Quinze horas! Esperei 15 horas para pensar (e escrever) com clareza. Tinha de tomar uma decisão nesta encruzilhada. Raios partam aquele jornalista inglês com cabelo à Michael Bolton (é um exagero, mas está a apetecer-me ofendê-lo) que acredita que o Arsenal é a segunda melhor equipa do mundo a seguir ao Barça e que me acusou, em tom insolente, de não ver bem a realidade por ser adepto de Mourinho. Bullshit!

Um Special One adora-se ou detesta-se. Não há meio-termo. Na-na-ni, na-na-não, ficas tu e eu não! Sei que sempre vou estar no primeiro grupo. Qual a dúvida? Já o futebol de Mourinho pode também deixar-nos a todos felizes ou incompletos. E aí, perdoem-me, mas não sou italiano. Até falo mal a língua. E falo baixinho, sem ser com gritos de fazer parar o trânsito ou risadas de abanar catedrais. Capice ? A verdade é que o Inter nem sempre foi ESTE todo o tempo, nem sempre usou as mesmas armas, foi moldando-se consoante adversário e momento. Em Londres e em San Siro com o super-Barça mostrou a outra face, para no Camp Nou e com o Bayern voltar a fechar-se sobre si mesmo, quase domado e dócil, apenas com a ponta envenenada de fora.

Num jogo imperfeito, com um ambiente inigualável, deixei que aquela defesa impossível de Júlio César, os 90 minutos de Cambiasso e o talento de um ponta-de-lança argentino, que nasceu literalmente numa grande área italiana, completassem na minha mente um futebol com lastro pesado, pensado ao cm2 para somar vitórias. Fiquei feliz. Fiquei imparcialmente feliz!

Diego Milito

Diego Milito

Diego Milito facci un gol!


Ninguém é o dono da verdade! Todos sabemos isso. E quantas perspectivas temos todos da mesma coisa? Por que não há-de valer tanto o tiqui-taca de Xavi, Iniesta e Messi até à explosão final como os dois golos de PlayStation de Milito a Butt. Se estivesse em casa até podia ter atirado o comando ao televisor! Quando é que fazem estes Van Buyten e Demichelis mais inteligentes, pá? Estes jogos já podiam ser mais realistas. O futebol não é assim! Mas foi... Quantas vezes nos queixámos antes da falta de profundidade do jogo português? Os tais 30 metros que se repetiram vezes sem conta, mesmo quando o problema eram 50 ou 60? As balizas estão lá para alguma coisa, pá! Claro, o Barça está mais perto do topo numa escala de perfeição, mas não se resume tudo a Guardiola. Há toda uma cultura que o possibilita. Um microclima, onde tudo cresce e floresce, e é só preciso adubar e controlar parasitas. Talvez seja redutor para tão bom trabalho de Pep, mas conseguiria tanto noutro lado?

É óbvio que se não fosse Mourinho já teria riscado esta Champions do meu mapa. Teria saído do meu lugar a insultar toda a equipa menos o enorme Zanetti (e quem o fizer tem de se ver comigo, ouviram?) e cuspido asneiras em italiano profundo.

Tra i nerazzurri c`è

Un giocatore che

Dribbla come Pelé

Dai Zanetti alee eh oh


Ah, Mourinho é mesmo o Special One! Daqui a 10 anos - e não precisam de escrevê-lo porque já o estou a fazer; imprimam, coloquem nas paredes e sublinhem com canetas berrantes - podemos mesmo estar perante um dos maiores técnicos de todos os tempos. Só que estamos uma distância demasiado próxima para ver com segurança os contornos, estamos perto de mais para conseguir focar. Mais do que ter mudado o jogo, porque outros o fizeram bem antes, alterou e muito a percentagem de responsabilidade de um treinador no sucesso da sua equipa.

Será mais importante do que Ronaldo em Espanha? Mais ofuscante que Messi? Não o é já? Por agora, só tu me fazias defender o calcio. Raios te partam, Mou!