O Sindicato de Jogadores ofereceu esta sexta-feira umas próteses articuladas para os membros inferiores de Humberto Miranda e aproveitou a cerimónia, que decorreu no Welcome Center de Lisboa, para lançar um alerta para muitos casos de falta de protecção social no futebol português. João Vieira Pinto, membro da direcção do sindicato, juntou-se a Joaquim Evangelista para dar força a esta acção do sindicato.
Foi há quase três anos que Humberto Miranda sofreu o acidente que lhe mudou a vida quando, acompanhado por Mauro Gama, foi vítima de um terrível acidente de viação, na A1, a caminho de mais um treino do Tourizense. Mauro Gama faleceu, enquanto Humberto perdeu uma perna e, mais tarde, teve de amputar a outra. Na altura os dois jogadores tinham contrato com o Estrela da Amadora e estavam cedidos ao clube de Touriz. No entanto, o clube da Reboleira inscreveu os jogadores como amadores e não lhes pagou o respectivo seguro.
Uma situação dramática para uma família que tem como único suporte económico os rendimentos da mãe de Humberto. O antigo jogador do Estrela não tem problemas em apontar o dedo aos eu antigo clube. «Tem muitas culpas. Dei tudo o que tinha ao Estrela, deixei a escola. Na altura tinha outros clubes interessados, mas nunca deixei o Estrela», destacou o jovem que se ente abandonado pelo futebol.
Os dois clubes empurraram responsabilidades e o caso arrasta-se ainda hoje nos tribunais. O Sindicato tem sido, assim, um dos poucos apoios com que Humberto tem contado, não só a nível jurídico, mas também material. As próteses oferecidas esta tarde, no valor de oito mil euros, vão permitir a Humberto maior independência de movimentos. «É um orgulho para o sindicato ver o Humberto alegre, bem-disposto e confiante», destacou Joaquim Evangelista antes de lançar um alerta para a situação precária de muitos jogadores.
«Os jogadores são egoístas», diz João Pinto
João Pinto também chamou a atenção para este caso em particular, pedindo a união de todos os jogadores para o sindicato ganhar força. «Discutimos muitas coisas no futebol que comparadas com este caso não valem nada. O Sindicato tenta ajudar dentro das suas limitações. O Sindicato só será forte se os jogadores se unirem para combater este tipo de problemas e todos os outros problemas relacionados com o futebol. Esta conferência de imprensa foi para isso mesmo, para alertar as pessoas, são situações que sensibilizam as pessoas e talvez se preocupem um pouco mais sobre os verdadeiros problemas», destacou.
O veterano jogador vai mais longe e lamenta que o Sindicato só tenha ganho força nos últimos anos com base nas crescentes dificuldades que os jogadores passam. «De certa forma os jogadores são egoístas. Durante muito tempo o sindicato não existiu, felizmente estamos a começar a ter uma noção diferente do que tínhamos há alguns anos. Só com os jogadores é que o sindicato será forte. Não é por mim, já fiz a minha carreira, não sou renumerado por isto, mas porque acredito naquilo que o sindicato defende. Quero salvaguardar o futuro do meu filho que também joga futebol, quero que estas situações não voltem a acontecer. Tenho muito gosto em fazer parte deste sindicato», acrescentou.