A felicidade não marca encontros com ninguém. Se alguém a quiser ver, tem mesmo de a procurar. Há quem dê de caras com ela, há quem corra o mundo inteiro e volte ao ponto de partida de braços caídos e bolsos vazios.

Nuno Marques faz parte do primeiro grupo. Há sete anos emigrou para a Noruega. Tinha ouvido que por lá havia muita gente feliz. Apanhou um avião, sem nada a perder, e projectou uma aventura «de um ou dois anitos».

Em 2010 continua a deliciar-se com a descoberta de uma realidade distinta, quase anacrónica. Viciou-se na felicidade escandinava, aclimatou-se a uma sociedade exemplar e só dá pela falta «do calor, da comida e do bom café».

Nada que o ser feliz não compense, como explica ao Maisfutebol. «Sair daqui? Só se encontrasse algo melhor. Para já, não encontrei. O meu filho nasceu cá, adaptámo-nos muito bem a isto e até concilio o futebol com a universidade. Jogo no Notodden e estou a tirar o curso superior de Economia.»

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«Porque não jogas em Portugal?»

Nuno Marques começou no Lyn, passou pelo Bryne e está desde 2008 no Notodden FK. Tem a sorte de viver apenas a 115 kms de Oslo, numa cidade «pequena e especial». «É quase uma aldeia. Tem uma rua principal, onde tudo acontece. Toda a gente vive para o futebol e para o festival anual de blues. Vêm cá pessoas de todo o mundo.»

A banda sonora desta longa-metragem de Nuno Marques na Noruega podia muito bem ser um blues: uma estrutura tocada em notas baixas, algo repetitiva, plena de emoção e despojada de qualquer sinal de irritação.

«Vivo uma vida calma, sem stress. Já falo norueguês na perfeição, passo os dias com o meu filho e a minha esposa, e sei que só não estou num clube superior porque sou português.»

Segundo explica, o povo norueguês olha com alguma desconfiança para os atletas vindos do sul da Europa. Na maioria dos casos, as experiências duram um ou dois anos. Nuno é, também por isso, um vencedor.

«Todos me perguntam porque não jogas em Portugal? É estranho para eles ver um não-escandinavo na baliza. De qualquer forma, só não fui titular nos dois primeiros anos. Porquê? O outro guarda-redes era melhor do que eu.»

28 graus negativos: apenas um Inverno suportável

Em Notodden nem o Inverno rigoroso incomoda o sangue lusitano de Nuno Marques. Embora as temperaturas cheguem aos 28 graus negativos, o ex-jogador do Benfica já sabe como manipular o frio.

«Há menos humidade e o ar é suportável. Diria que 15 graus negativos aqui assemelham-se a cinco graus em Portugal. As casas estão devidamente preparadas para enfrentar as agruras do clima e na rua todos sabem que tipo de roupa têm de vestir.»

A dois dias do Noruega-Portugal, Nuno Marques passa um domingo como outro qualquer. Abraça as gargalhadas do filho, aproveita os últimos raios de sol, desfruta da família e do ambiente de profunda bonomia.

A felicidade nunca teve encontro marcado com Nuno. Mas apareceu-lhe no lugar certo, à hora exacta.

Nuno Marques na baliza do Nottoden FK: