Ponto final na longa história que afastou Seba dos relvados. A equipa do Restelo comemorou de forma apoteótica, com uma exibição memorável e uma mão cheia de golos. Os cinco golos apontados ao Desportivo das Aves não resumem a exibição do Belenenses que foi muito mais além. Uma tarde de sol, um relvado em excelentes condições e público quanto baste foram os primeiros ingredientes de um magnífico banquete que estava para ser servido. Faltavam apenas os onze homens vestidos de azul e a bola. 

Quando estes subiram ao relvado, deu-se o início de um espectáculo que só viria a terminar 90 minutos depois. A defesa do Aves vinha incumbida de fazer uma marcação cerrada aos avançados azuis. No entanto, estes encarregaram-se de desmontar essa estratégia e demonstrar quanto ineficaz esta era. Marcão, Seba, Guga e Verona montaram um verdadeiro carrocel à frente da área do Aves e, sempre com a bola rente ao chão, colocaram em pouco minutos o adversário KO. 

Cumprido o primeiro objectivo, o Belenenses partiu para os golos. O primeiro: arrancada de Seba por entre os centrais do Aves, simulação, e toque subtil a desmarcar Marcão na direita. O brasileiro teve tempo de agradecer antes de fuzilar Tó Luís. Tinha começado a festa. O segundo: na sequência de um livre de Tuck da esquerda, Filgueira, fulgurante, vindo de trás em corrida, coloca a cabeça e bate novamente Tó Luís. O terceiro: Verona, com a bola colada ao pé direito, arranca da esquerda para o centro, deixa Luís Cláudio pregado ao relvado, e cruza tenso para a entrada de Guga que limitou a encostar o pé. Finalmente, o quarto: Guga entre na área com um drible constante, pede licença a Marco Aleixo antes de o ultrapassar e dirigir-se para a balzia. Enfrentou Tó Luís de frente e optou por colocar a bola à sua esquerda. 

Num ápice, o Belenenses vencia por 4-0. Mas o espectáculo ainda não tinha terminado. Até ao final do primeiro tempo a equipa do Restelo, menos acutilante, mas muito mais requintada, continuou a oferecer doses e doses de bom futebol. Houve tempo para todos os jogadores exibiram o seu respectivo arsenal de truques para gáudio da assistência. O Desportivo das Aves juntou-se ao público e pouco mais podia fazer do que assistir «show» que o adversário estava a proporcionar. 

O intervalo interrompeu a festa quase definitivamente. No segundo tempo, o Belenenses recuou à espera de uma natural reacção do adversário. No entanto, esta nunca surgiu. O Aves, ainda atarantado, mostrava-se receoso e raramente passava do meio-campo com a bola controlada. O espectáculo parecia mesmo ter chegado ao fim. Mas Marinho Peres resolver lançar um pouco mais de sal e o repasto ganhou um novo sabor. Eliel rendeu Verona e o espectáculo recomeçou. O carrocel voltou a funcionar e o marcador também. Eliel, numa rápida descida pela esquerda, levantou a cabeça, encontrou Marcão e colocou-lhe a bola à disposição. Com tempo para tudo, o brasileiro atacou o esférico de cabeça e estabeleceu o resultado final. 

Duas palavras para o Aves: não existiu. A equipa de Carlos Carvalhal constituiu-se por onze fantasmas em campo. Não acertaram nas marcações, nos passes e colaboraram de forma evidente na boa exibição do adversário. Mas a inércia do Aves não tira valor ao futebol de luxo dos azuis. Se me permitem, fica aqui um conselho: comprem um bilhete e vão ao Restelo. Vale mesmo a pena.