«De vez em quando, não. De vez em sempre!»

A frase pertence a Pelé e poderá encontrá-la no mais recente documentário da Netflix sobre o antigo avançado brasileiro. Pelé recordava a pressão inerente aos grandes momentos, como aquele, em 1970, quando, já Rei, desabou em lágrimas no caminho para o Estádio Azteca, onde horas depois viria a conquistar o terceiro e derradeiro título de campeão mundial da carreira pelo Brasil.

Se o melhor do Mundo sentia o peso da pressão, o que dizer desta equipa do Sporting recheada de jovens pouco «batidos» e empurrados (por eles próprios) para uma candidatura ao título que só não é assumida de dentro para fora?

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Nesta sexta-feira, a mistura de jogadores batidos e de leõezinhos parecia cedo a caminho de mais uma noite de missão cumprida, mas meramente à base de serviços mínimos.

Confiança inabalável, zero pressão, tudo favorecido pelo golo de Pedro Gonçalves no primeiro remate dos leões em todo o jogo.

Até esse momento – e depois, sublinhe-se! – o Santa Clara foi uma equipa enérgica. Concentração elevada, níveis de agressividade no ponto e pressão suficiente para manter o jogo longe da baliza de Marco mesmo com menos posse de bola.

Aquele golo de Pedro Gonçalves foi o reflexo do leão em 2020/21: ao mínimo erro do adversário, castiga-o.

Num jogo no qual duas equipas se encaixaram com sistemas diferentes, os visitantes tiveram o mérito de não ir em busca do empate de forma desalmada. Mantiveram-se estáveis, fiéis à ideia inicial e até cresceram após a entrada de Rui Costa para o lugar do lesionado Cryzan na primeira parte.

Os visitantes regressaram para a segunda parte a reclamar a bola, impedindo o Sporting de a ter tempo suficiente para conseguir um segundo golo que lhe desse outra segurança.

Não que os leões dessem sinais de insegurança até ao golo do Santa Clara. Mesmo a vencer por 1-0, e quase renunciando a momento de pujança ofensiva, pareciam defensivamente inabaláveis antes e depois das substituições de Ruben Amorim, que retirou Tiago Tomás e apostou num ataque sem uma referência.

Só que aos 84 minutos Rui Costa, um dos mais inconformados da equipa visitante, fez o empate, parecendo quebrar aquela confiança que tem estado em permanência com este Sporting de 2020/21.

O empate não só obrigou o leão a fazer o que não tinha feito até aí durante todo o jogo, nem antes do golo de Pote: ser amplamente dominador. E provou que tinha mais do que mostrara durante quase 90 minutos.

Os minutos a seguir ao golo sofrido foram os melhores do Sporting em toda partida: já com Jovane em campo e Coates quase em permanência no ataque, acabaram por reclamar aquela estrela que de vez em sempre parece pairar sobre cada jogo difícil da equipa de Ruben Amorim e, sobretudo, sobre o central uruguaio, que resgatou uma vitória no terceiro de quatro minutos de compensação.

Mas este leão nunca deixa de a procurar e é por isso que é tantas vezes feliz. Pressão? Nem de vez em quando.