Ao ver confirmado este domingo o seu nono título de campeão inglês, «Sir» Alex Ferguson confirmou, aos 65 anos, que não perdeu um átomo de ambição e capacidade, ganhando pela primeira vez, em quatro anos de confronto, o duelo directo com José Mourinho, símbolo dos novos tempos. Com mais de 1100 jogos no comando do Manchester United, que dirige há 21 anos, o escocês é o treinador que mais troféus conquistou em toda a história do futebol britânico.
Antigo operário num estaleiro naval, antes de avançar para uma carreira modesta como jogador profissional, Alex Ferguson só ganhou importância no futebol britânico quando assumiu o comando do Aberdeen, em 1978, depois da aprendizagem em modestos clubes escoceses (East Stirlingshire e St. Mirren).
A maior obra da sua carreira iniciou-se em 1986, quando assumiu o comando do Manchester United, que já não era campeão desde 1967. Conquistando aos poucos o seu espaço como única autoridade na gestão do futebol, Ferguson demorou seis anos a construir uma das maiores máquina ganhadoras do futebol europeu. A partir de 1992, o Manchester United afirmou-se como grande dominador do futebol inglês, recebendo o testemunho do Liverpool, que nunca recuperou por completo das tragédias de Heysel e de Hillsborough. Ferguson teve tudo a ver com isso, e deixou-o sempre bem vincado: apesar de contar sempre com nomes ilustres no plantel, nunca hesitou em assumir os conflitos e mostrar que o verdadeiro poder era seu.
Em nome do colectivo e dos resultados, domesticou talentos e temperamentos. Sempre que isso se tornava impossível, a porta da rua era a única saída para quem ousava afrontar a sua autoridade. A chegada a Inglaterra de um fenómeno chamado Eric Cantona, conjugada com uma política consistente na «produção» de novos valores, valeu-lhe a conquista de quatro títulos em cinco anos, coincidindo com a injecção de dinheiro no futebol inglês graças aos acordos com as televisões.
O aparecimento de jovens jogadores formados no clube (Giggs, Scholes, Beckham, os irmãos Neville, Butt) era sempre acompanhado pelo enquadramento com figuras de referência: primeiro Bryan Robson, depois Cantona e Roy Keane, de seguida David Beckham, por último, na actualidade, Ryan Giggs. E a conquista da Liga dos Campeões, em 1999, foi a confirmação de que o seu talento de gestor e personalidade forte tinham devolvido o United à condição de grande na Europa.
A concorrência foi apertando e na viragem do milénio Ferguson sentiu problemas para se manter na crista da onda, com Arsène Wenger a trazer uma frescura que o velho mestre se sentiu obrigado a acompanhar. Vem daí a escolha de Carlos Queirós para seu braço direito, em 2002. Ferguson teve a humildade de reconhecer que podia aprender métodos novos na planificação do trabalho semanal, sem perder a autoridade, e a relação manteve-se intocável até à data, apesar do parêntesis provocado pela saída de Queirós para o Real Madrid, em 2004. O técnico português continua a ser o seu homem de confiança, e há ainda quem o veja como sucessor natural de Ferguson, caso este entenda chegada a hora da reforma.
A chegada de Mourinho a Inglaterra, já depois de, com a habitual visão, Ferguson ter apostado num jovem Cristiano Ronaldo para sucessor de David Beckham, fez com que «Sir» Alex perdesse algum protagonismo. Mas não o gosto pelas vitórias: os duelos mediáticos com Mourinho animaram grande parte das últimas três temporadas, mas o técnico escocês nunca esqueceu o essencial e foi capaz de reconstruir uma equipa ganhadora, mesmo no meio da turbulência da passagem do clube para mãos americanas, com a chegada da família Glazer, em 2005.

Palmarés de Alex Ferguson
No Manchester United
9 títulos de campeão inglês
5 Taças de Inglaterra
2 Taças da Liga
5 Charity Shield
1 Liga dos Campeões
1 Taça das Taças
1 Supertaça Europeia
1 Taça Intercontinental
No Aberdeen
3 títulos de campeão da Escócia
4 Taças da Escócia
1 Taça das Taças
1 Supertaça Europeia