23 de Agosto. Chegou o dia que Fernando Torres escolheu para jogar o último jogo como profissional. Pela frente, o ainda jogador do Sagan Tosu terá o Vissel Kobe dos amigos Andrés Iniesta e David Villa. E um deles resolveu despedir-se do futebolista «El Ñino» de uma maneira especial.

Esta sexta-feira o jornal espanhol El Mundo traz uma carta escrita por Iniesta para Fernando Torres. Um testemunho pessoal, tocante, e que deixou o amigo emocionado.

Fernando Torres partilhou a carta no Twitter e escreveu: «Hoje acordei a saber que jogo o meu último jogo como profissional e pensando que iria encarar com normalidade. Depois li a carta de um amigo e começo a emocionar-me. Obrigado amigo Iniesta.

Leia a carta de Iniesta na íntegra:

«Que estranho. Não me digas que não, Fernando. É muito estranho, diria que estranho de uma forma bonita. Aqui estamos os dois prestes a jogar o teu último jogo como profissional. A mim ainda me falta. Aqui estamos, do outro lado do mundo. É como se a vida, caprichosa, nos tivesse trazido ao Japão para nos despedir-nos.

O futebol uniu-nos há 20 anos, quando éramos uns miúdos. Bem, tu serás para sempre El Niño. E não vai separar-nos nunca.

Encontrámo-nos quando tínhamos sonhos utópicos. Aquele golo que nos deu o Europeu de sub16 com a seleção em Inglaterra. Nunca esquecerei o gesto que tiveste ao dedicar-mo. E eu vi-o pela televisão porque tive de voltar a casa por causa de uma lesão.

Lembras-te, Fernando, daquela camisola assinada em Trinidad e Tobago com uma promessa que parecia irrealizável. Mas conseguimos. E desde então sempre juntos. Viena, Joanesbrugo… Aquele passe inesquecível de Xavi para que desses razão ao sábio, ao meste, a Luis. Aquele centro teu para que todos marcássemos o golo mais importante das nossas vidas.

Separados, mas sempre juntos. E até ao último momento. Acima das camisolas ou dos clubes. Vivíamos em cidades diferentes. Tu em Madrid, eu em Barcelona. Mas nunca fomos inimigos. Apenas amigos que vestiam uma camisola diferente, unidos, isso sim, sempre nima pele Roja. Ou Rojita, como quisermos chamar.

Porque a nossa história, mesmo que muitos não saibam, vem de longe. Desde muito longe. Não interessou que um dia tivesses furado as fronteiras a caminho da Premier League, onde descobriam o talento de Niño único, primeiro em Liverpool e depois no Chelsea. Quanto voltaste a casa, ao Atlético, emocionei-me como todos os outros porque o futebol, além dos êxitos ou fracassos desportivos, é uma forma de entender a vida.

E tu, Fernando, dignificaste este desporto. O nosso desporto. Não falo dos golos que marcaste, porque há anos que perdi a conta, nem dos títulos que conquistaste na tua carreira maravilhosa. Falo do teu comportamento, do teu respeito pelo jogo, pelo companheiro, pelo adversário e, claro, pela bola. Essa que começámos a passar em campos anónimos, longe de luzes, câmaras, até chegar a compartilhar milhares de experiências anteriores, antes de ganhar um Mundial para o nosso país.

Quando nos encontrarmos em Espanha, vou mostrar-te aquela camisola, aquele tesouro que mãos ninguém descobriu. Se bem que, é verdade, não existe nenhum tesouro maior do que a tua amizade, Fernando.

Foi uma viagem maravilhosa. Levou-nos por todos os recantos do mundo e olha onde estamos hoje. Em Tosu, a jogar eu e tu um jogo de futebol. Mais um. Mas não é mais um. É o teu último jogo. Quem diria. Vais enfrentar-me a mim e ao miúdo Villa. Depois voltas a casa. Esperam-te os teus, mas tens de saber que a bola estará hoje mais triste do que ontem.

Aproveita tudo o que vem agora e sê feliz. Mas tenho saudades tuas, Fernando. Ainda não foste embora e tenho saudades tuas».