Depois de ter conduzido o Estoril a uma qualificação europeia inédita, Marco Silva diz, em entrevista ao Maisfutebol, que é preciso continuar a dar prioridade à Liga.

Já tem noção do feito alcançado, ou ainda se belisca de vez em quando?

Temos perfeita noção do conseguido, algo inédito no clube. Sabendo que era muito difícil, nunca duvidámos que seria possível. A dado momento acreditámos que seria possível, e foi o culminar de muito trabalho. Parecia impossível no início, mas ao longo da época fomos percebendo que era algo que podíamos almejar. Garantida a manutenção assumimos esse objetivo, e todos juntos fizemos história. Fica marcado nas nossas carreiras.

Quando começou a pensar que era possível?

Há dois momentos: quando vencemos a Académica, ficando próximos dos 30 pontos, e a seguir, quando ganhamos em Vila do Conde. Lembro-me de ter dito aos jogadores que já não íamos olhar para trás, só podíamos olhar em frente, e isso significava pensar no 5º ou 6º lugar. Redefinimos o objetivos e conseguimos.

É um risco continuar no clube, consumando-se a saída da espinha dorsal da equipa?

A vida de treinador tem sempre riscos, seja qual for o clube ou o momento. No início desta época também havia um risco enorme, por termos sido campeões da II Liga daquela forma, depois de termos pegado na equipa em 15º lugar. Era um risco por ser a época de estreia na Liga. Equipas como o Estoril estão sujeitas a este risco, a perder os seus maiores ativos. Se calhar estamos a perder muitos jogadores de uma vez só, pois são jogadores fundamentais que estão a sair, e vamos ver se ficamos por aqui, mas é uma opção do clube. E eu, como treinador, tenho de respeitar. Estou sempre com os jogadores, e percebo que eles não podem desperdiçar estas oportunidades. E o meu trabalho também é valorizar os ativos do clube. Fico muito satisfeito por darem outro rumo às suas carreiras.


O plantel que subiu de divisão não foi muito alterado. Isso valoriza ainda mais o seu trabalho, até por ter sido também diretor desportivo?

Ficámos com 14 jogadores da época passada. Acabámos com o estigma de que uma equipa que sobe de divisão tem que acabar com o plantel e ir buscar jogadores com experiência. Fomos buscar alguns, que foram importantes nesse sentido, mas ficámos com catorze jogadores. Se os jogadores tinham qualidade na II Liga, e se fomos campeões da forma que fomos, por que não apostar neles? Já nos conhecíamos todos. Todo o trabalho de dois anos foi importante. Demos algumas pinceladas no plantel, mas por isso fomos uma equipa estável.

Por vezes a participação europeia acarreta riscos para clubes menos habituados a estas andanças. Quem tem o Estoril de fazer para evitar dissabores?

O principal objetivo tem que ser a Liga. Esse é o grande objetivo, cimentar o clube na primeira divisão. Temos uma participação inedita na Liga Europa, e queremos fazer a melhor figura, pelo clube e pelo país, mas não podemos entrar em loucuras. Será um erro concentrar todas as atenções na Liga Europa.


Terá que ser um plantel maior?

Mais extenso não, mas equilibrado, com boas soluções. Não com um núcleo de treze ou catorze jogadores, mas de dezoito ou dezanove, que nos permita ter duas opções válidas para cada posição.