Depois de uma derrota por 1-0 no neste sábado em Old Trafford, o Aston Villa ficou matematicamente condenado ao Championship. Os «villans», antigos campeões europeus em 1982, vão, assim, jogar no segundo escalão do futebol inglês na próxima época.

A descida de divisão de um antigo campeão europeu não é algo raro pela Europa fora. Nem sequer é a primeira vez que acontece ao Aston Villa. E, além deles, também já Manchester United, Nottingham Forest, AC Milan, Juventus e Marselha  passaram pelas divisões inferiores depois de vencerem a Taça dos Campeõe Europeus. Alguns nunca voltaram a ter a hegemonia de outrora enquanto outros conseguiram reerguer-se e atingir novamente o topo.

Do céu ao inferno em cinco anos

Como se disse, esta não é a primeira vez que o clube de Birmingham vai passar pelas divisões inferiores, inclusive já andou pela terceira divisão. Antes de ter conquistado o título de campeão da Europa, o Aston Villa já tinha conquistado vários troféus a nível interno, com destaque para os sete títulos de campeão inglês.

Mas é na temporada de 1981-1982, sob o comando de Tony Barton que se escreve uma das páginas douradas da história do clube. O técnico britânico assumiu o comando da equipa depois da saída de Ron Saunders, e conduziu o Aston Villa até à final da Taça dos Campeões Europeus disputada no De Kuip, a banheira de Roterdão. Uma vitória pela margem mínima com um golo de Peter Withe selou o triunfo frente ao Bayern Munique de Rummenigge e Paul Breitner.

Em 1987, uma mão cheia de anos após da conquista da taça dos campeões europeus, o clube cai na segunda divisão. Regressa no ano seguinte onde se manteve até ao passado sábado.

Contudo, a descida de um campeão europeu não é caso único por terras de Sua Majestade.

Adeptos gozam com a descida do Aston Villa

Manchester United (1973-74)

Pese embora o caso do Nottingham Forest ser o mais notório, quiçá por nunca ter voltado a atingir o sucesso europeu, o Manchester United também tocou no céu em Wembley em 1968 frente ao Benfica de Otto Glória e acabou no segundo escalão do futebol inglês em apenas cinco anos.

Frente aos encarnados, registou-se um 1-1 no tempo regulamentar mas três golos em 6 minutos deitaram por terra as esperanças das águias em repetir os feitos do início da década de 60, quando conquistaram duas vezes seguidas o troféu.

Cinco anos após a vitória em Londres, a equipa do Manchester United entrou na recta final da temporada de 1973-1974 sem Denis Law, Bobby Charlton e George Best e terminou a temporada em penúltimo lugar, voltando ao segundo escalão quase quarenta anos depois.

O Man. United voltou à Premier League na época seguinte e viria a conquistar o título inglês por 12 vezes e a Liga dos Campeões por mais duas vezes: frente ao Bayern Munique em Camp Nou com a reviravolta épica nos descontos protagonizada por Teddy Sheringham e Ole Gunnar Solskjaer, depois de Mario Basler ter marcado para os bávaros, e em Moscovo, em 2008, no desempate por grandes penalidades frente ao Chelsea, depois de uma igualdade a uma bola no tempo regulamentar, com golos de Cristiano Ronaldo e de Frank Lampard.

A épica final de 1999

Nottingham Forest – O caso mais dramático 

A par do Liverpool, o Nottingham Forest foi a única equipa inglesa a vencer a Taça dos Campeões Europeus de forma consecutiva. Na temporada 1978/79, o Nottingham Forest conseguiu ganhar a Liga dos Campeões de forma invicta, ao bater na final de Berlim os suecos do Malmoe por 1-0. No ano seguinte, desta feita no Santiago Bernabéu, os ingleses bateram o Hamburgo por 1-0 num jogo que teve em Peter Shilton a grande figura dos ingleses.

Esta autêntica epopeia da equipa comandada pelo mítico treinador Brian Clough, teve o seu fim em 1993 quando o clube desceu de divisão.

A partir daí, o Nottingham Forest passou a ser um clube inconstante, marcado por subidas e descidas entre o Championship e a Premier League até que, em 1999, se fixou na segunda divisão. No início do novo milénio, os «Tricky Trees» acabaram mesmo por jogar algumas temporadas na Division One, o terceiro escalão inglês, ascendendo posteriormente ao Championship onde se mantém até aos dias de hoje.

AC Milan - Conquistou a Série B e voltou ao topo da Europa

O Milan venceu a Taça dos Campeões pela primeira vez no ano de 1963 frente ao Benfica, que atingia a terceira final consecutiva da sua história. Eusébio colocou os encarnados em vantagem, mas na segunda parte os italianos deram a volta com dois golos de Altafini.

Cinco anos mais tarde, liderados por um dos melhores jogadores da história do futebol italiano, Gianni Rivera, os «rossoneri» voltavam a uma final europeia frente ao Ajax de Rinus Michels onde despontava um tal Johan Cruijff, com apenas 22 anos. O jogo disputado no Estádio Santiago Bernabéu resultou num favorável 4-1 para os italianos com um hat-trick Pierino Prati e um golo do avançado Angelo Sormani, com Velibor Vasovic a marcar o tento de honra dos holandeses.

Porém, em 1980, um escândalo de manipulação de resultados abalou o futebol transalpino. Esse caso ficou conhecido como «Totonero» e consistia numa rede de manipulação de resultados da Série A e B e que, tinha inclusive jogadores envolvidos, e que terminou após a denúncia de Massimo Cruciani, um dos participantes no esquema, por se sentir enganado pelos atletas da Lazio.

Depois desta denúncia, a polícia italiana deteve vários jogadores, sendo o caso mais conhecido o de Paolo Rossi (suspenso 2 anos) e dirigentes, com o presidente do AC Milan Felice Colombo, à cabeça. O «Totonero» levou à descida de divisão de Lazio e do AC Milan, sendo que os milaneses sagraram-se campeões da Série B e voltaram ao escalão principal… para descer novamente!

Regressado à Serie A em 1986 e à glória europeia dois anos mais tarde, o AC Milan, comandado pelo mítico treinador Arrigo Sacchi e com o trio holandês Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco Van Basten em destaque, despachou o Steaua de Bucareste em Camp Nou por 4-0 com golos holandeses distribuídos de igual forma por Gullit e Van Basten.

No ano seguinte, o AC Milan sagrou-se bicampeão da Taça dos Campeões Europeus às custas do Benfica de Sven-Goran Eriksson decidido com um golo de Rijkaard. Nunca mais, até hoje, uma equipa venceu duas vezes seguidas o troféu.

A conquista frente à Juventus em 2003 na decisão da marca das grandes penalidades e a vitória em 2007 sobre o Liverpool com dois tentos de Pippo Inzaghi foram as últimas conquistas do clube de Milão nas competições europeias.

Juventus – «Pé frio» em finais da Liga dos Campeões

Giovanni Trapatoni e Marcelo Lippi foram os técnicos italianos que levaram a Juventus à vitória na maior competição de clubes da UEFA.

O antigo treinador do Benfica viu a sua equipa conquistar a Taça dos Campeões Europeus em 1985 no Estádio Heysel, em Bruxelas frente ao Liverpool de Kenny Dalglish e Ian Rush. Um penalti de Michel Platini deu o primeiro título de campeão da Europa aos «bianconeri» num jogo que ficou conhecido pela «tragédia do Heysel»: quase meia centena de adeptos perderam a vida quando um muro do estádio desabou.

Onze anos depois, a Juve voltou a uma final europeia frente ao Ajax em Roma. A equipa que tinha Gianluca Vialli, Didier Deschamps, Ravanelli, o português Paulo Sousa e um jovem chamado Alessandro Del Piero como titulares, levou de vencida a equipa holandesa de Louis van Gaal no desempate por grandes penalidades (4-2).

A Juventus campeã em 1996

Antes de novo escândalo de corrupção ter atingido o futebol italiano, a Juventus ainda esteve por três vezes muito perto de se sagrar campeão europeia. Nos dois anos seguintes, a Vecchia Signora teve a hipótese de voltar a conquistar o título europeu frente ao Borussia de Dortmund (derrota por 3-1) e com o Real Madrid pela diferença mínima. Por último, a Liga dos Campeões perdida no Teatro dos Sonhos com o AC Milan na decisão da marca de onze metros.

Em Maio de 2006 mais um escândalo de corrupção assolou o futebol italiano. O Ministério Público italiano descobriu conversas entre dirigentes da equipa de Turim e várias autoridades do futebol italiano para influenciar nomeações de árbitros. A Juventus, que vinha de dois scudettos consecutivos sob a orientação de Fábio Capello, acabou por ser condenada à Série B pela justiça italiana, depois de dirigentes do clube estarem envolvidos no escândalo que ficou conhecido por «calciocaos». Além de perder a possibilidade de competir no principal campeonato de Itália, a equipa de Capello viu os títulos conquistados em 2005 e 2006 serem-lhe retirados.

Esta descida de divisão, a primeira e única da história da Vechia Signora, ficou marcada pelo abandono de vários jogadores, casos de Ibrahimovic ou Patrick Vieira, que eram figura de proa na equipa de Fabio Capello. No entando, a equipa de Turim voltou rapidamente à elite do futebol italiano após ter sido coroado campeã da Série B.

A chegada à final em Berlim no ano passado, foi o mais perto que os italianos estiveram de voltar a ser «reis da Europa» depois da passagem pela Serie B.

Marselha – único clube francês a sagrar-se campeão europeu

A festa do Marselha em 1993

A maior vitória do clube do sul de França a nível internacional ocorreu na temporada 1992-1993. A caminhada do Marselha culminou a 26 de Maio de 1993 em Munique, frente ao AC Milan. Vitória por 1-0 com um golo do defesa internacional francês Basile Boli.

Contudo, depois de jogadores do Valenciennes terem confessado que foram contactados por Jean-Jacques Eydelie, treinador do Marselha na altura, para deixarem o seu clube vencer, o emblema francês acabou por perder o título de campeão europeu tal como o título de campeão nacional de França, o quinto consecutivo, conquistado na mesma temporada. Mais, o emblema da Cote D’azur ficou impedido de disputar a Taça Intercontinental que opunha o campeão europeu ao vencedor da Libertadores e foi relegado para a Ligue 2.

O clube acabou campeão da Ligue 2 na temporada seguinte, mas foi impedido de subir para a Ligue 1. Regressou na temporada seguinte, depois de se ter sagrado vice-campeão da segunda divisão francesa, atrás do Caen.

Depois de ter voltado ao primeiro escalão do futebol francês, «Les Olympiens» ainda chegaram a duas finais da taça UEFA: derrota por três bolas a zero frente ao Parma em Moscovo na temporada 1998-99 e, cinco épocas depois perderam em Gotemburgo, Suécia com o Valencia por 2-0.

Nota ainda para o facto do Marselha apenas por uma vez ter voltado a conquistar o «Le championat» em 2010 pela mão do atual selecionador francês Didier Deschamps.