugal apontou ao objetivo seguinte: estar, pela primeira, vez, na fase final de um Europeu. A competição nascera em 1960 e ia disputar-se em Itália dali a dois anos. O grupo nem parecia complicado. Tinha a Bulgária, que Portugal derrotara em Inglaterra, a Suécia e a Noruega. Portugal só venceu os noruegueses e acabou em segundo lugar, com apenas seis pontos, longe dos búlgaros, que também não estiveram no Europeu (na altura só com quatro equipas), caindo frente aos italianos na ronda decisiva.

2. ALEMANHA: da final de Londres ao nulo de Tirana (Euro 68)

Se a ausência de Portugal, terceiro classificado em Inglaterra, no Euro 68 foi uma meia surpresa, surpresa total foi a eliminação da Alemanha, vice-campeã do mundo à data. Os alemães não conseguiram passar um grupo de apuramento de apenas três equipas, terminando atrás da Jugoslávia, depois de um embaraçoso empate sem golos frente à Albânia, em Tirana, que tinha sido goleada por 6-0 na Alemanha e somava, antes desse jogo, zero pontos. Foi a última vez que a Alemanha falhou um apuramento para uma fase final de uma grande competição até aos dias de hoje.



3. CHECOSLOVÁQUIA: glória de Panenka não vai à Argentina (Mundial 78)

Pela primeira vez, o campeão da Europa não marcou presença no Mundial seguinte. União Soviética, Espanha, Itália e Alemanha, os anteriores campeões, nunca tinham falhado, mas a Checoslováquia, que batera alemães na final de Belgrado, no jogo do mítico penálti de Panenka, não conseguiu, depois, passar um grupo de apuramento para o campeonato do mundo que tinha Escócia, que venceu a série, e Gales. As derrotas expressivas em Wrexham, por 3-0, e Glasgow, 3-1, ditaram a sorte checa e o Mundial ficou, pela primeira vez, sem os campeões europeus.



4. ITÁLIA: a pior prestação de sempre de um campeã do mundo (Euro 84)

A Itália de Dino Zoff, Paolo Rossi ou Altobelli protagonizou um apuramento para esquecer para o Europeu de França. Campeã do mundo em título, após o sensacional Espanha 82, a equipa de Enzo Bearzot venceu apenas um jogo em oito no grupo 5! Inacreditável. Só na última jornada, em casa, frente ao Chipre, último do grupo, disfarçou o vexame com vitória por 3-1. De resto, perderam em casa 3-0 com os suecos, empataram no Chipre, não conseguiram vencer nem Suécia, nem Checoslováquia, nem Roménia, que ganhou o grupo. Foram quintos em seis equipas. Mau de mais.




5. INGLATERRA: pátria do futebol dá bilhete à Dinamarca (Euro 84)

Antes de 1984, só por uma vez a Dinamarca tinha estado presente numa fase final de um torneio de seleções. Vinte anos antes, os dinamarqueses foram um dos quatro finalistas do Europeu de Espanha. De lá para cá apenas resultados modestos e nada fazia prever que pudessem causar problemas à Inglaterra. Mas a «pátria do futebol» acabou um ponto atrás dos dinamarqueses e ficou de fora do Europeu de França. O jogo decisivo foi a derrota em casa frente aos nórdicos, com um golo de Allan Simonsen. Só em 2008 a Inglaterra voltou a falhar um Europeu, na altura sendo ultrapassada pela Croácia.




6. SUÉCIA: duas meias-finais seguidas e um desastre a caminho de Inglaterra (Euro 96)

A Suécia vinha de duas meias-finais consecutivas (Euro 92 e Mundial 94) quando arrancou para a caminhada rumo ao Europeu de Inglaterra. Mas a geração de Tomas Brolin, Martin Dhalin, Schwarz ou Thomas Ravelli falhou o primeiro Euro com 16 equipas. Num grupo que apurava os dois primeiros terminaram atrás da Suíça de Artur Jorge e da Turquia, que assim se estreou em Europeus. Destaque para as derrotas com os dois apurados, fora, além de outra na Hungria, que complicaram as contas e deixaram os suecos fora do torneio inglês.



7. CROÁCIA: Suker e companhia ficaram por França (Euro 2000)

Um caso semelhante ao sueco. A Croácia encantou no Mundial de França. Envergonhou os campeões da Europa (Alemanha) nos quartos-de-final, esteve com um pé na final, acabando batida pela noite histórica de Lilian Thuram e terminou o torneio no terceiro lugar. Era de esperar continuidade no primeiro Europeu dividido por dois países, mas Suker, Boban e companhia falharam o apuramento. Apenas uma derrota, logo no primeiro jogo, na Irlanda, mas três empates comprometedores não ajudaram nada, especialmente o conseguido na Macedónia. Os outros, frente à vizinha e rival Jugoslávia, que venceu o grupo. A aumentar a dor, o jogo decisivo foi em casa com os jugoslavos, que fizeram a festa do apuramento em Zagreb.

A título de curiosidade refira-se que, de 1982 para cá, apenas a Alemanha conseguiu chegar ao Europeu depois de ser terceira no Mundial (2006 e 2010). Todos os outros falharam: Polonia (82-84), França (86-88), Italia (90-92), Suécia (94-96), Croacia (98-00) e Turquia (02-04)​




8. HOLANDA: Portugal ajudou a roubar viagem ao Oriente (Mundial 2002)

Se Suécia e Croácia vinham de terceiros lugares em Mundiais e falharam o Europeu, a Holanda vinha de um terceiro lugar no Europeu e falhou um Mundial. Antes desta campanha falhada, o último exemplo holandês tinha acontecido em 2002, quando perdeu o apuramento para Portugal e República da Irlanda. Para a história ficou o jogo do Estádio das Antas, que os holandeses estiveram a vencer por 2-0 e permitiram a igualdade, com golos portugueses aos 83 e 90+3 (e de penálti!). A Holanda de Van Gaal, com estrelas como Kluivert, Overmars ou Bergkamp acabou a quatro pontos dos dois primeiros que confirmaram viagem para a Coreia e Japão.



9. GRÉCIA: campeão da Europa não tem espaço no Mundial (2006)

Já tinha acontecido com a Checoslováquia em 1978 e também com a Dinamarca em 1994 (numa eliminação dramática na diferença de golos), mas o último exemplo de um campeão europeu arredado de um Mundial foi o da Grécia, em 2006. Depois da epopeia em Portugal, que culminou no título, os gregos não conseguiram melhor do que ser quartos no grupo 2, atrás de Ucrânia, Turquia e Dinamarca. A derrota na Albânia, logo no início da caminhada, foi o ponto mais negro de um apuramento para esquecer.




10. FRANÇA: Kostadinov, Ginola e o maior fiasco de sempre (Mundial 94)

Para o final, interrompemos a ordem cronológica, para lembrar aquele que será, provavelmente, o maior fiasco de sempre na história dos apuramentos. A França chegou à penúltima jornada da qualificação para o Mundial 94 a precisar, apenas, de um ponto em dois jogos, ambos em casa, para carimbar o passaporte para o torneio norte-americano. Perdeu ambos! E, os dois, de forma dramática. Primeiro com Israel, por 3-2, num jogo que vencia por 2-1 ao minuto 83, permitindo a Berkovic empatar e, depois, aos 89, vendo Reuven Atar confirmar o escândalo no Parque dos Príncipes. Foi o único jogo que os israelitas venceram naquela fase de apuramento.

Nada de grave, pensaram os franceses. Bastava empatar com a Bulgária, novamente em Paris, uns dias mais tarde. Mas aí Kostadinov anulou o tento inaugural de Cantona e, de novo aos 89, após um centro disparatado de David Ginola, que virou réu nacional, o antigo avançado do FC Porto voltou a fazer das suas e colocou os búlgaros no Mundial.