Isaías vive no paraíso. Descansado, imune ao bulício da modernidade, suficientemente longe do boom digital e da intrusão tecnológica. «Estou a entrar no meu barco. Vou passar alguns dias a pescar numa ilha ao largo de Cabo Frio», diz ao Maisfutebol.

Sim, Isaías tornou-se pescador, como já deve ter percebido pelo título.

«É o descanso do guerreiro. Vivo para isto e para a minha família. Tenho dois filhos que jogam futebol e em Julho penso levar um deles aí a Portugal.»

Mesmo no paraíso, a televisão resiste. O antigo avançado viu o jogo contra o Chelsea e não gostou. «O Benfica rematou pouco, não arriscou. Faltou alguém como eu», brinca, na autoridade dos 48 anos.

«Eu precisava de rematar dez vezes para fazer um golo. Trabalhava muito o meu pontapé nos treinos, trabalhava até em demasia.»

Isaías e Kulkov: memórias de 1991

Isaías jogou de 1990 a 1995 no Estádio da Luz. Era especialista em golos fora da área, apesar de muitas vezes mandar a bola para a bancada. «A diferença é que eu não tinha medo de arriscar. É isso que o Benfica terá de fazer para derrotar o Chelsea em Londres: não ter medo do risco, de ser feliz.»

Não se julgue, porém, que Isaías considera impossível a missão da equipa de Jorge Jesus em Terras de Sua Majestade. «O jogo até se pode tornar fácil. Este Chelsea não é a equipa criada pelo José Mourinho. Se o Benfica fizer um golo, eles vão cair emocionalmente.»

E Isaías insiste na necessidade de arrojo. «Olhem para o exemplo do APOEL, uma equipa modesta de um país sem tradição no futebol. Se eles chegaram aos quartos-de-final, o Benfica pode ir mais longe.»

Adorador da arte delineada por um bom pontapé, Isaías só pede atrevimento. «Sabe por que é que eu aparecia tantas vezes no Domingo Desportivo? Porque ganhava o prémio para o golo da jornada. É esse o meu conselho: rematem à baliza do Petr Cech.»

«Não é preciso ser perfeito, pois o sinónimo de perfeição é inexistência. É preciso ser ambicioso, isso sim. Eu vou pescar para a ilha mas volto a tempo de ver o jogo do Benfica em Londres.»