Estamos na 11ª jornada, mas já podemos ter uma certeza: este campeonato não será igual aos anteriores. Basta olhar para a classificação e reparar que o FC Porto tem uma derrota, algo que não acontecia há 54 jogos.

Uma derrota, dirá o leitor, não é nada de especial. Mesmo na vida de um grande, mesmo em Portugal.

Percebo o ponto. Mas discordo. 

O extraordinário trabalho do FC Porto desde Jesualdo Ferreira, abrilhantado na época eufórica de Villas-Boas e continuado de forma eficaz e competente por Vítor Pereira projetou a equipa para um patamar invejável. O FC Porto tornou-se a equipa que não falha, que nunca perde. Ou que só perde em condições absolutamente extraordinárias.

Tudo isso acabou. Não digo que acabou de vez, não é isso. Acabou no sentido em que não existe agora.

Este FC Porto perde. Já perdia com uma facilidade inesperada na Liga dos Campeões, em casa. Agora também perdeu em Coimbra. Pelo meio, empates comprometedores, uns atrás dos outros. A diferença face ao passado das últimas épocas torna tudo pesado, sombrio, imagino que quase insuportável.

E por que falha agora o FC Porto? A resposta depende do momento em que se pergunta.

Antes do jogo desde sábado, a simples ideia de perguntar parecia uma provocação. Pelo menos do ponto de vista do treinador do FC Porto, para quem, recorde-se, bastaria um retoque na finalização para o campeão se tornar uma equipa perfeita. Na quinta-feira, a evolução era «notória», para o treinador. E na realidade não era.  

Depois do jogo em Coimbra, as explicações já foram diferentes. Faltou «determinação e agressividade». O FC Porto não foi, afinal, «uma equipa à Porto». Lucho, o capitão, receitou um pouco mais de cada um dos jogadores.

Pode ser que treinador e jogador tenham razão, que as explicações estejam na atitude, na entrega, na agressividade. No psicológico, mais do que no tático, técnico ou físico. Sinceramente, tenho dúvidas.

É verdade que o FC Porto criou muitas oportunidades frente ao Nacional. Mas qualquer grande cria muitas oportunidades em casa com equipas como a de Manuel Machado. Isso só por si não significa grande coisa, até porque o Nacional gosta de ficar atrás, oferecer a bola e sair rápido. É a sua natureza.

Olhar só para isso, como fez Paulo Fonseca, é curto. Nesta altura, o FC Porto tem problemas em todos os setores. Nada parece perfeito e nenhuma solução dá sinais de poder recolocar a máquina a funcionar. Claro que nem tudo é assim tão mau. Mas o simples facto de parecer mau não ajuda, além de irritar os adeptos e pressionar os jogadores.

Do meu ponto de vista, o principal problema continua por resolver há semanas: quem para jogar ao lado de Fernando? Esta noite foi Josué, que assinou uma exibição cheia de erros. O primeiro foi logo no minuto inicial, ao cometer falta para grande penalidade que o árbitro perdoou. Antes tinha sido Herrera. E antes e depois do mexicano, Defour.

Com Josué ali, Quintero foi remetido para a ala. Os adeptos adoram Quintero, mas o colombiano precisa de aprender tudo sobre jogo coletivo. Nesta fase da sua vida pode ajudar a partir do banco. Pedir mais do que isso é ter pouca noção de quão perdido ele aparenta estar em algumas fases do jogo.

Face ao problema do meio-campo, todos os outros parecem relativamente menos graves. O centro da defesa (sem Otamendi é mais difícil construir com qualidade a partir de trás, o que leva a maior número de bolas perdidas), as alas (Varela entra e sai da equipa sem que se perceba porquê), uma companhia para Jackson.

Estes são os problemas da equipa.

Além destes, Paulo Fonseca tem um outro: o discurso.

O treinador do FC Porto não pode dizer na quinta-feira que é fiel às suas ideias, que não acredita em mudanças repentinas e no sábado experimentar três sistemas diferentes no mesmo jogo! 

Colocar Licá ao lado de Jackson foi um ato de desespero. Como Paulo Fonseca saberá melhor do que eu, raramente as soluções menos treinadas, menos trabalhadas poderão ser o caminho mais curto para o sucesso. Tentar fazer de Licá segundo ponta-de-lança foi péssima ideia. Acabar a jogar com três defesas só serviu para acentuar a imagem de equipa perdida, sem referências, à beira do colapso.

Não vejo em Paulo Fonseca o único culpado pelo que se passa. Longe disso. É bem possível que os jogadores não estejam a conseguir dar tudo em campo. E é evidente que algumas das soluções pensadas para o plantel entre junho e agosto saíram erradas, ou pelo menos ainda não funcionaram. 

Apesar de não olhar para Paulo Fonseca como a fonte dos problemas, reparo que neste momento o treinador não está a conseguir passar para fora a imagem de que sabe para onde vai. Nos próximos tempos saber-se-á se pelo menos está a convencer a estrutura portista.