Só quem esteve dentro da sala de contagem de votos saberá o que realmente se passou na longa madrugada das eleições do Sporting. E mesmo assim acredito que nem todos. É imprudente, e até deselegante, duvidar da palavra de pessoas com cargos institucionais que garantem ter Godinho Lopes estado sempre à frente na votação. Mas é impossível não achar que ficou algo de muito mal explicado em toda a história.

Quando toda a comunicação social avançou com a informação da vitória iminente de Bruno de Carvalho isso não resultou certamente de um delírio colectivo. Quando os apoiantes da lista C se dirigiram a Alvalade não foi por impulso de inspiração estelar. Mais: quando os próprios adversários reconheceram a derrota, em público e em sobretudo em privado, não estariam a integrar de livre vontade um qualquer número de circo.

Soares Franco bem avisara, logo pela manhã, que a multiplicação de listas e soluções era sinal de divisionismo, mais que de vitalidade. É difícil, neste domingo de pós-guerra, imaginar o que espera o Sporting. Anuncia-se que Bruno de Carvalho pode impugnar o acto eleitoral; provavelmente outras listas movimentar-se-ão e não é de excluir, em tese, a possibilidade de o caso ir parar aos tribunais. Entretanto o clube pára. Ou pior: prossegue a sua queda teimosa por um poço negro abaixo, sem que se perceba exactamente onde está o fundo (não, não é um trocadilho fácil com fundos de investimento).

Uma coisa é certa, e já o seria mesmo antes da reviravolta das cinco da manhã: um clube da dimensão que o Sporting quer manter não pode ter um processo eleitoral tão arcaico. É uma vergonha a primeira informação oficial sobre resultados ser prestada mais de oito horas - isso, oito horas! - depois de terem fechado as urnas. Mais: Bruno de Carvalho foi ao palanque acalmar os seus apoiantes numa altura em que era tão fiável a informação da vitória de Godinho Lopes como fora, nas longas horas anteriores, a sua própria.

Não sei se o voto tem de ser electrónico ou de braço no ar. Sei que no século XXI isto não é admissível. Presumo que o processo eleitoral esteja muito longe de terminado. E temo que Godinho Lopes reúna muito poucas condições para um mandato estável e tranquilo depois de todo este nevoeiro. A não ser que a dupla Duque/Freitas opere um milagre e a nova equipa de futebol desate a ganhar jogos, na próxima época, como cão que pisa vinha vindimada.

*Editor Desporto TVI

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