Adilson Maringá relatou o horror vivido no encontro entre o Arema e o Persebaya, disputado no estádio Kanjuruhan, em Malang. O guarda-redes brasileiro, que passou por Portugal, assistiu aos momentos de terror que resultaram na morte de 125 pessoas.

«Foi uma cena lamentável. Após os jogos, temos o hábito de cumprimentar os adeptos e ficamos alguns minutos no campo ainda. Fizemos isso, mas depois vimos que estava a haver uma invasão. Os polícias pediram-nos para sair do campo e nós saímos normalmente, a andar, só que a invasão foi tão grande que os polícias não conseguiram contê-la. Se repararem no vídeo, eu sou o último a sair. Quando estou a sair vem um grupo de mais ou menos umas oito pessoas que me agarra. E eu já não conseguia sair... Aí temi pela vida», começou por contar ao Globo Esporte.

O ex-Vilafranquense, Pinhalnovense, Beira-Mar e Desportivo de Aves acabou por ter ajuda de um polícia. «Apareceu um polícia que me ajudou, consegui escapar e corri para o balneário. Depois de entrarmos aconteceu a selvageria. Eles invadiram, os polícias tentaram contê-los, mas não conseguiram, eram poucos agentes para tanta gente. Então mataram ou pisaram dois agentes, que vieram a morrer. Depois, a revolta dos polícias foi grande e começaram a lançar bombas. E aí começou a selvageria», acrescentou ainda. 

Maringá refugiou-se no balneário juntamente com os colegas do Arema durante várias horas, sem saber do que verdadeiramente estava a acontecer no relvado.

«Ninguém sabia de nada. Ficámos no balneário durante cinco ou seis horas. Só se ouviam gritos, barulho de bombas e ninguém sabia dizer-nos nada. Tememos muito pela nossa vida dentro do balneário. Só pensávamos: 'Vão invadir o balneário e matar toda a gente que está aqui dentro'», relatou. 

«Medo» e «cenário de guerra» foram algumas das palavras proferidas pelo guardião que admitiu ter visto «pessoas mortas como animais».

«Ninguém sabia dizer nada, pediam-nos calma. Havia pessoas a chorar e só sabíamos o número de mortos. Pensei que aquilo ia tornar-se numa guerra sem fim e que nos ia atingir lá dentro. Veio o exército, carros blindados e a guerra campal continuava. Depois as coisas acalmaram e conseguimos sair do estádio às 4 da manhã. Quando saímos, vimos o desastre no campo e fora dele. Lamentável, nunca tinha vivido uma coisas destas na vida. Pessoas mortas como animais e o número só aumenta. Há muitas pessoas nos hospitais que está por um fio. Estamos sem cabeça nenhuma para jogar futebol e com medo» concluiu.