A 'World Cup Experts Network' reúne órgãos de comunicação social de vários pontos do planeta para lhe apresentar a melhor informação sobre as 32 seleções que vão disputar o Campeonato do Mundo. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Leia os perfis completos das seleções que participarão no torneio:

Autores dos textos: John Duerden
Parceiro oficial na Coreia do Sul: Footballist 
Revisão: Filipe Caetano


Quando Hong Myung-bo foi nomeado selecionador da Coreia, em julho do ano passado, depois da equipa ter lutado muito pela qualificação com Choi Kang-hee, anunciou que estava na altura de regressar aos princípios fundamentais: jogar em contra-ataque com jogadores rápidos nas alas a tentarem entrar nas costas do adversário e uma equipa pressionante. Estas ideias surgem em oposição à táctica de lançamento de bolas longas impostas pelo antecessor e que nunca se ajustou realmente a uma formação recheada de jogadores dotados tecnicamente.

Para Hong o 4x2x3x1 foi chave na vitória num amigável recente com a Grécia e tem sido essa a aposta que tem feito desde que orienta a equipa, embora sugira alguma flexibilidade. Já utilizou o 4x4x2, mas sem grande sucesso, especialmente na derrota por 4-0 imposta pelo México em janeiro (com um onze titular altamente experimental).

O carismático treinador de 45 anos, que levou os sub-20 aos quartos-de-final do Mundial de 2009 e depois os sub-23 a uma medalha de bronze nas Olimpiadas de 2012, tem-se deixado influenciar pelo futebol holandês. Quando era jogador, com 136 internacionalizações, foi capitão na fantástica equipa orientada por Guus Hiddink que alcançou as semi-finais do Mundial em 2002 (e seu assistente durante seis meses no Anzhi Machachakala, em 2013), tendo alcançado a sua primeira experiência como treinador quando fez parte da equipa técnica de Dick Advocaat no Mundial de 2006, antes de se tornar adjunto de Pim Verbeek na Taça da Ásia, em 2007.

O que Hong descobriu quando assumiu o lugar em julho é que a Coreia tem mais soluções em algumas zonas do que outras. Os defesas-centrais são um problema e apesar do país conseguir produzir muitos jogadores para esta posição, não existem neste momento soluções de grande qualidade. A defesa é, aliás, um assunto para resolver, dados os muitos golos concedidos na fase de qualificação, o que quase custou o apuramento para o Brasil. Enquanto Hong Jeong-ho e Kim Young-kwon tentam acertar rotinas na zona central da defesa, o guarda-redes também é um problema e isso faz-se sentir nos jogos, com a falta de confiança.

O médio defensivo Ki Sung-yeung tem tendência a ser mais ofensivo na seleção do que normalmente é no Sunderland, mas no Mundial deverá ter maiores preocupações defensivas, considerando a falta de credibilidade e segurança do setor mais recuado. A Coreia troca a bola com maior conforto no seu meio-campo, mas continua sem se saber quem vai jogar ao lado de Ki, com Han Kook-young e Park Jung-woo a disputarem o lugar.

Onde a Coreia apresenta bons sinais é no trio que joga atrás do ponta-de-lança. Lee Chung-yong, o jogador mais dotado do país, surge à direita e tudo indica que Son Heung-min surgirá no lado oposto. Ambos são rápidos, mas enquanto Lee aposta mais na rapidez e nos cruzamentos, Lee procura encontrar espaço para rematar quando chega à área. Pode vir a ser um grande torneio para o talentoso jogador de 21 anos.

No centro do meio-campo ainda está um lugar em disputa, com Lee Keun-ho, Kim Bo-kyoung e Ji Dong-won à espreita de uma oportunidade, mas o favorito é Koo Ja-cheol. O médio combativo e capitão da equipa medalhada no Jogos Olímpicos de 2012 deve ser titular, mas falta-lhe alguma criatividade para assumir o papel de número dez.

O ponta-de-lança será Park Chu-young, embora pouco tenha jogado pelo Arsenal nos últimos três anos (foi emprestado ao Celta de Vigo em 2012/13). A verdade é que não existem muitas outras opções. Kim Shin-wook é o rival mais próximo, considerando que foi o melhor marcador da Liga coreana nos últimos dois anos. O «Peter Crouch coreano» pode ser perigoso em bolas longas e cruzamentos, mas continua a falhar muitas oportunidades.

Que jogador vai surpreender neste Mundial?
Lee Chung-yong. O extremo do Bolton Wanderers adaptou-se com alguma facilidade à Premier League logo a partir de 2009, quando chegou do FC Seul. No final da segunda época esteve quase a mudar-se para o Liverpool, mas partiu a perna na pré-época durante um amigável. Viria a regressar apenas na última jornada da época, quando a equipa já sabia que ia descer de divisão. A vida no Championship não tem sido fácil e enquanto alguns dizem que não voltou a ser o mesmo jogador depois da lesão, outros consideram que a sua qualidade não deveria estar limitada ao segundo escalão. Lee tem conseguido alcançar o seu melhor nível desde que Hong é o selecionador, como ficou demonstrado nos amigáveis com a Suíça, o Haiti e o Brasil. Normalmente joga à direita, mas também pode surgir à esquerda, apresentando enorme rapidez com os pés, mas dificuldades na finalização.

Que jogador vai dececionar no Brasil?
Jung Sung-ryong. Poderia ser o número 1 no Mundial, como tem sido há quatro anos, mas nos últimos tempos não tem inspirado tanta confiança. Parece um guarda-redes perfeito, alto, forte e ágil, mas os erros nunca desapareceram, mesmo no momento de melhor forma, como em 2010/11. Uma série brutal de erros no clube e na seleção em 2013 custou-lhe a titularidade temporariamente, mas regressou aos postes contra a Grécia em março e pelo menos não sofreu nenhum golo, mesmo com a ajuda dos postes e alguma sorte.

Qual é a expetativa real para a seleção no Mundial?
Oitavos-de-final. A ambição da Coreia é ser presença assídua na segunda fase da competição e como isso aconteceu duas vezes nos últimos três torneios a intenção é voltar a repetir o feito no Brasil, mostrando que a Coreia é um dos poderes no futebol mundial. O primeiro jogo, com a Rússia, é tremendamente importante para o resultado final e um bom resultado será fulcral para o apuramento. A equipa pode vencer qualquer um dos três jogos, num grupo muito equilibrado. Pode faltar experiência ao selecionador, mas já tem demonstrado excelentes resultados em fases finais.



Curiosidades e segredos da seleção

Lee Chung-yong
Lee aceitou o conselho de um ex-selecionador nacional e abandonou a escola, o que é pouco usual num país em que a maioria dos profissionais de futebol vêm das universidades. Mas, no fundo, Lee só quis aproveitar um buraco na lei (entretanto tapado) que não exigia o serviço militar a quem não terminasse o liceu.

Park Jung-woo
O futebol está cheio de altos e baixos, mas Park experimentou um alto e um baixo na carreira em apenas dez minutos. Após o apito final do jogo que deu a medalha de bronze à Coreia nos Jogos Olímpicos de 2012, a seleção festejou com enorme intensidade. A vitória sobre o Japão deu aos 18 jogadores a isenção de serviço militar durante 21 meses. Um adepto deu a Park uma faixa que dizia em corenao «Dokdo é nosso», referindo-se a um arquipélago administrado pela Coreia, mas que é reclamado pelo Japão. O médio, para sempre denominado «Dokdo man» na sua terra-natal, agitou a faixa por cima da sua cabeça, num ato que o excluiu da cerimónia de entrega de medalhas, realizada no dia seguinte em Wembley. Só viria a recebê-la em 2013.

Koo Ja-cheol
O médio tem o hábito de irritar as pessoas. Um jogador japonês disse após o tal jogo de atribuição da medalha de bronze nas Olimpiadas de 2012 que Koo era o jogador mais irritante que já tinha enfrentado. Franck Ribery foi expulso depois de esbofetear Koo durante um jogo da Bundesliga em 2012. Antes, em 2011, já tinha protagonizado uma batalha campal com o colega no Wolflsburgo, o ex-internacional brasileiro Josue.

Lee Keun-ho
Se durante a cerimónia dos hinos antes dos jogos da Coreia reparar num dos jogadores que não tenha a mão no coração, mas antes esteja a saudar a bandeira do seu país, é muito provável que seja Lee. O avançado entrou no exército dias depois de ter sido considerado em 2012 o melhor jogador da Ásia.

Park Chu-young
Com um QI superior a 150, Park está no top 0,1% do mundo no que diz respeito ao poder cerebral. O avançado fala várias línguas e aparentemente aprendeu rapidamente francês na sua passagem pelo Mónaco. Não jogou muito nos três anos de contrato pelo Arsenal, por isso teve muito tempo para aprender.

Perfil de uma figura da seleção: Park Chu-young



Há não muito tempo os países da Ásia Oriental consideravam que os adolescentes podiam sair benificiados da osmose com o samba brasileiro e foi assim Kazu Miura viajou para aquele país quando tinha 15 anos em 1982 (e continua a jogar na II Divisão do Japão passados tantos anos), assim como o chinês Li Weifeng (Everton) e o internacional coreano Park Chu-young.

Apesar de suportado financeiramente pelos Pohang Steelers, quando regressou ao seu país Park assinou um contrato de profissional com os rivais do FC Seoul, incomodando muita gente. Mas foi um sinal do que seria a sua carreira. O avançado do Arsenal raramente joga, quase nunca fala e tem com um QI de perto dos 160 quase que pode ser considerado um génio, também na forma como engana as pessoas.

De regresso ao Brasil quase uma década de depois, o jogador de 28 anos tem a oportunidade para assegura que a sua fama, pelo menos na Coreia, pode vir a ser positiva. É a sua chance de colocar os problemas dos últimos três anos atrás das costas, nomeadamente a passagem frustrante pelo Arsenal, onde só jogou sete minutos na Premier League, considerando que ajudou a sua seleção a apurar-se para a fase final do Campeonato do Mundo.

Não é a primeira vez que isto acontece, apesar de no último Mundial estar a jogar com regularidade no Mónaco. Na África do Sul marcou um livre, o que não era nada fácil com a jabulani, no empate com a Nigéria (2-2) que garantiu a passagem aos oitavos-de-final. Park teve uma boa terceira época em France, embora os 12 golos marcados não tenham impedido a descida do Mónaco à II Liga. Apesar do convite do Lille, optou pelo Arsenal depois de um telefonema de Arsène Wenger, mas a escolha revelou-se errada.

A chegada de Hon Myong-bo ao cargo de selecionador nacional em julho de 2013 foi um golpe de sorte para Park, uma vez que já o conhecia depois de ter sido um dos três jogadores a ser chamado para a equipa Olímpica de 2012, onde acabou por fazer a diferença. Agora, os coreanos esperam que ele volte a ser um líder. Um Park em forma pode fazer a diferença nas aspirações da equipa, pelo que a questão é até que ponto ele está em condições de ajudar.