Euciodálcio Gomes, 18 anos, natural de Pragal, concelho de Almada, era, até hoje, um nome desconhecido para a grande maioria dos adeptos do futebol.

Tudo mudou esta quarta-feira.

A segunda parte tinha começado há menos de 10 minutos e o avançado, que Lito Vidigal lançou às feras, pegou na bola, deixou Jonathan Silva e Wallyson para trás, fletiu para o interior do área leonina e rematou colocado.

Era o segundo golo do Belenenses que, assim, voltava à discussão do encontro que, mais tarde, haveria de ganhar.

O rasgo de génio parecia saído dos pés de um consagrado, com paletes de experiência em jogos a doer.

Mas não Dálcio estreava-se na condição de titular com a camisola do Belém e, até há poucos meses, ainda olhava para o plantel sénior dos azuis com alguma distância, aquela que separa os escalões de formação da exigência do futebol profissional.

Lito Vidigal parecia adivinhar o diamante que tinha entre mãos e, não poucas vezes, se queixou de não poder chamar o avançado que tem no holandês Arjen Robben uma espécie de ídolo.

Ironias do destino. Dálcio, que curiosamente também carrega consigo o selo da formação leonina, contribuiu para abater o melhor leão da temporada, que vinha de oito vitórias consecutivas, com um golo tirado a papel químico daqueles que são assinados pelo extremo do Bayern de Munique.

No entanto, terminada a partida e com as câmaras à frente fez questão de sublinhar: «este não é um golo à Robben. É um golo à Dálcio».

Diz quem com ele trabalha diariamente que o miúdo não se encolhe. Dentro do campo, com a bola nos pés, não olha a nomes, como ficou patente na arrancada que deixou por terra o internacional argentino Jonathan Silva.
 
Pelé e Abel Camará são os padrinhos

Fora de campo, a postura da nova coqueluche dos azuis do Restelo é completamente ao avesso. Ciente da oportunidade que tem entre mãos, Dálcio encara o dia-a-dia de forma séria e, apesar de já ter começado a subir a escada do sucesso, mantém os pés bem assentes no chão. Sabe que o futuro se constrói com muito esforço e que nada lhe é dado de mão beijada.

Encontrou, no balneário dos Restelo, padrinhos com ADN Belém: Péle e Abel Camará. Dois jogadores que, apesar de não serem propriamente veteranos, sabem como ninguém o que simboliza a cruz de Cristo que trazem ao peito.

Puxaram-no para debaixo da sua asa e tratam-no como seu protegido. Acima de tudo procuram prepara-lo para a exigência do futebol profissional e alerta-lo para os perigos que rondam a cada esquina.

Em bom da verdade, Dálcio está no espaço indicado para crescer. No balneário está rodeado por vários jogadores que nasceram e cresceram com a mística do Beleneses. Fábio Sturgeon e Tiago Silva são últimos a sair da «cantera azul».

E Dálcio pode olhar para eles como referências. Afinal de contas, eles já palmilharam algum do caminho que Dálcio tem pela frente.