Juary, a arma secreta do F.C. Porto, o jogador que assistiu Madjer para o célebre toque de calcanhar em Viena e que marcou o golo da vitória na final da Taça dos Campeões Europeus frente ao Bayern Munique (2-1) esteve para não jogar. No dia do jogo, a 27 de Maio de 1987, o veloz avançado infringiu uma regra ditada por Artur Jorge no Hotel City Club, longe do centro de Viena. Os jogadores não podiam sair dos quartos, eram aconselhados a permanecer recolhidos e concentrados para o embate titânico com os alemães. «Mas eu não aguentei mais e fui dar uma volta na manhã do jogo», recorda ao Maisfutebol o antigo avançado, actual funcionário da Fundação Municipal de Esportes do Rio do Sul, no estado brasileiro de Santa Catarina.
O passeio resumiu-se a uma passagem pelo hall do hotel e em direcção ao bar que dava acesso à sauna colectiva, onde os turistas procuravam matar o tempo. O brasileiro teve azar. Octávio Machado estava à conversa com Teles Roxo, na altura dirigente do F.C. Porto, e com Artur Jorge. Foi o único que o viu passar: «Viu-o passar e fui ter com ele. Disse-lhe que um jogador profissional não devia estar naquele local e ainda para mais no dia da final», recorda o ex-adjunto. Juary ficou com medo e dirigiu-se ao quarto, onde permaneceu até à hora do almoço. Mas o erro continuava a importunar-lhe a mente. As horas passavam e «o medo de não poder jogar a final da Taça dos Campeões Europeus» fustigava-o impiedosamente.
Até que chegou a hora do almoço. Quando todos entravam no restaurante, Juary ficou à porta e esperou por Octávio Machado. «Perguntou-me, o mister já me lixou, não foi? O Artur Jorge já sabe e não vou poder jogar logo à noite». Havia motivos para estar preocupado. «O Octávio era o segurança do Artur, era os olhos e os ouvidos do treinador». Mas para espanto do brasileiro, o adjunto respondeu-lhe aquilo que nunca imaginou ouvir: «Este episódio fica só entre nós, mas quando o Artur precisar de ti, logo à noite, vou estar atento ao que vais fazer. Tens de marcar um golo». Juary entrou ao intervalo para o lugar de Quim, assistiu Madjer para o célebre toque de calcanhar e marcou o golo da vitória frente ao Bayern Munique.
«No final do jogo, o Octávio veio ter comigo e disse-me ao ouvido: ainda bem que não disse nada ao Artur...». Mas curiosamente o golo de Juary, marcado ao sabor de um cruzamento de Madjer, foi trabalhado na semana anterior à final de Viena e numa altura em que se pensou que o brasileiro não podia jogar. «Duas semanas antes, lesionei-me frente ao Boavista. Estive para não jogar. Mas, aos poucos, comecei a treinar e o Octávio insistiu comigo nos cruzamentos. Ele cruzava e eu só tinha de encostar a bola com a baliza aberta». A lesão era no pé direito. Foi assim, num cruzamento do lado esquerdo, com o pé direito magoado algum tempo antes, que marcou o golo da vitória do F.C. Porto. «Foi uma coisa maravilhosa», recorda o brasileiro.