Na estreia como selecionador português Fernando Santos decidiu implementar logo um desenho tático que é do seu agrado há muito tempo. Mas se em teoria o 4x4x2 losango parece reunir condições para enaltecer os pontos fortes da equipa das quinas, a verdade é que no primeiro ensaio, em Paris, viu-se sobretudo o principal ponto fraco.

Sem ignorar alguns sinais positivos, o jogo com a França mostrou, no entanto, o agravamento de um problema que se arrasta há muito tempo, e que está relacionado com a cobertura dos flancos, com o apoio aos laterais.

As memórias mais imediatas deste desequilíbrio são os jogos com a Dinamarca, no Euro2012, e com os Estados Unidos, no Mundial2014. A capacidade física de Raul Meireles nem sempre deu para tapar este buraco (mas muitas vezes o conseguiu, mérito lhe seja dado), mas ainda para mais a Seleção tem agora o problema duplicado do lado contrário, por força da mudança de desenho tático. Se antes era uma questão de compensar a ausência de Cristiano Ronaldo no processo defensivo, agora o lado direito também não tem extremo para ajudar o respetivo lateral.

É quase utópico pedir a uma equipa que seja coesa defensivamente com apenas três jogadores na segunda linha defensiva, ainda para mais quando se pede a dois deles, os interiores, que tenham de fechar os corredores. João Moutinho e André Gomes sentiram, no Stade de France, aquilo que Meireles sentiu tantas e tantas vezes: que perante a necessidade de equilibrar a equipa ao centro, numa primeira fase, acabava depois por chegar tarde ao flanco, quando o adversário canalizava o jogo para lá. E perante tal desorientação e desgaste desnecessário ficou prejudicada também a construção de jogo.

«Faltou um elemento intermédio para sair às laterais, os jogadores estão habituados a ter extremos», disse Fernando Santos no final do jogo, com a habitual (e louvável) disponibilidade para falar abertamente do que se passou no relvado. 



Uma das formas de tentar resolver o problema seria defender em 4x5x1, deixando Danny a fazer a primeira pressão e ter Ronaldo e Nani a fechar os flancos. Mas isso, lá está, implicaria pedir ao capitão uma contribuição defensiva que ele não consegue dar (nem deve, na verdade).

Descartada esta possibilidade, portanto, a outra alternativa seria defender em 4x4x2. Deixando Ronaldo e Nani na frente, e pedindo a Danny que recuasse para uma segunda linha defensiva, algo a que o jogador do Zenit não está habituado. No emblema russo ou joga pela esquerda e fecha esse corredor, ou então atua como «10» e faz a primeira linha de pressão ao lado do ponta de lança. O que pode fazer com que Danny venha a perder a titularidade para um médio com características diferentes (Moutinho, André Gomes ou João Mário), que dê outras garantias defensivas.

Um dilema para Fernando Santos resolver num curto espaço de tempo, perante uma mudança de desenho tático que pode favorecer Cristiano Ronaldo, mas no contexto certo. Em jogos de maior dificuldade, nos quais seja mais frequente ver Portugal sem bola, faz sentido ter o capitão como referência ofensiva, com liberdade para procurar o contra-ataque. Ronaldo a «9», mas em «part time». A aparecer na área de vez em quando, como faz no papel de extremo, e não a fixar-se lá.  Em jogos com Albânia, Arménia ou adversários de nível semelhante será um erro ter Cristiano Ronaldo como jogador mais adiantado, escondido nas muralhas defensivas que normalmente se erguem.

Dar liberdade ao jogador do Real Madrid faz sempre sentido, e até dispensá-lo de obrigações defensivas mais exigentes (terá sempre de fazer a primeira linha de pressão, pelo menos), mas nesses jogos de claro favoritismo luso faz falta uma outra referência ofensiva – mesmo em 4x4x2 losango), que ainda está por encontrar.

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter