Kobe Bryant e Michael Jordan. Eles vêm de muito longe.



Kobe Bryant viveu sempre com a sombra de Michael Jordan. A olhar para cima, para o ídolo, que alimentou a comparação e lhe reservou um lugar especial entre a multidão de candidatos a seus herdeiros. Agora chegou o dia em que passou «His Airness» nos livros de estatísticas da NBA. Destronou-o do pódio dos melhores marcadores de sempre da Liga norte-americana de basquetebol, uma marca que chega aos 36 anos, ao fim de uma vida a jogar basquetebol. Vale o que vale e não será seguramente por isto que alguém vai atrever-se a dizer que Kobe é maior que Jordan. Mas também ninguém nega que ele atingiu uma marca brutal e está lá, entre os grandes. Uma das últimas referências da velha guarda, o último jogador da NBA que faz a ponte entre as glórias dos anos 90 e a atualidade.

É isso que Kobe valoriza neste recorde: estar entre os maiores. Foi ele próprio quem o disse, nos dias da contagem decrescente para a marca de Jordan. «Não é um objetivo que eu tenha definido. A parte mais divertida é estar na companhia do Michael e do Kareem e de todos os outros grandes marcadores. Fazer parte do grupo que cresci a idolatrar, a aprender e a aspirar ser como eles um dia é a verdadeira honra desta marca.»

Depois de atingir a marca, enfatizou o nome que sobressai entre todos, para ele e para cada fã da NBA. «É uma honra. Tentei aprender tanto com Jordan em particular. Ele foi uma parte tão grande do meu sucesso e da minha carreira, dando-me conselhos, oferecendo-se como meu mentor. Essa relação significou tudo para mim», disse Kobe à ESPN depois do recorde.

Kobe e Jordan foram contemporâneos, o primeiro a chegar, o último já depois de ter atingido o topo. Defrontaram-se 11 vezes em campo. Em 1998, o primeiro jogo «All Star» do base que jogou desde sempre nos Lakers foi também o último de Michael Jordan pelos Chicago Bulls, antes de se ir embora e voltar para jogar nos Wizards. Jordan revia-se no miúdo talentoso ambicioso e persistente que, assumidamente, tentava imitá-lo. Sempre elogiou Kobe, às vezes com humor pelo meio. Recentemente, quando lhe perguntaram se algum jogador da NBA atual conseguira vencê-lo num um para um, respondeu assim: «Acho que, se perdesse com algum, seria o Kobe Bryant, porque ele rouba todas as minhas jogadas.»

Na noite de domingo, Jordan foi dos primeiros a cumprimentar Kobe por ter batido o seu recorde, num comunicado enviado à Associated Press. «Cumprimento Kobe por ter atingido esta marca. Ele é obviamente um grande jogador, com uma forte ética de trabalho e uma igualmente forte paixão pelo basquetebol. Gostei de ver o jogo dele evoluir ao longo dos anos, e estou ansioso por ver o que consegue a seguir.»
 
Não foi o único, claro. Lendas do presente e do passado juntaram-se na vénia a Kobe neste momento.

Magic Johnson
 

 
 

LeBron James

 

A história de Kobe na NBA começou a 3 de novembro de 1996, frente aos Minnesota Timberwolves. E quis o destino que a marca chegasse frente ao mesmo adversário, pouco mais de 18 anos depois. Faltavam 5m24s para o fim do segundo quarto quando Kobe se posicionou para marcar dois livres. Ao primeiro alcançou a marca de Jordan, ao segundo passou-a: 32.293 pontos.

O jogo parou, por alguns minutos. Os Timberwolves juntaram-se à festa, enquanto Kobe recebia a bola com que chegou ao recorde. Ao seu lado Byron Scott, atual treinador dos Lakers, que fazia parte da equipa quando tudo começou para Kobe.




«Foi diferente. Estou tão habituado a ser o mau da fita nos jogos fora que levei um minuto a adaptar-me. Mas soube bem ser valorizado assim», sorria Kobe no final.

Kobe continuou em campo, para marcar mais 17 pontos e acabar o jogo com 26. A liderar os Lakers na vitória, por 100-94, e a manter a sua média, como um dos melhores marcadores da Liga esta época.

A marca de Michael Jordan tinha durado 11 anos. Foi em 2003 que o antigo jogador chegou ao pódio, de onde tirou na altura Wilt Chamberlain. Conseguiu-o aos 39 anos, em apenas 15 épocas. Kobe, que foi o jogador mais jovem de sempre na NBA, precisou de 19. E é claro que Jordan teria marcado muitos mais se não fossem as interrupções na carreira que decidiu fazer. Seja como for, o lugar agora é de Kobe, que fechou o jogo com 32.310 pontos. À sua frente Kareem Abdul-Jabbar, com 38.387 pontos, e Karl Malone, com 36.928.

O próximo desafio de Kobe é o de sempre, nos últimos anos. Tentar manter os Lakers à tona, tentar passar ao resto da equipa a sua ambição e a ambição do clube. Ele, que foi cinco vezes campeão da NBA no seu clube de sempre, tem essa persistência, que o fez regressar uma e outra vez de várias lesões terríveis. E tem essa obsessão por ganhar. Muito como Michael Jordan, nisso. E sem papas na língua. Ainda há dias, depois de mais uma derrota (já são 16 dos Lakers esta época), não se ensaiou para dar um raspanete aos companheiros, que acusou de serem «moles como papel higiénico».


Os marcos da carreira de Kobe