«Vamos tentar ser perfeitos como temos sido até aqui.»

Jorge Jesus foi hiperbólico no lançamento do Benfica-Gil Vicente. Afinal de contas, a perfeição é um estado inalcançável, sobretudo num jogo de futebol que depende da harmonia de 11 homens e, já agora, do que fazem os outros 11 que vestem uma camisola diferente.

Ainda assim, aquilo que os encarnados haviam feito nos últimos seis jogos – baliza a zeros e 100 por cento de vitórias – foi o mais perto da perfeição que estiveram, de forma consistente e em jogos consecutivos, em 2020/21.

Mas na tarde/noite deste sábado nem o plano A nem o B valeram às águias, que voltaram às exibições pálidas dos tempos de tempestade nesta época.

Explicações para isso? Nenhuma daquelas avançadas anteriormente. Houve, isso sim, um grande Galo na Luz.

A equipa de Ricardo Soares foi altamente personalizada e chegou mesmo a discutir o jogo até que isso se tornasse insustentável, quando as águias, com muitas unidades no ataque, a encostaram à grande-área de Denis. Mas já lá vamos, porque, honra lhe seja feita, é preciso começar pelo que de melhor o Gil Vicente fez e que o levou a ir para o intervalo na frente do marcador.

Dividido. Balanço do jogo aos 10, aos 20 e aos 30 minutos.

O Gil Vicente desceu até à capital para mostrar que é possível encarar olhos nos olhos um candidato ao título. E fê-lo sobretudo nos 45 minutos iniciais. Teve uma organização tremenda, foi perigoso nas transições e anulou as unidades da frente dos encarnados.

Aos 35 minutos, quando Leautey introduziu a bola no fundo da baliza de Helton Leite pela primeira vez em mais de 700 minutos, os gilistas já haviam mostrado uma boa dose de ambição.

Na primeira parte, quase nada de bom saiu a um Benfica inexplicavelmente amputado do corredor esquerdo e demasiado passivo com bola.

E Jesus desfez a tática da moda, abdicando do 3x4x3 para regressar ao antigo 4x4x2. Com Everton em campo, os encarnados cresceram no ataque, mas tornaram-se também mais débeis e veio ao de cima um dos problemas que há muito não se via de forma tão recorrente num jogo: a transição defensiva.

A abrir a segunda parte, Lourency ameaçou o 2-0 para o Gil e Pedro Marques também andou lá perto.

Por essa altura, a pressão do Benfica ainda não era asfixiante, ainda que Seferovic já tivesse desperdiçado duas boas oportunidades. Mas passou a ser após as entradas de Darwin e Pizzi à hora de jogo.

As águias encostaram os galos ao seu reduto defensivo, mas esqueceram-se de que do outro lado estava uma flecha que acumulava energias: e foi assim que Lourency aplicou a sentença capital aos 81 minutos.

A partir daí, a equipa de Ricardo Soares jogou com o relógio. A pressão já asfixiante tornou-se quase insustentável, com Cervi e Pedrinho a juntarem-se ao assalto final.

E talvez tenha sido por isso, por terem demasiadas pernas junto de Denis, que Vítor Carvalho marcou na própria baliza aos 86 minutos e a luz da esperança acendeu-se para o Benfica.

Faltou, no entanto, o discernimento necessário para obter algo mais do que isso perante um competentíssimo Gil Vicente, capaz de anular o plano A do adversário e sobreviver ao plano B.