Corria o ano de 1976 quando, a 30 de Dezembro, a cidade de Stara Zagora e o Barreiro, um município de Setúbal, chegaram a acordo para uma germinação, dando-se assim a adoção do nome da cidade para uma rua na urbe da Margem Sul.

Os seus moradores, que sempre jogaram futebol numa espécie de terraço, ao terem conhecimento do clube que representa a cidade de Stara Zagora na Bulgária (o Beroe), tornaram-se fiéis seguidores do clube búlgaro até hoje. Fiéis de tal forma que, quando se juntam para jogar futebol, equipam-se com as cores do próprio Beroe.

O MaisFutebol falou com Ricardo Cabrita. Morador no Barreiro, foi o porta-voz desta curiosa história.

«Descobri o Beroe através da Internet, mas um dos moradores desta rua é jogador amador e chegou a treinar na equipa B do Benfica com o Livramento que, mais tarde, jogou no Beroe Stara Zagora», disse.

Ricardo Cabrita e os seus amigos de infância sempre acharam invulgar o nome da rua e até nos revelou a existência de um mito urbano: a rua destes amigos pertencia à Bulgária!

«Nós sempre achamos estranho, de facto. A rua, inicialmente, chamava-se D. Manuel de Melo. Mas acabou por dividir-se em duas. Uma metade com o mesmo nome e outro com o nome de Stara Zagora. Surgiu então esse mito, de que a rua pertencia à Bulgária e que houve uma troca entre as cidades», contou.

Tornaram-se, então, adeptos de um clube médio de um país longínquo. Porquê? Ricardo admite que começaram a sentir um amor diferente pelo emblema búlgaro.

«Ganhámos um carinho especial e acompanhámos o clube através da Internet. Sabemos que estão em sétimo lugar e na final da Taça da Bulgária. Temos um grupo privado na net onde colocámos todas as novidades do clube, resultados, jogos e notícias».

«Somos Stara Boys porque há poucas raparigas aqui»

Os Stara Boys, nome do grupo de amigos da rua no Barreiro, foi escolhido porque a maioria das crianças daquela rua eram rapazes. O nome surgiu uns tempos após a germinação e adoção do nome àquela rua. E Ricardo Cabrita afirmou que, todos os anos, organizam um jantar de Natal onde se reúnem todos aqueles que jogaram futebol naquele local.

«Vivemos e brincámos aqui. A rua é especial para nós. O nome Stara Boys foi escolhido por existirem poucas raparigas aqui na rua», afirmou.

Os moradores da rua do Barreiro decidiram, finalmente, contatar o FC Beroe Stara Zagora e contar a tal história. Foi Ricardo Cabrita que transmitiu tudo com vista a alcançar a hipótese de terem o equipamento do clube e poderem usá-lo.

«Contactei primeiro o Livramento para saber se era possível comprar as camisolas ao clube porque queríamos jogar com as cores do Beroe por causa do nome da rua».

Não conseguindo, Ricardo avançou para o FC Beroe e conseguiu uma resposta. Positiva! «Como isso não avançou, falei através da página oficial do Facebook do Beroe com alguém relacionado com o clube. Mostraram-se extremamente contentes com a história e aceitaram enviar-nos equipamentos para todos gratuitamente. Em troca, apenas tínhamos enviar-lhes fotografias».

«Temos o sonho de criar o Beroe aqui em Portugal»

Ricardo Cabrita contou que tem mesmo o sonho de criar uma espécie de clube filiado do Beroe aqui em Portugal e até lhes transmitiu esse desejo.

«Sim, temos. Mas é mais um sonho pessoal. Sempre quisemos praticar futebol federado com o nome da nossa rua. Chegámos a abordar esse tema ao Beroe e até nos disseram que era uma boa ideia. Dispuseram-se a apresentar-me a cidade, o clube, as instalações e falar pessoalmente com eles, caso eu fosse à Bulgária», afirmou.

Fundamentalmente, os Stara Boys são um grupo de amigos que tem lembranças inesquecíveis de uma rua especial. Às terças juntam-se para jogar futebol. Devidamente equipados.

«Somos assíduos no futebol de sete contra equipas de outras ruas e sempre equipados à Beroe», finalizou.