Era cedo, 8 da manhã, mas a calma que reinava no aeroporto Sá Carneiro, no Porto, não iria durar. A Bandeira Nacional foi o primeiro sinal. Cerca de meia centena de pessoas, familiares, amigos, ou simplesmente admiradores de Sara Moreira foram chegando com um sorriso que se via ao longe. Além das cores nacionais, cachecóis verdes e brancos do Sporting, clube que a atleta representa. Depois chegou um enorme cartaz, com uma imagem da chegada à meta em Nova Iorque, que valeu o terceiro lugar, e um «Parabéns Sara», flores, e o filho da atleta, o pequeno Guilherme, de um ano, que Sara Moreira diz ser «a maior medalha».
 

Além do sorriso, o orgulho era visível no rosto dos pais da atleta. Fernando Moreira, o pai, contou aos jornalistas que era contra a participação de Sara na prova. «Achava que ela não tinha idade ainda para ela fazer a maratona, era a primeira vez que ela corria aquela distância, e ainda por cima aquela maratona, que é muito difícil». 

Sara Moreira foi contra a opinião do pai. Da mãe, Ascensão Fonseca, veio a explicação para a opção da atleta. «Ela precisava mesmo de correr. Esteve um mês só sem treinar, por causa da gravidez, mas estava com muita vontade de voltar e nunca mais parou».

«Ela dizia-me sempre: "eu vou lá, quero fazer um tempo 2h27m. não sei em que lugar vou ficar, mas tenho que ir"», contou Ascensão Fonseca. Sara acabou por tirar um minuto a essa marca pretendida e conquistou um terceiro lugar.

Apesar de longe, telefonava sempre à mãe a perguntar «como estava tudo com o menino, como tinha sido o dia na escolinha». Ausente do primeiro aniversário de Guilherme, que foi no sábado, dia antes da prova, pediu aos pais que fizessem uma festa. «Cantou-lhe os parabéns através do computador, muito emocionada», recordou Ascensão Fonseca, garantindo que «toda a família apoiou» a atleta nesta decisão.

De repente, no aeroporto começaram a ouvir-se palmas e gritos: «Sara, Sara». A atleta chegava finalmente e o olhar de imediato se virou para o filho. O sorriso que Sara Moreira trazia de Nova Iorque misturou-se com lágrimas de emoção, que contagiaram muitos dos presentes quando abraçou o pequeno Guilherme.

«Esta medalha foi um presente para ele», contou a atleta aos jornalistas. «Quero que um dia ele venha a saber o porquê de a mãe ter decidido faltar ao aniversário dele e que perceba que não foi em vão». 

O momento mais difícil? «Quando cheguei ao 3.º lugar, sozinha nos últimos seis quilómetros ter de gerir toda a ansiedade. A entrada no Central Park é muito dura e tive sofrer bastante para conseguir entrar em terceiro e depois acreditar que era eu que ia conseguir o pódio. Agora só tenho boas recordações, mas na altura custou-me muito».

Comovida com a receção, a atleta sentiu-se orgulhosa por ver «tanta gente a apoiá-la». «É uma sensação indescritível. Estou muito feliz», frisou.

«Ainda estou a recuperar. Fui para Nova Iorque sem pensar em marcas, queria usufruir o momento e foi isso que fiz. No final, o 3.º lugar deixou-me muito orgulhosa. Para mim é um momento histórico. Foi uma aposta minha e um desafio ganho e talvez tenhamos agora uma nova maratonista». Mas explicou depois: «Só por esta prova me ter corrido bem ainda não consigo decidir se serei uma maratonista ou não. Isso ficará para o futuro, até porque tenho de correr outra para perceber as sensações».

Pedro Ribeiro, treinador e marido da atleta, mostra-se mais confiante. «Foi a estreia dela na maratona, ainda por cima numa tão conceituada como a de Nova Iorque. Foi um resultado fabuloso. Está agora a começar nas maratonas, mas terá ainda muitos anos pela frente».