Há um momento no Dragão que define o Leixões. Diogo Valente pega na bola e dá um nó cego em Sapunaru, pára junto à linha lateral, espera pelo romeno, mete-lhe a bola desta vez pelo meio das pernas e sai a jogar pelo meio-campo adversário.
Aquele instante apresentou-nos o Leixões em todo o seu esplendor: uma equipa confiante, descomplexada, madura, atrevida. Um Leixões à imagem de José Mota, aliás. Capaz de nos fazer recordar o P. Ferreira de outros tempos.
José Mota é um treinador com um estilo muito próprio, de resto. Não cuida a imagem, não tem um discurso moderno, não aparece na imprensa a trabalhar com o Powerpoint e não fala em «entre-linhas», «transições rápidas» ou «temporizações defensivas».
Por vezes perde a compostura, demonstra algum mau-génio e um terrível mau-perder: a culpa é sempre dos árbitros, dos apanha-bolas, do Presidente dos Estados Unidos. Dele é que nunca é. Talvez por isso seja olhado com alguma desconfiança.
Dentro de campo, porém, nenhum outro treinador da Liga consegue retirar maior rendimento dos jogadores que encontra. E esse pormenor faz toda a diferença. As equipas de José Mota pensam ser melhores do que realmente são, transportam essa confiança para dentro de campo e são capazes das vitórias mais improváveis.
O Leixões é o caso mais recente. Com mérito. Juntou um grupo de gente trabalhadora a um treinador capaz de inflacionar o talento, conseguiu com isso uma equipa segura, audaciosa e irreverente. Nesta altura já travou Benfica, venceu no Dragão e lidera da Liga. O que acaba por dizer tudo.