Depois de semanas a apelar à prudência, com o discurso dos 30 pontos quase como uma obsessão, a Académica pode, finalmente, mudar a cassete e começar a olhar para cima. Agora, é oficial: o objetivo passa a ser tentar ficar entre os oito primeiros. A Briosa consegue, assim, fechar o mês com uma vitória, depois de ter entrado em Março a vencer, em Arouca.

Os três pontos não foram, todavia, fáceis de alcançar. Depois de uma primeira parte em que ficou a dever a si própria uma goleada, a equipa de Coimbra permitiu o empate num erro individual quando tinha o jogo na mão, e começou a abanar. Só que duas grandes penalidades, para uma equipa que não tinha nenhuma até então, permitiram um salto na tabela, para lugares mais europeus.

O reverso da medalha fica para o Olhanense, cada vez mais último da classificação, e agora com menos um jogo para tentar recuperar. Os algarvios, que ainda não ganharam fora, venceram o Gil Vicente há mais de um mês e, desde então, voltaram ao registo das derrotas extramuros e empates em casa. Assim, vai ser impossível atingir a salvação...

O jogo teve um aliciante inusitado no fato de ter proporcionado um rol de reencontros. A começar pelo próprio Sérgio Conceição e restante equipa técnica, mas também entre muitos jogadores que andaram a saltar do Algarve para Coimbra e vice-versa nos últimos tempos.

Recorde o AO MINUTO do jogo

Luís Filipe, Paulo Sérgio e Tozé Marreco regressaram a uma casa que já serviram, para enfrentar Fernando Alexandre, Nuno Piloto ou Salvador Agra, que já trajaram de rubro-negro. Um fluxo que, está bom de ver, deve muito ao retorno do antigo internacional português à «sua» Briosa, agora como treinador.

Mas vamos ao jogo. A Académica aceitou sem cerimónias a postura recuada dos algarvios. Com uma boa pressão, foi assumindo o controlo do jogo e, não fosse alguma indefinição na finalização, e podia ter resolvido a partida bem cedo.

Os algarvios permitam muito espaço de manobra aos estudantes, sobretudo quando estes resolviam acelerar um pouco. Parecia uma questão de tempo, tal a cadência das tentativas da equipa da casa para bater Belec.

Poderia perfeitamente ter acontecido numa bola corrida, que o diga Salvador Agra, mas acabou por ser uma grande penalidade a servir de abre-latas. A primeira da época a favor da Briosa, por sinal! Marcos Paulo não perdoou e deu alguma justiça ao marcador.

Confira a FICHA e as NOTAS dos jogadores

O Olhanense praticamente não reagiu, tirando um livre já nos descontos, e foi a equipa da casa que ainda dispôs de possibilidades para alargar a vantagem. Não o conseguiu, mas, ao menos, logrou materializar as diferenças evidentes que colocou em campo em relação ao adversário ao longo da etapa inicial.

Erro individual coloca tudo em causa

Pelo que se disse, nada fazia prever o disparate que deu o golo do empate ao Olhanense. Numa troca de bola imprudente entre Ricardo, João Real e Fernande Alexandre, este último, de costas para o adversário, quis devolver a bola ao seu guarda-redes, mas acabou por assistir Paulo Sérgio.

Sem se perceber bem porquê, a equipa de Coimbra enervou-se, começou a cometer erros defensivos, e os algarvios ganharam confiança. De nulidade atacante na primeira parte, passaram a espreitar o contra-ataque com determinação.

Mas o Olhanense também não ficou atrás em matéria de erros ou desconcentrações. Num cabeceamento de Real, Diakhité meteu a mão à bola, e Marcos Paulo voltou à marca dos 11 metros. A Briosa passou novamente para a frente.

O sofrimento foi, todavia, o sentimento que os de Coimbra mais experimentaram até final da partida. Djavan foi expulso por acumulação de amarelos, o Olhanense ainda beneficiou de um livre perigoso, e o coração dos adeptos suspirou até ao último apito de Bruno Paixão. Ufa!

Se a ideia da Académica era limpar a imagem deixada na Luz, pode dizer-se que a missão foi cumprida, mas com um suficiente menos. E, já agora, mais uma achega: os estudantes já não ganhavam em casa para a Liga principal há 39 anos aos algarvios. Mais um borrego abatido depois dos triunfos sobre o FC Porto e em Braga.