«Acho que precisa melhorar nessa questão da participação sem a bola, pressionar o zagueiro (ndr: central) do adversário»
MURICY RAMALHO, treinador do São Paulo, sobre Alexandre Pato

«Quero jogar!»
ALEXANDRE PATO, depois de ter marcado pela primeira vez três golos num jogo, frente ao Capivariano


Talvez não venha a ser a estrela que, pelos seus 18 anos, parecia vir a ser, mas volta a mostrar uma qualidade acima de qualquer suspeita.
 
Alexandre Pato, 25 anos, está a reencontrar no São Paulo o caminho para brilhar no futebol brasileiro e, quem sabe, voltar um dia ao grande futebol europeu.
 
Depois de anos de sombra (falhanço no Milan e desilusão no Corinthians, clube que pagou a maior quantia da história de um clube brasileiro por algum reforço, com os 15 milhões de euros desembolsados), Alexandre Pato volta, finalmente, a sorrir, agora no Morumbi.
 
Nos últimos meses, o avançado tem-se destacado como uma das referências ofensivas do «Tricolor» são-paulino: Muricy Ramalho sabe que tem nele um jogador que, a qualquer momento, pode decidir uma partida que esteja difícil para o São Paulo, embora nem sempre o coloque a titular.

Luís Fabiano,  o «Fabuloso», mesmo em declínio, continua a ser o «centro-avante» titular. Mas Pato e Kardec (ex-Benfica) são soluções atacantes muito utilizadas por Muricy.

«Eu quero jogar. Só depende de mim. Eu tenho de correr atrás, porque não gosto de ficar no banco. Então tenho de aproveitar todas as oportunidades que tenho», comentou Pato, a seguir aos três golos marcados ao Capivariano.

Já depois dessa partida, mereceu a titularidade, no encontro de sábado com o XV de Piracicaba, mas foi Fabiano a brilhar no triunfo do São Paulo por 2-0.

Miguel Lourenço Pereira, especialista em futebol internacional, comenta para o «Mundo Brasil» da Maisfutebol Total: «Muricy está a revelar-se muito importante na evolução de Pato, sobretudo no trabalho sem bola, e a chegada ao São Paulo vai ajudá-lo bastante a voltar à sua forma. Há poucos treinadores no Brasil com a capacidade técnica e motivacional do Muricy e se o Pato agarrar a titularidade vai ser um aumento de confiança importante para o futuro imediato. O que não deixa de ser curioso porque há dois,t rês anos ninguém imaginaria ver algo de lógica em Kardec e um veteranissimo Fabiano estarem á frente das opções técnicas que aquele que foi o ultimo menino bonito rossonero!»

«Aniversário» no São Paulo festejado com exibição memorável
 
Foi assim, por exemplo, no passado dia 4, em jogo que assinou exibição memorável, uma das melhores da sua carreira: em partida frente ao Capivariano, para a segunda jornada do estadual paulista, fez três golos (e ainda assistiu o ex-benfiquista Alan Kardec para o outro dos quatro golos do tricolor), sendo assim decisivo para a vitória 4-2 do São Paulo, apesar de nem sequer ter começado a titular.

«É a primeira vez que faço um hat-trick, vou levar a bola pra casa, pedir para a galera autografar e guardar.», assumiu, na altura, o avançado, de 25 anos.

OS TRÊS GOLOS DE PATO FRENTE AO CAPIVARIANO


 
O fator Pacaembu
 
A partida com o Capivariano, que assinalou o primeiro «hat-trick» da carreira de Alexandre Pato, foi realizada no Pacaembu, casa emprestada do São Paulo devido à indisponibilidade do Morumbi, mas reduto que é tudo menos estranho para o conceituado atacante: era o estádio que servia de «casa» nos jogos pelo clube que o acolheu no regresso ao Brasil, o Corinthians.

E o Pacaembu está mesmo a dar sorte a Alexandre Pato: cinco golos marcados nos quatro jogos feitos em casa improvisada: três ao Capivariano, um ao Coritiba e ainda outro ao Palmeiras.
 
A mudança milionária para Itália
 
Produto das categorias de base do Internacional de Porto Alegre, pelos 18 anos, no verão de 2007, protagonizou uma das maiores transferências da história do futebol brasileiro, ao abandonar o Colorado, assinando pelo AC Milan, de Itália, por 24 milhões de euros.
 
Era o auge de Alexandre Pato como promessa de futuro craque de topo internacional: em Porto Alegre, depois de se estrear pela equipa principal do Inter com apenas 16 anos, pela mão de Abel Braga, destacava-se como principal atacante.
 
Chegou a estar no Mundial de Clubes, em 2006, com apenas 16 anos (ainda que não tenha sido utilizado).
 
Mas o arranque do jovem craque na equipa principal do Internacional foi fulgurante: marcou no primeiro minuto da estreia (no Brasileirão 2006, frente ao Palmeiras).
 
«Especialista» em estreias, marcou em todos os primeiros jogos por cada competição que realizou pelo Internacional (Gauchão, Libertadores, Supertaça Sul-Americana e Brasileirão).
 
O falhanço no Milan

«Na Europa erraram na dose. Uma vez encontrei o Pato num hotel e fui falar com ele, que estava na piscina. Quando saiu da água, não acreditei. Disse que de pato ele não tinha mais nada, que estava parecendo um robô. Disse a ele que aquilo não era normal, mas ele me respondeu que lá no Milan era máquina todo dia. Um atleta forte é uma coisa, diferente de ser um atleta robô. No Inter, ele nunca se machucou, jogou um Mundial com 17 anos. Acho que erraram a dose com ele, da mesma maneira que erraram com o Ronaldo (Fenómeno)».
ABEL BRAGA, treinador que lançou Alexandre Pato no Internacional de Porto Alegre

Os anos no AC Milan foram de falhanço, muito por culpa das lesões.

Mas o talento sempre esteve lá, como prova este momento simplesmente fantastico em Camp Nou, que define a qualide de um avançado.

Foi a 13 de setembro de 2011, num empate 2-2 entre Barcelona e Milan, com Pato a abrir o ativo com esta obra de arte.

E ESTE GOLAÇO AO BARÇA, EM CAMP NOU
?


 
O regresso ao Brasil e a troca com Jadson

Sem vingar no Corinthians (clube que o contratou ao AC Milan, e m janeiro de 2013, por 15 milhões de euros), Pato protagonizou troca original com Jadson, em operação acordada entre o São Paulo e o Timão, antes do início do estadual paulista de 2014.

Lourenço Pereira avisa: «O Pato neste momento ainda é só suplente no São Paulo, atrás do Fabiano e Kardec mas tem dado indicações de que está a recuperar a forma que já exibiu no Milan. A sua é uma carreira curiosa, despontou talvez demasiado cedo e nunca teve continuidade e só agora com o "Tricolor" é que parece ter reencontrado as caracteristicas que o fazem realmente um jogador diferencial. Em forma, Pato é um dos melhores avançados do Brasil e é inevitável que entra nas contas de Dunga. Mas tem de agarrar a titularidade e garantir uma continuidade importante para voltar com regularidade à canarinha».

Por dois anos, até ao final de 2015, Pato está emprestado ao tricolor do Morumbi. No São Paulo, além de encontrar um exigente Muricy, tem feito parte de uma espécie de «quadrado ofensivo maravilha», com Luís Fabiano, Paulo Henrique Ganso e Alan Kardec.

Nem sempre dá para jogar com os quatro, mas todos eles são peças válidas para quem gosta de atacar...

PATO: VAI HAVER MAIS DISTO?
 


B.I.

ALEXANDRE PATO

Nome completo
: Alexandre Rodrigues da Silva

Data de nascimento: 2 de setembro de 1989 (25 anos)

Local de nascimento: Pato Branco, Paraná, Brasil

Altura: 1,79 metros

Peso: 78 quilos

Percurso: Internacional de Porto Alegre (2005-2007), AC Milan (2007-2013), Corinthians (2013-14), São Paulo (2014-??)

Principais títulos: Campeonato Mundial de Clubes da FIFA (2006), Sul-Americano Sub-20 (2007), Copa Sendai Sub-18 (2006), Recopa Sul-Americana (2007), Copa das Confederações (2009), Campeonato Italiano (2010/11) e Supercopa da Itália (2011)

Principais marcas individuais: Melhor jovem jogador do Campeonato Italiano, em 2009; Melhor jogador do mês do Campeonato Italiano, em janeiro de 2009; Artilheiro da Recopa Sul-Americana, em 2007; Melhor jogador do Campeonato Brasileiro Sub-20, em 2006; Artilheiro do Campeonato Brasileiro Sub-20, em 2006


«Mundo Brasil» é uma rubrica que conta histórias das experiências de jogadores e treinadores brasileiros que atuam ou já atuaram em campeonatos espalhados pelo globo