Quem doma dragões, também doma leões. O mote do brasão da Geórgia ajudará a ilustrar o empate, na tarde deste sábado, com a Chéquia (1-1), na segunda jornada do Grupo F do Euro 2024. Em Hamburgo, os comandados de Willy Sagnol resistiram, frustraram o adversário e aplicaram a essência ofensiva.

Todavia, o empate não agradou a ninguém. A Chéquia dominou, sobretudo no fim, mas foi incapaz de dobrar Mamardashvili. Por sua vez, os georgianos desperdiçaram da derradeira oportunidade.

Recorde, aqui, o filme deste jogo.

O nome maior da partida escreveu-se desde princípio. Aos 23 anos, Mamardashvili agigantou-se perante a impetuosidade ofensiva checa. O guardião revelou-se determinante para conservar o nulo, uma vez que, em cinco minutos, a Chéquia superou o total de remates feitos ante Portugal (5).

Em todo o caso, a nota dominante foi a vontade – parte a parte – em arrecadar a vantagem e, potencialmente, o terceiro lugar do grupo. Todavia, a Geórgia revelou-se de pólvora seca, desprovida do engenho para visar a baliza de Stanek.

Por isso, ao cabo de meia hora, havia 13 remates checos para nenhum dos georgianos. Em simultâneo, Mamardashvili encaixava seis defesas.

Pouco antes, aos 23m, Hlozek fez golo, mas foi traído pelo próprio braço. Uma vez mais, Mamardashvili aproveitou para brilhar.

Entre faltas e cartões amarelos, a turma de Sagnol encontrou a via do ataque, por fim, aos 36m. Guiados por Kochorashvili e Kvaratskhelia, a Geórgia forçava a Chéquia a recuar e a ceder sucessivos cantos.

Depois de, aos 38m, efetuarem o primeiro remate, os georgianos espreitaram a vantagem por Kashia. O capitão – e defesa central – rodou na pequena área, após livre cobrado à direita, mas foi travado por Stanek. Em todo o caso, milésimas de segundo antes, o esférico desviou no braço de Hranac.

Sim, Hranac, o defesa que marcou autogolo a favor de Portugal e que «assistiu» Francisco Conceição. Desta feita, cedeu penálti e Mikautadze agradeceu. O avançado da Geórgia capitalizou a oportunidade para se juntar aos melhores marcadores do Europeu (2 golos).

Na etapa complementar, a Geórgia replicou a pressão ofensiva, contra-atacando com velocidade e critério. Em todo o caso, a Chéquia apenas precisou de 10 minutos para virar a narrativa e voltar a assumir a batuta.

Assim, aos 59m, entre cantos, Patrick Schick contou com a ajuda do poste para repor a igualdade. Após cabeceamento de Lingr – entrado quatro minutos antes – o ponta de lança encostou com o peito para a estreia a marcar neste Europeu.

Quatro minutos volvidos, Krejci replicou a receita e ameaçou a reviravolta, mas apenas tirou tinta ao poste direito.

Entre trocas, cartões amarelos e muito desgaste, a Geórgia foi incapaz de recupera o ritmo da partida, remetendo-se à defesa do empate. Até final, Mamardashvili continuou intransponível.

No último lance do encontro, quando a Chéquia atacava com nove unidades, a Geórgia espreitou um golpe de teatro. No derradeiro contra-ataque, os protegidos de São Jorge correram na direção de Stanek. Parecia escrito, o sonho georgiano.

Todavia, Lobjanidze rematou por cima, decretando o silêncio em Hamburgo. O alívio e o desespero. A frustração conjugada por todos, pela ineficácia do controlo e pelo desacerto no contra-ataque.

Assim, Chéquia e Geórgia somam um ponto, aguardando pelo desfecho do Portugal-Turquia. A ambição de alcançar os «oitavos» complica-se, pelo que as seleções estão obrigadas a vencer.

Na última jornada, a Geórgia joga ante Portugal. Por sua vez, a Turquia medirá forças com a Chéquia. Ambas as partidas estão agendadas para a noite de quarta-feira (20h).

A figura do encontro: o muro georgiano

Mamardashvili, de 23 anos, foi a estrela desta partida. A decisão ficou confirmada em cima do intervalo, quando o guardião do Valência travou Patrick Schick, com a ponta dos dedos, em resposta ao 1-0. Encaixou 11 defesas, algumas vistosas, e foi o responsável pelo crescimento da Geórgia.

Na reta final da partida, liderou a linha defensiva para o empate, abrindo espaço para a esperança no triunfo. Será nome maior da estreia da Geórgia num Europeu. Resta saber se Mamardashvili permanecerá em Valência. Exibição fantástica.

Foi o «homem do jogo» para a UEFA e para o Maisfutebol. Para nós, inclusive, seria o melhor em campo, independentemente do desfecho do encontro.

O momento: um ponto e dois ali tão perto

No derradeiro momento da partida, Lobjanidze teve nos pés a hipótese de castigar a ineficácia checa. Todavia, atirou por cima, na cara de Stanek. Um momento de amargura, e de algumas lágrimas, numa fase em que a Geórgia se dava por feliz com o empate.

Seria novo golpe de teatro neste Europeu. Em todo o caso, quem se predispõe a sofrer, mas define com critério e ambiciona sempre atacar e vencer, merece todo o crédito. Esta seleção da Geórgia parece surgir para permanecer em fases finais. A seguir com atenção.