Num dos seu anúncios quiméricos, João Vale e Azevedo prometeu fazer do Benfica a espinha dorsal da Selecção Nacional. Mais de uma década depois, com as faixas de campeão investidas, apenas 11 jogadores do plantel das águias são produto nacional e desses somente dois fazem parte da equipa-base de Jorge Jesus: Quim e Fábio Coentrão.

César Peixoto, Carlos Martins e Rúben Amorim também foram utilizados com regularidade, embora sempre numa perspectiva de gestão e alternância com as pedras basilares do conjunto. Os números são preocupantes, num ponto de vista puritano e patriótico, e deixam antever uma escassa presença de jogadores do Benfica no Mundial, com a camisola da Selecção Nacional.

Imposição do futebol moderno? Sinais do tempo? Sim, um pouco, inevitavelmente. A frase de Vale e Azevedo nunca ecoou na realidade, conforme os nossos registos podem comprovar. No título de 2004/05, as evidentes limitações económicas ainda abriram espaço a oito jogadores portugueses no núcleo dos mais utilizados, mas essa época foi uma excepção na crescente cedência à mercantilização.

Basta comparar as equipas-base dos dois títulos anteriores para perceber que, nunca como agora, a equipa de futebol do Benfica foi tão pouco lusitana.

Equipa-base de 1993/94: Silvino; Veloso, Mozer, Hélder e Schwarz; Kulkov, Vitor Paneira, Rui Costa e João Pinto; Yuran e Isaías.

(seis portugueses no «onze», 16 no plantel)

Equipa-base de 2004/05: Quim; Miguel, Luisão, Ricardo Rocha e Dos Santos; Petit, Manuel Fernandes e Nuno Assis; Geovanni, Nuno Gomes e Simão.

(oito portugueses no «onze», 14 no plantel)

Equipa-base de 2009/10: Quim; Maxi Pereira, Luisão, David Luiz e Fábio Coentrão; Javi García, Ramires, Di María e Aimar; Cardozo e Saviola.

(dois portugueses no «onze», 11 no plantel)