Zlatan, como só Zlatan pode ser. Numa longa entrevista à BBC Radio 5, o avançado sueco, de 37 anos, falou de tudo. E mostrou até uma faceta poucas vezes vista. A de alguém que não é sempre forte.

«No início não era marcar golos o que interessava, mas sim quem fazia melhores habilidades e tinha mais técnica. E eu levava isso comigo para todo o lado. Mas depois, avisaram-me: ‘isto é alta competição, és avançado e tens de marcar golos porque se não marcares, não precisamos de ti’. E isso mudou quando cheguei à Juventus», começa por explicar.

E então, relata as dificuldades que encontrou em Itália.

«Desde o primeiro treino, ouvia o Capello a gritar o meu nome e a apontar. Ele chamava jogadores da formação para cruzarem para mim e eu marcar. Todos os dias, durante 30 minutos. Às vezes, estava tão cansado que só queria para de rematar e ir para casa. Não queria ver a baliza nem o guarda-redes.»

Mas o trabalho deu resultados. «No final, tornei-me uma máquina à frente da baliza. Marcar golos, sobretudo em Itália é a coisa mais difícil de fazer porque eles são taticamente muito bons.»

Só que aí, Zlatan teve vantagem em relação à maioria dos avançados em Itália: trabalhava com os melhores.

«À minha frente, nos treinos, eu tinha o Thuram e o Cannavaro. E se passasse por eles, ainda tinha de passar o Buffon. Ou seja, tinha bom ambiente para procurar os golos, que surgem com o trabalho», defende.

Recordações de Inglaterra e uma conversa com Mourinho

Numa entrevista a um órgão de comunicação britânico, obviamente, não podia deixar de se falar muito na passagem de Ibrahimovic pelo Man. Utd e da lesão que o afastou dos relvados quando o avançado sueco se sentia «como o Bejamin Button, a ficar cada vez mais novo.»

«Não percebi o que estava a acontecer, nunca tinha tido uma lesão grave. Era como o Super-Homem, inquebrável, ninguém podia derrubar-me. Só Zlatan podia lesionar Zlatan», atirou num jeito muito próprio.

De resto, Ibra voltou a deixar claro que sempre sentiu ter condições para continuar a jogar - «quando sentir isso, não vou continuar, não ando aqui por caridade» -, revelando uma conversa que teve então com Mourinho.

«Disse-lhe: ‘não quero desiludir-te nem aos meus companheiros. Eu não posso dar-te o Zlatan quer tinhas antes da lesão porque eu não estou pronto para isso’», relata.

«Deviam beijar estes pés feios todos os dias»

Nesta entrevista à BBC Radio, Zlatan Ibrahimovic conta vários episódios de uma carreira que se aproxima do final – e onde além dos aspetos desportivos fala da vida pessoal, por exemplo quando diz que a mulher não o deixa ter fotos dele próprio, ‘diz lhe basta ver-me na vida real’.

Mas há uma exceção. Nas paredes de casa de Zlatan existe uma foto dos seus pés. «Foram eles que nos deram tudo o que temos. É uma lembrança para a família. Foi isto que criou todo o alarido à minha volta: dois pés», resume.

«Jogo este belo desporto com os meus pés. Mesmo sendo feios, não nos importamos. Pusemo-los na parede porque se temos comida na mesa, é graças àqueles pés que devem beijar todos os dias», afirmou, declarando de imediato: «não, estou a brincar».

Zlatan, uma espécie única no Universo. E até isso Ibrahimovic explica.

«Venho do meu próprio planeta, com algo que ninguém tinha visto. As pessoas veem-me de forma diferente, não me fazem sentir bem-vindo, não me fazem sentir como todos os outros, mas trouxe algo novo que as pessoas seguem. Eu venho do meu próprio planeta – o Planeta Zlatan.»