Rufem os tambores, façam soar as cornetas, abram alas para o clássico:

«No canto azul… O campeão FC Porto em título, com nove duelos invencível (após sete vitórias e dois empates no clássico)! No canto vermelho… o líder Benfica com 18 combates sem ir ao tapete.»

Por vezes até há ópera, mas o FC Porto-Benfica soa muitas vezes a peleja. Há garra, disputas a cada lance, esforço no limite. Há vencedores e vencidos também, na maior parte dos casos.

Esta noite, o ringue ameaçou transformar-se em passerelle quando aos 27m, Eustáquio estendeu a passadeira vermelha para o triunfo encarnado. FC Porto e Benfica apresentaram-se no Dragão para o duelo n.º 251, na jornada 10 da Liga.

O Benfica procurou mais a vitória, acabou por alcançá-la e agora tem seis pontos de vantagem na liderança.

A luta nem parecia talhada para o desfecho que acabou por ter.

Dragão encostado aos ferros

A primeira parte começou com o FC Porto a fechar espaços e a pressionar a saída de bola encarnada. Logo a abrir, em duas arrancadas Galeno provocou dois amarelos para João Mário (7m) e Bah (12m).

Não fosse uma monumental defesa de Vlachodimos – cuja saída é cogitada a cada defeso e que acaba por responder com grandes exibições ao longo da época – e Taremi de cabeça no coração da área quase inauguraria o marcador ao quarto de hora.

Sérgio Conceição entrou com um 4-4-2 ofensivo, com Pepê a lateral direito e Galeno, recuperado, no onze inicial. Roger Schmidt deixou David Neres no banco e lançou Aursnes de início. Parecia mais cauteloso o alemão, mas o convite definitivo para atacar surgiria a meio da primeira parte.

Mais do que convite, passadeira vermelha. Eustáquio fez duas faltas sobre Bah no espaço de três minutos (24m e 27m), viu dois amarelos e acabou expulso.

Conceição puxou Taremi para a esquerda, colocou Otávio ao meio junto de Uribe e passou ao 4-4-1. Soou o gongo e o Benfica partiu para o ataque, mas só encostou o FC Porto às cordas ao minuto 37. Melhor, aos ferros. Aursnes entrou sobre a esquerda na área e disparou ao poste, Rafa na recarga e com a baliza à mercê atirou de forma incrível à barra.

A primeira parte terminou com o Benfica por cima. Mais posse de bola (59%-41%), mais remates (9-6) e mais jogadores em campo (11-10), mas nem por isso particularmente claro de ideias para saber aproveitar a vantagem numérica.

Com quatro jogadores em risco (Bah arriscou ver o segundo amarelo num par de ocasiões ainda antes do intervalo), Schmidt mexeu na equipa e mudou três jogadores para a segunda parte: Gilberto, Neres e Draxler entraram para os lugares dos já amarelados Bah, Enzo Fernández e João Mário. O alemão deixou em campo só um dos admoestados: Aursnes, que, à esquerda, primeiro, e depois no miolo viria a fazer uma bela exibição esta noite.

Vitória aos pontos: e já são seis

Veio a segunda parte, o FC Porto juntou linhas e fechou a zona central do terreno.

Conceição estava disposto a sofrer, sem, contudo, perder o sentido de baliza. Cada vez que possível, os dragões esticavam o jogo e até pressionavam alto.

No entanto, o Benfica tem talentos de sobra. Alguns sacrificados a meio do jogo por Schmidt. Mas outros, como Rafa ou Neres – brilhante ponta final de jogo –, são capazes de desequilibrar a cada toque de bola.

Do lado do Benfica houve jabs seguidos de uppercuts, mas o dragão seguiu no ringue com a resiliência possível. Quase até ao quarto de hora final.

Rafa falhou um par de vezes (aos 24m na área e aos 37m com aquela bola ao ferro), mas acabou por acertar. Aos 74m, combinou com Neres, recebeu na área, dominou, respirou e atirou para o fundo da baliza de Diogo Costa. João Pinheiro começou por anular o lance que o VAR havia de confirmar como golo, por Fábio Cardoso colocar em jogo Neres, que fez a assistência.

A perder, o FC Porto tentou levantar-se. Não ficaria no tapete estendido àquele golpe seco. Rafa e Neres aceleravam o jogo na resposta. Mas os dez minutos finais foram frenéticos e até com papéis invertidos. FC Porto a arriscar tudo, Benfica a defender a vantagem. Faltou fôlego aos campeões nacionais para o assalto final à baliza do agora mais líder e cada vez mais sério candidato.

Depois de sete derrotas e dois empates nos últimos nove clássicos, depois daquela vitória de março de 2019 aqui no Dragão, pela quinta vez na história deste estádio, o Benfica voltou a vencer o rival.

Não foi por KO? OK, foi aos pontos. São eles que fazem a diferença. Há, agora, uma larga distância de seis entre primeiro e segundo. E só este FC Porto de Conceição parece capaz de ameaçar o favoritismo do Benfica de Roger Schmidt.

Ainda assim, estamos na jornada 10 de 34. Faltam muitos, muitos rounds.