Ainda o pai perseguia a bola sem sinal de dor ou ataque súbito de reumático, quando Márcia nasceu. Há 24 anos, no Porto, dias depois de Octávio erguer uma Taça de Portugal no Jamor e alguns meses antes de o F.C. Porto, treinado por José Maria Pedroto, quebrar um longo jejum de 19 anos e conquistar o título.  

Márcia «só podia ser portista», observa o pai babado. Mas só hoje, formada em Medicina Dentária, se fez sócia, pela mão do treinador, que aproveitou a campanha de angariação de associados e deu o exemplo, garantindo um lugar anual gratuito na bancada superior para a filha, que só tem de pagar as quotas. 

«Ficou muito feliz», conta Octávio, que telefonou a Márcia, a anunciar-lhe o que faria horas depois na secretaria do clube. Diz o treinador, orgulhoso, que a filha é quem mais acompanha a carreira do pai e «quem mais sofre» com ele. «Não perde uma», ri. «Ganhe ou perca, é a primeira pessoa a ligar-me depois dos jogos». Mas não se atreve, assegura o técnico, a sugerir-lhe uma alteração de estratégia ou a questionar as substituições. 

Octávio também nasceu no Porto. Não o pai, mas o filho. «O júnior», de 26 anos, sorri de novo o treinador. Ocupado com as vinhas e com o curso de vinhos, procura manter-se um pouco à margem do futebol, mas «vive e sofre pelo F.C. Porto e pelo pai», diz o Octávio mais velho, que, por sinal, também não é sócio. Foi-o em tempos, deixando de pagar as quotas por razões que não esclarece. Ainda assim, diz que «já há muitos portistas em Palmela». Pelo menos, lá em casa não faltam.