O clássico prometeu muito mas acabou convertido em desilusão. Também pelo nulo que não se desfez, mas acima de tudo pelo fraco espetáculo proporcionado por aquelas que são (é bom lembrar) as duas melhores equipas da Liga.
 
Alguns nulos valem mais do muitos jogos cheios de golos, mas não foi o caso. E se os duelos táticos podem ser fascinantes narrativas de ação e reação, neste jogo de xadrez não houve reis em xeque, apenas peças de cores diferentes encaixadas a meio do tabuleiro.
 
Ambos os técnicos decidiram trocar alguma largura e verticalidade nas alas por maior equilíbrio na zona central. Mas se a mudança promovida por Jorge Jesus acaba por ser forçada, dada a lesão de Salvio, já Julen Lopetegui prescindiu de Ricardo Quaresma por opção.
 
É certo que o treinador do Benfica podia ter optado por Ola John, mas preferiu puxar Anderson Talisca para a ala. Uma aposta sobretudo defensiva, com o brasileiro a ajudar na zona central mas preocupado essencialmente em controlar a subida dos laterais portistas, e em particular de Danilo.
 
Com Gaitán quase sempre descaído à direita, e com tendência natural para procurar também a zona central, o Benfica teve muito menos largura do que é habitual. Anulado o ponto mais forte, a capacidade para jogar pelo corredor central, por força do sobrepovoamento dessa zona, faltou também a alternativa.
 
Julen Lopetegui pensou de forma semelhante, recuperando Óliver Torres para o papel de falso ala, mas o que acabou por surpreender mais foi a decisão de deixar Quaresma de fora, provavelmente o segundo melhor jogador da equipa por estes dias.
 
Também neste caso a aposta pode ter funcionado do ponto de vista defensivo, do equilíbrio, mas retirou qualidade à equipa para desatar o nó na zona central. E ainda para mais Lopetegui decidiu também prescindir de Herrera, mantendo apenas Casemiro do tridente habitual.
 
Se no plano inicial as cautelas foram idênticas, é justo referir que nas substituições foi Lopetegui quem assumiu maior risco. Mas também porque ao prescindir inicialmente de dois habituais titulares (Herrera e Quaresma) reforçou a superioridade dos «trunfos» relativamente ao adversário. Lopetegui ainda lançou Hêrnani e Jesus manteve-se fiel à preocupação com o equilíbrio, como atestam as entradas de Fejsa e André Almeida, com Ola John chamado ao jogo apenas em período de descontos.
 
Nesta medida talvez o treinador do FC Porto tenha feito mais por alcançar a vitória, mas até lembrando a questão da desvantagem no confronto direto fica a sensação de que o risco assumido foi proporcionalmente inferior à importância do jogo para a equipa azul e branca. O empate não deve saber a vitória para o Benfica, que podia ter deixado o título praticamente arrumado, mas se deixa um travo a derrota é na boca do dragão.
 
E naquela cena final, a levar o duelo entre treinadores para além do plano desportivo, só veio reforçar a ideia de que Lopetegui sai pior do que Jesus na fotografia do clássico.

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.