Foi há quase três anos que Humberto Miranda sofreu o acidente que lhe mudou a vida quando, acompanhado por Mauro Gama, foi vítima de um terrível acidente de viação, na A1, a caminho de mais um treino do Tourizense. Mauro Gama faleceu, enquanto Humberto perdeu uma perna e, mais tarde, teve de amputar a outra. Na altura os dois jogadores tinham contrato com o Estrela da Amadora e estavam cedidos ao clube de Touriz. No entanto, o clube da Reboleira inscreveu os jogadores como amadores e não lhes pagou o respectivo seguro.
Uma situação dramática para uma família que tem como único suporte económico os rendimentos da mãe de Humberto. O antigo jogador do Estrela não tem problemas em apontar o dedo aos eu antigo clube. «Tem muitas culpas. Dei tudo o que tinha ao Estrela, deixei a escola. Na altura tinha outros clubes interessados, mas nunca deixei o Estrela», destacou o jovem que se ente abandonado pelo futebol.
Os dois clubes empurraram responsabilidades e o caso arrasta-se ainda hoje nos tribunais. O Sindicato tem sido, assim, um dos poucos apoios com que Humberto tem contado, não só a nível jurídico, mas também material. As próteses oferecidas esta tarde, no valor de oito mil euros, vão permitir a Humberto maior independência de movimentos. «É um orgulho para o sindicato ver o Humberto alegre, bem-disposto e confiante», destacou Joaquim Evangelista antes de lançar um alerta para a situação precária de muitos jogadores.
«Os jogadores são egoístas», diz João Pinto
João Pinto também chamou a atenção para este caso em particular, pedindo a união de todos os jogadores para o sindicato ganhar força. «Discutimos muitas coisas no futebol que comparadas com este caso não valem nada. O Sindicato tenta ajudar dentro das suas limitações. O Sindicato só será forte se os jogadores se unirem para combater este tipo de problemas e todos os outros problemas relacionados com o futebol. Esta conferência de imprensa foi para isso mesmo, para alertar as pessoas, são situações que sensibilizam as pessoas e talvez se preocupem um pouco mais sobre os verdadeiros problemas», destacou.
O veterano jogador vai mais longe e lamenta que o Sindicato só tenha ganho força nos últimos anos com base nas crescentes dificuldades que os jogadores passam. «De certa forma os jogadores são egoístas. Durante muito tempo o sindicato não existiu, felizmente estamos a começar a ter uma noção diferente do que tínhamos há alguns anos. Só com os jogadores é que o sindicato será forte. Não é por mim, já fiz a minha carreira, não sou renumerado por isto, mas porque acredito naquilo que o sindicato defende. Quero salvaguardar o futuro do meu filho que também joga futebol, quero que estas situações não voltem a acontecer. Tenho muito gosto em fazer parte deste sindicato», acrescentou.
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