* por Roberto Rivelino

A vida futebolística de Milos Krasic é quase tão rápida como as cruzadas que fazia (pretérito imperfeito do indicativo, sim) pelas alas direitas. Aos 30 anos treina-se com os sub-21 do Fenerbahçe e esta semana teve uma das declarações mais surpreendentes dos últimos tempos: «Esqueci-me de como se joga futebol».
 
A serpente sérvia, o próximo Nedved, ou então a flecha, chame-lhe o que quiser. Poucos olhavam para o CSKA de 2008 a 2010 sem ver o excelente Krasic.

Havia Vagner Love, Dzagoev, Honda ou Daniel Carvalho, mas quem encantava era o ponta direita loiro. Velocidade vertiginosa e dribles cortantes quebraram vários rins na Champions e decidiram jogos.
 
Seis anos na Rússia, no CSKA da capital, depois da sua formação no Vojvodina, foram o estágio necessário para a sua transição para Itália. 15 milhões pagou a Juventus por todas essas razões e mais alguma.
 
Aí, o seu futebol viveu grandes dias… durante meia temporada.

Milos Krasic no jogo de estreia na Juventus:



O clima provocado por Luigi Del Neri - sim, o antigo técnico do FC Porto - não era o perfeito para o desenvolvimento do sérvio e, numa temporada em que Felipe Melo foi o jogador do ano, 2009/2010 ficou marcada pelo nascer de uma nova definição entre a imensidão de alcunhas que Krasic carrega às costas: estrela cadente.
 
Foi nesse período que começou a carregar o fardo pesado de ser o «novo Nedved».

Ironicamente, durante a metade de temporada brilhante, era o checo a aplaudir as arrancadas de Krasic. 2010/2011 foi, de facto, uma temporada que resume a capacidade de Krasic ir do 80 ao oito em pouco tempo.
 
Foram 33 os jogos na temporada de estreia na Juve, com um hat-trick sensacional contra o Cagliari. Seguiram-se apenas sete momentos em campo no exercício seguinte, suficientes para festejar o título em que Simone Pepe, chegado da Udinese, o empurrou para o banco.
 
A mais em Turim, partiu para a Turquia. Aterrou em Istambul e dirigiu-se ao bairro de Fener para assinar pelo atual clube de Bruno Alves e Raul Meireles. Ficaram sete milhões nos cofres transalpinos… menos oito do que havia dado a ganhar ao CSKA – que já tinha pago mais de dois milhões ao Vojvodina.
 
Pelos Canários Amarelos não teve sequer meia temporada de qualidade. Muito menos, aliás. 13 jogos na Super Lig, sempre com os cifrões a correrem mais do que ele agora conseguia. Partiu por empréstimo para o Bastia, em mais uma jornada pela Europa.

Os franceses desembolsaram 826 mil euros pelos seus serviços e também ficaram defraudados. Chegaram mesmo a fazer circular uma história em que Krasic teria sido substituído pelo seu irmão, Bojan.

O talento de Krasic teve breves aparições. Como esta:

 
Os 18 jogos e dois golos na Ligue 1 2013/2014 foram insuficientes para Krasic mudar de rumo. Voltou à Turquia e tem estado na equipa B do Fenerbahce, entre os mais jovens.
 
453 palavras depois, eis-nos chegados a esta semana. Krasic falou publicamente e revelou estar a ganhar bom dinheiro mas, mais do que encher a carteira, o extremo admite «amar jogar futebol», garantindo ter ainda mais «três ou quatro anos de carreira».
 
Com alegadas propostas de Espanha e Rússia, onde já foi feliz, e quase 50 internacionalizações por uma seleção que o esqueceu desde 2011, Krasic descomplica tudo por nós: «Esqueci-me de como se joga futebol».

Será que o voltaremos a ver feliz num relvado?
 
Turquia – Oásis de talento perdido

Não é so Milos Krasic que anda perdido pela Turquia. Vejamos:
 
Ryan Babel, uma das maiores promessas do Ajax no actual século e que ainda se destacou no Liverpool, também com quase meia centena de internacionalizações holandesas, vagueia pelas alas do Kasimpasa por quem tem 26 jogos e oito golos, enquanto companheiro de André Castro.

Goran Pandev, essencial para um Scudetto de José Mourinho no Inter, é agora suplente no Galatasaray. Ou reserva. 49 minutos em três jogos e dezassete jogos no banco desde que se transferiu para os gigantes turcos em setembro de 2014.

Lomano Lua Lua, ziguezagueante atacante que quebrou várias defesas no Portsmouth e no Newcastle, aos 34 anos luta pela permanência com o Akhisar, com dez jogos e um golo marcado depois de ter assinado em Fevereiro.

Ciprian Marica, eterna promessa Romena, do Shakhtar e do Estugarda, avançado com poucos golos, mas produtivo, tem apenas seis jogos esta temporada e um só festejo no Konyaspor.